Com quinze anos, encarei meu primeiro trabalho remunerado na vida, em pastelaria numa feira comercial e industrial, entre desde móveis a tratores. A pastelaria era num box com divisória, na frente o balcão e no fundo a cozinha, e, quando a feira encheu de gente, conheci meu primeiro suor de trabalho. Depois de semana vendendo pastéis e refris, peguei meu primeiro dinheiro suado, a maior bolada até então nas minhas mãos, e gastei tudo rapidinho numa barraca de roleta. Comecei ganhando algumas rodadas e, quando comecei a perder, continuei a jogar crendo que ia voltar a ganhar, ainda desconhecendo que jogos de azar são chamados assim porque a maioria das chances de ganhar são sempre a favor da banca.

No dia seguinte, meu pai perguntou o que eu ia fazer com meu primeiro dinheiro, contei o que já tinha feito e ele riu dizendo que, se eu aprendesse com aquilo, já estaria bem pago. Eu já tinha a altura de hoje, mas então cresci por dentro, descobrindo que não basta ganhar dinheiro, há que cuidar do que se ganha.

Eu já começara a ser educado financeiramente por Vó Tiana, que tinha um pé-de-meia, uma meia solteira onde enfiava moedas e escondia no seu quarto. Quando, com o vô ausente, era preciso um dinheirinho de repente, ela entrava no quarto fechando a porta, voltava com o pequeno pé-de-meia que porém mostrava então toda sua importância.

Mas Vó Tiana foi para aquele país sem dinheiro, e aos doze anos passei a ser deseducado por mesada dada pela mãe. A primeira mesada gastei em doces e sorvetes em dois dias, e depois continuaria a tratar dinheiro como coisa que passa pelas mãos para conseguir as coisas do momento. Ganhava fácil, gastava fácil. Só fui sentir a dorzinha pelo dinheiro saindo de mim quando na pastelaria trabalhei para ganhar.

Quando meu romance juvenil A Árvore Que Dava Dinheiro, foi publicado em 1981, ninguém falava e quase nada se lia sobre educação financeira, que hoje é disciplina escolar. Na net muita gente diz o que fazer com nosso dinheiro, há mestres aos montes e muita gente gastando tempo a apreender tanto e nada colocar em prática. Gastam tempo porque, sem praticar, nada perdem mas sempre também nada ganham (embora mantendo assim uma relação com educação financeira, como os tantos que se dedicam à jardinagem e floricultura virtualmente, caçando e repostando fotos e informações de um imenso jardim inexistente. Ecologistas então, há milhões que não se perguntam sobre o que fazer com o próprio lixo mas assinam abaixo-assinados pelo mundo e se acham militantes.)

Se só a prática nos faz crescer por dentro, para assim fazermos sempre melhor, é evidência de que os humanos vivem evolução constante, basta ver que os castores fazem sua casa do mesmo jeito há milhões de anos e nós temos desde casebres e palafitas até edifícios como os de Dubai, enquanto adolescentes podem investir e gerir seu dinheirinho pela internet. O porquinho das moedas vai virar bitcoins na evolução financeira, tostão por tostão.

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