Dá saudade da matança do porco, escreve o leitor José César Vidotti: “A maioria dos sitiantes pioneiros criava porcos, e geralmente o escolhido da vez era o cachaço, já meio velho. Castrava-se o bicho para ficar num chiqueiro, a ceva, sendo bem mais alimentado para engorda, e no dia da matança era uma festa.

“Castrar ou capar o porco era coisa para algum vizinho traquejado, e, se fosse uma porca velha, vinha vizinho de mais longe, por ser coisa de mais conhecimento e jeito. Os cães ficavam alvoroçados, pois sempre sobrava algo para eles e os vizinhos ficavam no aguardo porque sempre recebiam uma partezinha do porco, com o compromisso costumeiro de também presentear quando também matassem seus porcos, era uma grande parceria.

“Como não havia geladeira, era preciso retalhar e consumir logo, ou conservar partes do porco como linguiça, copa ou cudiguim, a linguiça cozida dos italianos. Os melhores pedaços eram comidos logo, como lombo e pernis, e também eram fritos para conservar em latas de banha também do porco, como também se guardava banha para cozinhar tudo mais durante meses.

“As linguiças, pra curtir, eram penduradas em varais altos de bambu, amarradas por barbante, no paiol onde se estocava o milho, pra não ficarem no alcance de animais e ratos. Depois de dois ou três meses, ficavam cobertas de mofo, sinal de estarem prontas para ser saboreadas, e como tinham sabor!”

Essas lembranças me foram enviadas num dia, no dia seguinte vi o video Pioneiras de Londrina, trabalho de conclusão de curso de Katia Peruzi, no curso de Comunicação da UEL, com coordenação do professor Ossamu Nonaka - e com imagens preciosas e entrevistas de quatro pioneiras, Aya Ono, Elysabeth Lesdorf, Jesuína de Souza Abreu e Nair Páglia Piacentini. Esta declama – de memória – seu longo poema Pioneiras de Londrina, que compara as pioneiras a heroínas.

No vídeo, a historiadora Edimeia Aparecida Ribeiro lembra que as mulheres trabalhavam na dimensão da vida privada, nas casas, enquanto os homens tinham vida pública, nos empregos e negócios, daí decorrendo que os pioneiros são tidos como heróis da colonização e elas não são lembradas. Mas eram elas que, além de cuidar da casa e dos filhos, e da comida e da limpeza, e das roupas e dos animais domésticos, levavam marmitas para a roça, onde muitas vezes também batiam enxada antes de voltar para casa.

Dona Aya conta que, verdureira cinco dias da semana, sábado e domingo ainda ia às primeiras favelas vender fiado as verduras, muitas vezes ficando sem receber, “aí chorava, chorava”. Minha sogra, dona Lúcia, tem a coluna muito torta de tanto lavar roupa em beira de rio, tortamente curvada. E a abanação de café com peneira, na maioria das fotos e filmes históricos, é feita por mulheres, por ser “trabalho de força e jeito”. Como era preciso jeito para lidar com fogões a lenha, num tempo sem panelas de pressão...

O documentário as chama de heroínas, até porque falam daqueles sofrimentos sem pesar, só com alegria e saudade. Estão no Youtube, em aula permanente de Vida.

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