Roça, agro e sertão
É uma dádiva ver a transformação do que hoje chamamos Agro, que vai da agricultura de subsistência às tec-fazendas.
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sexta-feira, 07 de abril de 2023
É uma dádiva ver a transformação do que hoje chamamos Agro, que vai da agricultura de subsistência às tec-fazendas.
Domingos Pellegrini
A agricultura levou mais de dez mil anos para chegar à mecanização, depois umas poucas décadas para as colheitadeiras com ar condicionado, e em menos de década surgiram os drones nas plantações.
Há menos de século o Norte do Paraná era coberto de matas, que nossos pioneiros devastaram sem consciência ambiental. Eles eram do tempo da roça, quando a floresta era vista como obstáculo natural à civilização, precisava ser derrubada.
Um século antes, o multicientista Humboldt já alertara que tudo é interdependente, plantas e bichos, terra e céu, e toda alteração humana no ambiente mexe com toda a teia da natureza e do planeta.
Então sem a floresta a terra-vermelha ressecou, com seus lençóis de água baixando muitos metros para fugir do sol.
Aquela terra dava legumes maiores que nenês, como mostrava a propaganda da colonizadora, mas isso se via só em beira de mata e em terra sem queimada.
Com sol e fogo a fertilidade ancestral assim foi perdida, enquanto a palavra ecologia, apesar de criada por Ernest Haeckel em 1866, nessa época era nada falada, a consciência ambiental era a grande ausente nos empreendimentos.
É uma dádiva ver a transformação do que hoje chamamos Agro, que vai da agricultura de subsistência às tec-fazendas. Torço para que as fazendas sejam tão técnicas quanto humanas, e que a subsistência se torne negócio ou cooperativa, alimentando o mercado, essa invenção que criou as estradas e as cidades.
Menino vivi o tempo em que o consumo de produtos hortigranjeiros era parco e restrito, como o conforto era pouco. Na minha infância a casa da nonna não tinha geladeira, tinha guarda-comida com telinha de arame, e vivi para hoje ver geladeiras totens de tecnologia.
Mas a ideologia cega para as tecnologias: vejo na net gente maldizendo o Agro, como se fosse um monstro e não um setor da economia cheio de facetas em transformação.
Ideologias precisam de inimigo monstruoso, como o capitalismo é para a esquerda e o comunismo para a direita, e visando o monstro os militantes não vêem a vida e seus fatos em redor.
Assim quem se diz progressista não vê que sem empresas não haveria sociedade moderna, e quem se diz conservador quer um país de empresas sem leis.
Todos os países desenvolvidos se tornaram o que são a partir de reformas agrárias, mas aqui esse fundamento social virou indústria política de colocar na terra gente da cidade com carência de assistência técnica, assim condenados apenas à subsistência.
Consola pensar que Londrina sediou uma colonização geradora de resultados, através da Companhia de Terras, que quem dera fosse replicada em mais terras como empreendimento de capital e trabalho em harmonia.
Quero viver para ver sem-terra virar agro e latifúndio ser motivo de vergonha.
Vivendo num condomínio em área rural, num país de tantas postergações e adiamentos de tudo que é público, muito me admiro com a presteza e a precisão com que se sucedem as plantações.
E continuo vendo que neste tempo tec, como lá no tempo do sertão, para qualquer coisa dar certo, antes de tudo é preciso gosto e vontade de trabalhar.
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