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. | Foto: Fábio Alcover/ Divulgação

Fui ser vacinado e fiquei feliz com Londrina, senti orgulho de ser pé-vermelho. Noticia-se que a vacinação aqui não é das mais rápidas, mas tudo estava tão bem montado e o atendimento foi tão ágil e eficiente que vi muita gente emocionada. Não chorei na picada mas chorei depois, contando em casa que me senti cidadão de Primeiro Mundo, um choro cidadania. (E escrevendo isto temo que já me pespeguem rótulo de belinatista, como se fosse mérito só do prefeito e todo elogio, como se fosse medalha, precisasse ter portador.)

Quando nosso sistema público de saúde se mostra tão vital para a própria civilização, senti orgulho de Londrina ser pioneira do SUS, com sua saúde pública já se montando a partir do nosso primeiro postinho de saúde na Vila da Fraternidade em 1970. Lembrei dos professores médicos da UEL, que ali se empenharam no que depois a Constituição de 88 consagraria como “direito de todos e dever do Estado”, a saúde de todos e de cada um.

Senti orgulho da cidade que, já em 1968, antes mesmo das capitais estaduais, passou a votar contra a ditadura começada em 64.

Senti orgulho de ter nascido numa cidade que cresceu vencendo desafios e acolhendo gente, dos imigrantes do mundo todo aos migrantes do país inteiro.

Orgulho por uma cidade pioneira também em planejamento urbano, que preservou seus fundos de vale, implantou lagos e um Calçadão também pioneiro no interior do Paraná.

Senti orgulho por nossa cidade de tantas transformações mas ainda com seu primitivo Bosque Central. Orgulho da nossa universidade pública com seu campus onde, no começo, chegava-se pisando em barro mas com horizonte por todo lado, como devem ser mentalmente as universidades.

Senti orgulho pelos nossos festivais, que começaram em mesas de bar e foram adotados pela cidade como patrimônio vivo.

Senti orgulho pelo Instituto Filadélfia onde cursei colégio e se tornou universidade numa cidade universitária.

Senti orgulho pelo Grupo Escolar Evaristo da Veiga, em cujo terreiro corri menino (sim, terreiro; e o grupo escolar era de madeira, um galpão comprido se bem me lembro, mas jamais esqueci a primeira professora, o primeiro elogio de que eu escrevia bem...).

O orgulho nacionalista ou racista já alimentou guerras e massacres, é o orgulho ruim, como há colesterol bom e ruim. Orgulho bom é este de sentir amor por sua terra sabendo que ela devolve teus impostos em bons serviços públicos, obras novas e restauração das velhas, até mesmo na forma de flores.

Há quem ache que a jardinagem das ruas podia ser deixada “para depois”. Mas depois do que? Depois da pandemia quando as flores são ainda mais necessárias? Devem custar bem pouco e sinalizam vivamente que sempre é possível melhorar, não deixar como está, florir!

Sinto orgulho por Londrina sempre se recusar a desistir, negar-se a se acomodar, dar-se por vencida, envelhe-ser. Então a vacina me pegou bem na veia pé-vermelho, trazendo a certeza de que nossa terra de novo não só vai superar como vai se transformar como sempre.

Valeu, vacina! Vamos, Londrina! Em frente.