Imagem ilustrativa da imagem Novas tecs e velhos valores
| Foto: Dalva Vidotte

Adriano Garib (Rádio Diário, 18/5) cronicou que está desmamando do celular, desligando apps, deixando de procurar tanto para se achar mais, até também para não dar tanta força às big-tecs que sabem tudo da gente. Pois, se as empresas multinacionais mexeram e mexem muito com o mundo, as big-tecs podem muito mais, por se estenderem através das mentes e do comportamento das pessoas.

Tive a graça e a desgraça de ter sido da minoria sem celular, não porque não achasse ótimo para os outros, mas porque era ruim para mim. Entretanto, fui como tantos sequestrado pelo zap e virei um setentec, um setentão tecnológico. Mesmo porém com iphone continuo sem celular, pois uso só para aplicativos, já que o iphone se tornou nosso correio escrito, falado e filmado, agência de compras e encomendas, banco sem fila, guia de tráfego, jornal e enciclopédia, tantas ferramentas e caminhos ou, como diz um amigo, meu iphone é quase eu!

Não chego a tanto, prefiro nem muito nem pouco, até para não dispensar ferramentas preciosas. Por exemplo, ainda consulto o velho dicionário para alguma palavra raiz, mas para a floração da língua, as palavras novas ou renovadas, vou ao Google. Espanta lembrar que antes, para pesquisar, era preciso ir a biblioteca e se enfiar em enciclopédias, pesadas teses e velhos livros. Peguei várias conjuntivites lidando com jornais velhos...

Conforme Steve Jobs, o “e” de iphone é para lembrar de internet, individualidade, informação e inspiração, e muita gente se esquece da individualidade e sua decorrente privacidade. Sou grato a Steve até por andar mais leve, já que deixei de usar cheques e carteira, mas não ando com o iphone e ele não me comanda. Por isso também não autorizo receber avisos, recados, lembretes, convites, ofertas, brindes e tudo mais. Procuro o que quero e escolho, em vez de ser escolhido.

Como diz Adriano, quero mais tempo para mim - e não tanto tempo para tantos e tanta procura a achar tantas variações da mesma informação. Afinal, fontes de informação não precisam ser tantas, precisam ser boas, respeitando em vez de distorcer os fatos. Por isso, não me alisto em grupos ideológicos para ração diária de notícias ajeitadas e opiniões mandantes. Além disso, não quero comparecer virtualmente ao culto do insólito, do incrível e do escândalo. Também não sigo ninguém na internet, apenas visito aqui e ali de vez em quando. No zap, envio meus emojis, brinco e bordo com família e amigos, mas informação só replico se vem de fonte profissional ou confiável.

Saúdo a transparência que a tecnologia permite e instiga entre a sociedade e os poderes públicos, mas, no território das individualidades, nada quero ver além do quanto gostaria que me vissem.

Mas como é bom zapear vendo amigos que não veria devido à pandemia! É uma graça ser um setentão nem tão antigo que me perca nesse mundo tec, nem tão tec que esqueça meus valores, que tanto valem por serem antigos. A renovação tecnológica é cada vez mais rápida, mas valores não tem prazo de validade.

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