Em festa de casamento os garçons não deixam cálice vazio mas aquele cara recusou até o champanhe do brinde, disse que não podia beber nem uma gota. Porque, perguntou alguém, e ele explicou tristemente:

- É que eu bebo e começo a rir, rir muito, sem parar... – e, diante das nossas caras de descrença, suspirou tomando a decisão de contar:

- Na última vez que aconteceu, só para terem uma ideia, eu estava num bar, numa mesa com mais três, e comecei a rir, rir alto, rindo tanto que meus amigos me pediram pra parar, aí é que ri mais ainda! Um deles olhou no relógio e disse que tinha de ir. Os outros dois ficaram me olhando rir, até que das mesas vizinhas começaram a protestar.

Ele suspirou fundo de novo e continuou:

- Veio o garçom chefe pedir para eu parar de rir, e o que é que eu fiz? Ri mais ainda, eu não conseguia parar de rir! Depois veio o dono do restaurante, também muito educado e, quanto mais me pedia respeitoso para eu parar de rir, mais eu ria! Cheguei a engasgar de tanto rir e todos em volta se aliviaram, ufa, finalmente, mas foi só desengasgar, beber um gole de água e... voltei a rir!

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Então ele bebeu um gole de água e continuou muito sério:

- Meus amigos falaram que eu devia ir para casa, e eu rindo, eles então pagaram suas contas e foram embora. Fiquei pagando minha parte da conta, o que não foi fácil porque não parava de rir, e com isso já me esperava lá fora uma viatura policial chamada por causa de, conforme o sargento, “altercação no ambiente”. Quando ele me pediu documento, dei rindo e fiquei rindo, ele avisou: ou o senhor para com isso ou vamos ter de deter por desacato. E aí é que eu ri mesmo!

Ele suspirava fundo lembrando:

- Me levaram na viatura, eu sempre rindo. O cabo falou comigo, ri, o motorista falou comigo, ri, ninguém mais falou comigo e fui rindo. Na delegacia, um policial perguntou porque eu estava rindo, e era como se me dissesse pra rir mais. É desacato, falou o policial, e o sargento falou que só não fazia eu engolir o riso porque hoje tem câmera pra todo lado, e isso me fez rir ainda mais! Então apareceu o delegado, ri do delegado, supremo desacato, acabei no corró, a cela dos detidos no dia. Mas o delegado me procurou no Google, viu que sou um cidadão de bem, falou que eu devia chamar advogado se quisesse sair dali.

Ele concluiu vexado:

- Liguei pro advogado que ele indicou, o advogado chegou e eu ri dele também! No fim das contas, só no dia seguinte, de ressaca, a risadeira parou. Os detidos no corró me xingaram a noite inteira porque eu ri até amanhecer! E o pior é que não sei quando a coisa vem, pode ser no último ou no primeiro copo, por isso resolvi: nem mais uma gota!

É sério, ele falou, e continuou sério. Ainda bem, disse alguém, e, por via das dúvidas, nós nem sorrimos. Aí voltou sua mulher que tinha ido a outra mesa e chamou para irem embora, e para nós:

- Até outra! E ele não ficou contando pra vocês algumas das histórias que ele adora contar, né?

Não, falamos, ele é um homem sério, não é? Ela não respondeu e ele piscou e se foi, muito sério.