Aos dezesseis anos fui sequestrado por colega no colégio, e para isso ele não precisou mais que um livro fininho, o Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels.

Virei revolucionário, crendo que o mundo tem dívida histórica com o proletariado, e essa dívida só podia ser paga com a tomada do poder pelo Partido Comunista, que para isso precisaria instalar uma ditadura.

Quando em 1968 entrei para a faculdade de Letras, ao mesmo tempo cursava o Tiro de Guerra - e podia pedir dispensa do serviço militar, mas queria me preparar militarmente para a guerrilha. Pois já militava num dos tantos partidinhos clandestinos que sonhavam derrubar com uma guerrilha a ditadura militar, e, como eram todos marxistas, instalar depois uma ditadura do proletariado.

Bobo de acreditar que poderia ser chamado para a guerrilha que diziam em preparação, passei seis meses de mochila pronta para consumar o sequestro mental com sequestro total, ir para a clandestinidade nem despedindo da família.

Comecei a esquecer a mochila e duvidar da fé marxista numa reunião estadual do partidinho, quando alguém, que não parecia estudante, foi apresentado como “do setor operário” mas, depois num intervalo, em conversa informal revelou que apenas ele era todo o nosso setor operário... Seria minha primeira evidência de que as revoluções marxistas foram todas lideradas por burgueses.

Em 1970 também me ajudou a abrir os olhos o doutor Vergara, jornalista desta Folha de Londrina: me ouvindo falar que gostaria de viver num país socialista, e disse que então eu teria de procurar emprego, porque em todo país socialista havia um só jornal. As fichas caem com poucas palavras.

A realidade também foi mostrando ao repórter que não havia porque crer na receita marxista de ditadura com um só partido, e com posse e controle total da economia, enquanto o povo soviético continuava em filas de racionamento para custear imensos arsenais.

Depois, como redator publicitário, descobri que, além dos trabalhadores, a sociedade de sustenta com os empreendedores e suas empresas geradoras de empregos e dos impostos que sustentam os poderes públicos, como são principalmente os anunciantes que sustentam a liberdade de imprensa.

O tempo também mostraria que, depois de 70 anos no poder, a receita marxista faliu em toda a vintena de países onde foi implantada, legando nações de povo empobrecido e elites cultivadas, coisa ainda em processo nas poucas nações que se dizem socialistas e onde Marx ainda é oficialmente venerado.

Hoje vejo que o marxismo crê em se renovar emprestando da sociedade as bandeiras de justiça social e igualitarismo, mas continua a trafegar com cegueira para o atual e saudade do que nunca existiu.

Vale lembrar que, ainda como repórter, conheci também o cooperativismo, mestiço de capitalismo empreendedor e regulado, e socialismo livre e produtivo, e passei a acreditar nesse caminho que só cresce no mundo.

E só agora, escrevendo isto, vejo que passar do marxismo para o cooperativismo é que foi uma revolução e tanto.

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A oinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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