Mais que as teorias e ensinamentos, os exemplos nos movem. E a morte de Valduir Pagani, que durante meio século tocou a Engenho Propaganda, nos deixa a ver que ele foi uma fonte exemplar de confiança.

Primeiro, confiança em empreender a si mesmo. Saiu ali do distrito de Pirapó, filho de família pobre, para trabalhar em rádio e estudar Direito em Londrina, onde seu programa de rádio fez sucesso, graças a sua bela voz e sua inteligência afiada, por telefone conversando ao vivo e vivazmente com ouvintes. Mas foi achar seu melhor caminho na publicidade, abrindo a Engenho em 1974 e sempre transformando em amigos os empresários confiantes na sua receita simples de que “propaganda não é gasto, é investimento com retorno certo para quem tem produto ou serviço bom e anuncia bem”.

Como primeiro redator da Engenho, durante década vi Valduir acompanhar cada anúncio, cada campanha, da criação à produção, para tudo ser bem feito e dar bom resultado. Um dia comentei que uma campanha para tratores estava muito comentada e ele disse que isso era bom, mas era preciso também que fossem vendidos muitos tratores, porque assim a roda girava. Que roda, perguntei, a roda da economia, ele respondeu, a publicidade era só uma peça na grande máquina do mercado, movida pela indústria e pelo comércio, os transportes e os serviços, sustentando empregos e gerando impostos. Nisso tudo, disse, “a propaganda é só uma peça, mas que mexe com todas as outras”, e por isso ele tinha orgulho do que fazia.

Trocando o jornalismo pela publicidade para ter mais tempo para a literatura, passei a também ter orgulho de escrever propaganda para as grandes empresas clientes da Engenho, como também para as pequenas que Valduir atendia do mesmo jeito. E sempre explicava que, usando agência, não pagariam mais do que se procurassem os veículos de comunicação diretamente, mas teriam uma publicidade mais eficiente.

Como todos que trabalham bem para o bem, não trabalhava apenas para viver, vivia o trabalho. E, numa terra colonizada por britânicos, pé-vermelho de nascença tornou-se o londrinense mais gentleman, conforme muitos depoimentos na sua biografia O Senhor da Engenho, escrita por Paulo Briguet.

Pois nunca vimos o cavalheiro Valduir levantar a voz, ou perder a serenidade, mesmo quando até devesse. Como no dia em que, na agência, ele entrou na sala da arte e lhe caiu na cabeça um copo plástico com água deixado pelo pessoal no alto da porta. Ele tirou os óculos molhados, enxugou na camisa e saiu. Logo foram todos a sua sala pedir desculpas, que ele recebeu rindo, dizendo que até tinha sido bom para pentear os cabelos...

Pela sua agência passaram muitos profissionais que depois abriram agências próprias - com apoio do Valduir, pois não via neles concorrentes mas companheiros de mercado, que, ele confiava, cresceria para todos.

Anunciou de tudo, só não anunciou que durante décadas com alguns amigos sustentou uma creche. E assim, numa sociedade cujas maiores carências ainda são de profissionalismo e cidadania, o Senhor da Engenho deixa exemplo de profissional e cidadão.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.