Amiga me mandou duas crônicas, uma escrita por ela e outra pelo GPT, a nova tec de produzir textos, e é difícil escolher qual se saiu melhor.

Ela abasteceu o GPT com informações sobre o que queria, e o danadinho logo entregou sua (sua?) crônica.

Sua dele ou dela? Quem é o autor de um texto GPT?

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Um baixinho arretado

As editoras que publicam para o mercado livreiro devem se cuidar para não ser enganadas. Porém terão mais mercado as editoras que oferecem edição de livros paga pelos autores para distribuição pessoal. Pois decerto, além dos que se auto-intitulam escritores, com a nova tec haverá escritores que nem escreverão.

Aliás, é notável como os livros impressos continuam a ser publicados e vendidos, enquanto quase acabaram as livrarias mas os leitores continuaram. Não dá nem para comparar com os discos LP porque estes quase acabaram e retornaram, enquanto os livros impressos continuaram conquistando mercado na net.

Agora, com o GPT, poderão surgir blogs e sites com textos produzidos por essa nova máquina de escrever. Quem sabe até programas noticiosos onde os apresentadores, além de ler o que falam como agora, estarão falando o que essa máquina escreveu para eles. E leríamos nos letreiros finais: Redação GPT. Para o maquinismo total, só faltará os apresentadores serem virtuais, por exemplo um Bonner que jamais grisalhará.

O pessoal do ramo de secretariado, nas empresas, poderá ser reduzido ou dispensado, cartas e ofícios serão escritos pelo GPT. Mas no funcionalismo público, poderá ser reduzida a burocracia?

Entretanto se poderá abastecer candidaturas políticas com discursos. O candidato vai, por exemplo, almoçar numa casa de descendentes de italianos, e dias antes já recebe do GPT o texto para decorar:

“É mais que um prazer, é uma honra ser convidado para jantar numa casa onde já vemos, na mesa, as cores de origem dos nossos oriundi: o branco dos pratos, o verde das verduras e o vermelho do macarrão. E é um privilégio compartilhar com vocês os valores trazidos por nossos antepassados: amor ao trabalho, dedicação à família e respeito à nação. Como candidato, aqui sinto que se renova e se fortalece minha esperança de servir a nossa comunidade!”

Dá para lembrar o versos de Cassiano Ricardo, depois de lembrar as tantas coisas que as máquinas podem fazer por nós:

- Ó máquina, orai por nós!

Pode ser até uma boa ideia, pois não serão interessantes e produtivos, “gerando emprego e renda”, aplicativos para orarem por nós? Como as carpideiras de antigamente, contratadas para chorar nos velórios, poderemos ter gente a chorar por nós, gravando em vídeo, claro, para conferência dos contratantes.

E o GPT, além de escrever bem, poderá escrever também com estilo? Se for abastecido com o livro e os discursos de Hitler, conseguirá escrever como Hitler? E decerto ganharia seguidores...

Mas decerto o GPT não criará coisas como “olhai os lírios do campo”, no sermão de Jesus, ou, no discurso de Lincoln, a descrição da democracia como regime “do povo, pelo povo, para o povo”.

Certo mesmo é que, como toda nova tec, está condenada a ser usada por bons e maus, para o bem e para o mal, porque toda tec é humana, né?

...

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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