Eles passam correndo

sempre carregando pesos

e estão sempre sorrindo

como nunca são obesos

*

São eles sempre os primeiros

cuidadores da cidade

campeões de urbanidade

nossos diários lixeiros

*

Entrevistando o prefeito Dalton Paranaguá em 1969, uma resposta ficou inesquecível; quando lhe perguntei o que de novo ele faria na gestão, respondeu de pronto:

- Já fizemos, passamos a dar leite pros lixeiros! Eles saem de manhãzinha só com o café de casa, que pode ser malemá, e vão trabalhar correndo e carregando peso, suando no calor, no frio gastando mais energia, e enfrentando sacos mal amarrados, pacotes que desmancham e é preciso catar do chão, enfim, problemas em cada quarteirão! É um trabalho tão importante quando extenuante, então cada um vai ter seu leite, como se a Prefeitura fosse uma mãe cuidando dos seus filhos!

Lembrei de Dalton ao saber das projeções de que o lixo se tornará o principal problema da Humanidade nas próximas décadas, já falei disso aqui. Afinal, graças aos plásticos e às embalagens industriais, conseguimos produzir lixo abundante e duradouro, capaz de contaminar não só os lençóis freáticos, e a partir deles nascentes e rios, mas também os oceanos, com a fragmentação dos plásticos que se insere nos peixes que comemos...

Até a Revolução Industrial e as grandes cidades modernas, o lixo não foi problema, mas virou problema sério no começo do século passado e, no fim do século, já era um grave problema que agora se agrava muito rapidamente.

Não só conseguimos produzir mais lixo como um lixo muito pior. Menino, lembro que, antes dos supermercados, comprava-se grãos, do arroz-feijão ao milho, em sacos de estopa abertos nas vendas, como eram chamadas, e de onde os grãos eram retirados em pacotes de papel bastante degradáveis. Hoje há produtos com duas, três ou até quatro embalagens, e as indústrias competem nisso marquetilogicamente. De vez em quando há atenção incidental sobre um ítem, como os canudinhos degradáveis para beber líquidos, mas no mais a lixarada continua aumentando e proliferando.

As cooperativas de catadores de recicláveis, que pareciam um alento, são fontes de más notícias, tornando-se reféns mal pagos do mercado de reciclagem. Em Curitiba, que consagrou o lema Lixo Que Não É Lixo, a maior dificuldade continua a ser a falta de cooperação de muita gente que mal separa e mal embala o lixo. Ou seja, como depende não só de governos como do povo, o problema do lixo tende a crescer e se agravar.

Londrina destina seu lixo ao lixão no distrito de Maravilha, os caminhões percorrendo 60 quilômetros para ir e voltar, e depois de esgotado o lixão lá, certamente teremos de fazer como Ibiporã, - que educou a população e conseguiu uma coleta seletiva e auto-suficiente, com os recicláveis vendidos, os orgânicos virando compostagem e os rejeitos indo para trincheira impermeabilizada. Com isso, Ibiporã ganhou o Prêmio Gestor Público Paraná já em 2017.

A gente quase não vê o problema do lixo porque ele vai embora, mas ele só muda de lugar, até o dia em que não haverá mais lugar para lixo. Mas, para os otimistas, os desafios é que fazem a Humanidade. Para pior ou melhor, estamos no Século do Lixo!

* A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.