Alguém pergunta por que tem nome de Marechal Rondon o Bosque Central de Londrina. A biografia de Rondon, escrita por Larry Rohter, atesta ser muito honroso receber tal nome, como também são nomeadas cidade, rodovia, aeroporto, bairros e escolas pelo país todo e o Estado de Rondônia, além do Meridiano Rondon, um reconhecimento internacional.

Com pai pobre descendente de bandeirantes e mãe índia, Cândido Mariano da Silva Rondon nasce em 1865, em Mimoso, povoadinho perdido no então sertão norte de Mato Grosso, e já aos dois anos é órfão de pai e mãe. Criado por um tio em Cuiabá, estuda de cotovelo em balcão de armazém mas também nada muito no rio, pesca e caça e, com os índios, aprende as plantas de comer e de curar, com o que depois salvará muitos de seus comandados.

Aos 16 anos se alista e, por mérito, chega à Escola Militar do Rio de Janeiro, onde se forma em Ciências como aluno destacado. É daqueles de fazer contas complicadas de cabeça, e ali começa o costume de acordar às quatro para ler, apaixonado por astronomia e botânica. É tenente quando, participando do grupo de oficiais republicanos que derruba a monarquia, passa a noite galopando para levar mensagens de articulação do golpe militar, armado com revólver que hoje está em museu.

A partir de 1890, já casado com Francisca Xavier - a Chiquita com quem teria sete filhos - Rondon chefia missões para implantar cinco mil quilômetros de linhas telegráficas em Mato Grosso e Rondônia, tornando-se mito nacional. Mapeia muitos rios, em expedições que duram até dois anos, fincando milhares de postes ao longo de mata cerrada e até no terreno instável do Pantanal, espantosas façanhas que ele credita apenas a seus homens.

“Seus homens” são soldados rebeldes ou índios que ele, tratando como gente, conquista com seu exemplo de trabalho e humanidade. Instrui seu pessoal para jamais revidar ataques de índios, criando o lema “morrer se preciso for, matar nunca” – e ele mesmo escapa de morrer, alvejado por flecha envenenada barrada pela bandoleira de couro. Seus postos telegráficos, operados por jovens índios que rapidamente se tornam telegrafistas, virarão cidades.

Com cientistas convidados, coleta plantas, insetos, animais e peixes para muitas pesquisas e museus do mundo, além de coleções de artesanato e arte indígenas. No começo do século 20, é mito nacional, símbolo de um Brasil humanista e empreendedor. E se torna mundialmente famoso ao guiar em expedição amazônica o ex-presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, então autor de livros best-sellers. Deparando com fortes corredeiras, por exemplo, todos pensam em desistir mas Rondon inventa de ultrapassar esses trechos abrindo quilômetros de trilhas pela beirada do rio, e nelas rolando sobre toras as canoas vazias, a maior das quais pesando uma tonelada.

Foi idealizador do Serviço Nacional de Proteção ao Índio, hoje Funai.. Sua popularidade era tal que duas vezes lhe ofereceram ser candidato à presidência da República, mas ele recusou. Aposentou-se sem penduricalhos e se dizendo grato e orgulhoso de ter servido à pátria para Ordem e Progresso. Nosso Bosque tem um nome de que também se orgulhar.

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