Negros que se ofendem xingados de macacos deviam se orgulhar, já que a raça negra é mãe de todas as outras e macacos são nossos parentes ancestrais. Quem grita ma-ca-co para um negro, enxergando apenas brancos e negros, não só desconhece nossa origem como despreza a variedade da evolução humana. O esquimó baixinho com sua camada de gordura a proteger do frio e o zulu tão alto e magro, assim como o dinamarquês de cabelos brancos, são todos descendentes do mesmo Adão africano - e isto não é crença ou opinião, são fatos comprovados cientificamente (embora hoje haja tanta gente duvidando das ciências...).

Alguém pode porém negacear perguntando: então, se escocês também vem do negro, porque tem tantas sardas que nenhum negro tem? Mas o que parece falha só acrescenta evidência: a Escócia é enevoada e as sardas captam mais sol, o que explica também porque é o único país com maioria ruiva.

O fato é que fósseis não mentem e DNA não falseia, de modo que há século se tem cientificamente certo que a Humanidade começou na África e daí se espalhou pelo mundo, mudando desde a cor da pele ao formato do crânio. Isso se deu há centenas de milênios, quando éramos hominídeos, bichos ainda mas já meio humanos. Nossa comunicação era 3G - por grunhidos, gestos e gemidos - e evoluímos viajando de vale a vale, rio a rio, baías e ilhas e até oceanos.

Americanos do norte vieram da Ásia para o Alaska cruzando o Estreito de Bering, quando o que hoje é mar era gelo, e os americanos do sul vieram navegando em balsas pelo Pacífico, daí nossos índios serem tão diferentes dos de lá. Mas todos longinquamente vieram da África e, em antropologia, discordar disso é como em geografia discordar que o planeta é redondo.

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. | Foto: Reprodução

A raça negra nos dá o condão de apreciar toda a capacidade de adaptação e evolução dos humanos, inclusive entre os negros, como comparando o alto zulu com o baixinho pigmeu. Mas o racista, só vendo brancos e negros, ignora também os asiáticos de olhos estreitos e crânio achatado, que já tinham na China um império de milênios antes de Roma. Ignora igualmente a população parda da Índia, que logo superará a da China. O racista tateia em branco e preto num mundo de muitas dimensões coloridas.

Foi um negro, Mandela, quem retirou a África do Sul de seu isolamento racista. Depois de décadas preso, podia ter cedido aos negros que queriam vingança, jogando o país numa guerra civil, mas preferiu o perdão com negociação que, vale o trocadilho, norteou a África do Sul.

Racistas refinados não xingam “macaco” mas mantém a crença de que negros são inferiores, naturalmente impróprios para trabalhos complexos ou missões difíceis, coisa que a psicologia já muito desmentiu. Sempre penso nisso ao passar pela engenhosíssima ferrovia Curitiba-Paranaguá, com seus viadutos estonteantes, criada pelos negros irmãos André e Antonio Rebouças.

Um batalhão formado só por negros, lutando também contra a desconfiança de que não lutariam bem, lutaram tanto e com tantos mortos, na Segunda Guerra, que se tornaram o batalhão mais condecorado dos EUA. Que macacos, hem?