Londrina nasceu de bancos. O escocês Lord Lovat veio em 1924 conhecer fazendas na hoje região de Andirá, participando da Missão Montagu, como foi chamada a comitiva de representantes de bancos ingleses, que tinham emprestado muito capital ao governo brasileiro e queriam acertar as contas. Lovat, com traquejo agrícola, quando viu a floresta da terra-vermelha e o clima intertropical propício para muitas culturas agrícolas, sugeriu ao grande banco britânico Casa Rothschild investir em colonização no então Sertão do Tibagi.

Assim, Lovat chegou aqui por causa de bancos e a colonização foi financiada por banco, portanto a Capital do Café nasceu filha do capital. Mas essa origem capitalista porém só se consolaria aliada à iniciativa social, dos milhares de brasileiros e novos brasileiros, os imigrantes, que ansiavam por terra própria e se dispuseram a aventurar na terra-vermelha.

Para operar o plano de comprar terras férteis e baratas para pequenos agricultores, foi criada a Companhia de Terras Norte do Paraná, que abriria Londrina no meio da mata. E, como queriam apenas vender terras em ordem, os ingleses não influíram intensamente na vida política e cultural da cidade, embora tendo seu diretor Willie Davids como primeiro prefeito municipal indicado pelo governo estadual, depois porém democraticamente reeleito. Quando em 1942 a Companhia foi vendida a banco brasileiro, para que o capital britânico se juntasse ao esforço de guerra contra o nazismo, a relação Londres-Londrina michou.

O nome Londrina significa “filha de Londres” ou “pequena Londres”, e hoje Londrina tem uma cidade japonesa como irmã mas continua sem relação intensa com a mãe Londres. No entanto, a cidade começou bem e tanto se fez graças ao plano colonizador da Companhia: comprar boa terra do governo estadual por baixo preço, dividir em sítios todos com água e estrada, e vender a prazo longo para gente trabalhadora e de iniciativa.

O plano inglês casou bem com a realidade brasileira, onde terra era o que queriam aqueles imigrantes de todo o mundo e também brasileiros de todas as regiões. A colonização, ao longo de uma linha de Londrina a Cianorte (cujo nome vem de Companhia de Terras Norte do Paraná), previa pequenas cidades a cada 15 quilômetros, e então ninguém suspeitava que se transformariam em médias e grandes cidades, consagrando o plano da Companhia como um exemplo de empreendimento econômico e social.

Dezenas de pioneiros deram depoimentos ao Museu Histórico confirmando a eficiência e decência da Companhia, que os tratava com humanidade, apoiava iniciativas e esticava dívidas sem espoliação. Por isso, a Sociedade Rural homenageou essa origem de Londrina, ao decorar com símbolos britânicos a passarela diante do Parque Ney Braga, que se tornaria a maior recordação da origem londrina da cidade.

Dá para matutar quanta coisa se pode conseguir usando essa origem como motivação para plantar relações entre Londrina e Londres, nas artes, na economia, na pesquisa, nas universidades. George Craig Smith, o primeiro londrinense, decerto amaria ver Londres e Londrina não só como mãe e filha mas também como irmãs.