Dos antigos aos novos, letreiros vão do erro ao humor
Melhor voltar aos letreiros, como Boraxeiro, Concerta-se Som, Compra-se roupas usadas e vende-se quase novas
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sábado, 07 de setembro de 2024
Melhor voltar aos letreiros, como Boraxeiro, Concerta-se Som, Compra-se roupas usadas e vende-se quase novas
Domingos Pellegrini
Muita gente, diante do preço da consulta, perguntava à veterinária o preço “pra dar só uma olhadinha”, então ela colocou plaqueta na parede: Consulta, 100 reais / Olhadinha, 50.
Faz lembrar aquele bar com cartazete em parede do balcão, com os preços do café com-sorriso e sem-sorriso, este o dobro do preço; e, se alguém perguntava porque, o dono dizia ué, é pra valorizar o seu sorriso.
Lembra também aquela placa em beira de estrada: Ovos aqui!, com preços no rodapé: 1D10, 5D9, 10D8, e quem perguntasse entenderia: uma dúzia por 10 reais, 2 dúzias por 9 reais cada dúzia... E se alguém perguntava por que anunciar assim, a explicação era: - Pra facilitar, né.
Assim os letreiros criam a própria linguagem, como em para-brisa de carros: VENDOUTROCO / VENDO XV (em xis vezes) / VENDO NOVO EM 2004 (ou seja, era um carro novo em 2004), e, num velho fusca, TROCO POR TUDO.
Letreiros lembram cardápios e lembro de Ziraldo contando que viu, num cardápio em Portugal: pão, tanto; pão com manteiga, o dobro; pão sem manteiga, novamente tanto. Ele garantia que era verdade, só não tinha reparado no nome da padaria nem lembrava em que lugar, depois de alugar carro pra zanzar pelo Portugal das aldeias. “Mas tá lá”, garantia”, “só pão e pão sem manteiga pelo mesmo preço!”
Melhor voltar aos letreiros, como Boraxeiro, Concerta-se Som, Compra-se roupas usadas e vende-se quase novas. E, em plaqueta numa casa: Costuro fora.
Numa obra com grande escavação: “Estamos doando terra!”
No açougue: “Fila é sinal de qualidade!”
Na frutaria: “Apenas apalpe as frutas, aperte só a melancia”.
Na padaria: “Pão quente só quando sai do forno, sanduíche quente qualquer hora”.
No clube: “Favor tomar banho a-n-t-e-s de entrar na piscina!”
Na porteira de sítio: “Vendo propriedade até em pedaços”.
Em loja de móveis usados: “Usados mas prontos pra vida nova!”
Em ótica: “As melhores condições a prazo e os melhores preços à vista!”
Em sala de espera com grande sofá: “Fique à vontade sem deitar!”
Em praça: “Leve o cachorro e o cocô”.
No para-choque traseiro de caminhoneta antiga: “Passe Bem e Vá Com Deus!”
Num velho fusca: “Vendo já com saudade!”
Anúncio na internet, com o título REVIZÃO: “Nós vemos seu texto com outros olhos! Erros prejudicam muito textos e teses, por exemplo o certo é revisão e não revizão!”
E fecharam quase todas as sapatarias, onde o sapateiro parava de consertar sapato para atender no balcão; como a que tinha na parede o aviso em escrita de mão: “Sapato de criança é uma coisa, de adulto é outra coisa, e botina e bota não são sapato”.
Em repartição pública, no letreiro “Proibido destratar funcionário, lei número tanto”, alguém anotou à mão: “Mas negligência no atendimento pode?”
Entretanto letreiro campeão ainda continua sendo aquela que o jornalista Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelli, o auto-nominado Marquês de Itararé, colocou na porta de seu jornal depois que foi depredado pela polícia: ENTRE SEM BATER.