O Tico era o único que chegava já de calção com as chuteiras nas mãos, aí tirava a camiseta, vestia a camisa do time e pronto. Mas, numa fazenda, depois ia ter bailinho e ele não foi avisado. Então todos levaram roupa boa pra depois do banho, mas o Tico ficou lá num canto de calção e camiseta. E não é que a Gracinda, que não era linda mas feia também não, foi tirar o Tico pra dançar? Hoje eles três filhos, oito netos e dois bisnetos.

Além de casais, sócios também se encontravam na várzea. Nelsão era miudinho mas com a bola virava um gigante, e Paulinho zagueirão, quando era driblado, se sentia diminuído. Acabou pisando no pezinho de Nelsão com todo o peso de seu corpão. Um saiu de campo chorando de dor e o outro de vergonha. Tanta vergonha que foi procurar Nelsão pra pedir desculpa, aí viram que tinham negócios em comum e viraram sócios, prosperando que só.

Já o negócio do Manjo, assim chamado pela cara de anjo com alma de malandro, era surrupiar. Sumiam óculos e canetas, desodorantes e sabonetes – até o dia em que sumiu mais um chaveiro de carro, aí resolveram revistar todas as bolsas e na de Manjo estavam os chaveiros sumidos. Alguns já queriam levar pra BO mas outros acharam que aquilo devia ser doença, então falaram que ou ele se tratava ou saía do time. Manjo foi se tratar e depois, quando desaparecia alguma coisa, só esvaziava a bolsa e aplaudiam, até virou tesoureiro do time.

Outro time foi pro jogo mesmo com o tempo fechando e caiu um toró, o campo alagou. Por desfeita, um foi urinar na marca do pênalti, onde por molecagem outro lhe deu rasteira, ele caiu e se enlameou, jogou lama no outro, que então lhe deu um carrinho e aí ficaram todos brincando de se sujar no gramado ensopado. Depois, quando alguém perguntava de algum jogo inesquecível, diziam lembrar mais da maior farra, quando que nem moleques brincaram no barro da várzea.

Já o Jorjão era juiz e, com apito no peito, cobrava só respeito pra apitar os jogos. Era tão calmo que os times disputavam quem conseguia irritar o Jorjão, mas que nada. Até que, pra distrair a mãe viúva, ele levou para ver jogo – e, no intervalo, assustada ela perguntou como ele conseguia aguentar tanto xingamento. Daí ele foi a cada torcida pedir que, antes de lhe xingarem de filho da puta, lembrassem que sua mãe estava ali. Então xingaram apenas de ladrão e corno, e ele parou o jogo para ir às torcidas dizer que sua mulher também estava ali com sua mãe. Depois do jogo, um filho perguntou porque, se nem cobrava pra apitar, era chamado de ladrão. Jorjão jogou o apito no chão e nunca mais apitou.

Pênalti, bem ou mal marcado, gerava brigas e a turma do deixa-disso entrava em campo pra separar os valentões, mas muitos só paravam de se xingar graças ao Sonho. Na verdade era Tonho, mas ganhou o apelido por gostar demais dos sonhos que o time vendia pra se custear, e calava os xingadores lhes enfiando boca adentro um sonho. Mas parou com aquilo no dia em que um goleiro furioso, depois de mastigar o sonho, disse que preferia de goiabada em vez de marmelada.

E, das brigas, um técnico disse o que valeria até para o futebol profissional: - Os que menos jogam são os que mais brigam...

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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