O presidente Zelensky, cujo primeiro cargo público é de presidente da Ucrânia, e que antes era ator e diretor de cinema, por isso conhecendo como usar roupas como símbolos, indo para o terceiro ano de guerra continua sem usar paletó nem gravata, ciosamente mantendo as camisetas até sem gola, e sempre em verde ou azul escuros, como bandeiras de resistência e determinação. Baixinho e embora ator, não usa os truques cênicos e retóricos que fazem dos políticos atores. Acabe como acabar essa guerra, certo é só que, se sobreviver, Zelensky poderá ganhar o Nobel da Paz.

Entretanto, a julgar por roupas e modos, o título de Criança no Poder deve ser dado a Kim Jong-Um, o ditador que se diz presidente da Coréia do Norte.

Porém o prêmio Guarda-Roupa de Circo deve ser dado, hors-concours, auto-eleito presidente Maduro da Venezuela.

Já o presidente Putin da Rússia não tira paletó e gravata, mantendo imagem estereotipada de político vaidoso, enquanto entretanto é aprovado pela maioria do povo russo (na literatura russa já fica evidente desde longas eras uma fervorosa submissão do povo russo ao poder).

Na América, a gravatona vermelha de Trump, com paletó azul e camisa branca, reproduzem as três cores da bandeira dos Estados Unidos, num evidente apelo a um patriotismo que se ilude crendo que para tomar o poder basta invadir palácios de governo.

Enquanto isso, Kamala Harris, visando já pelas roupas falar ao eleitorado feminino e jovem, mas também não querendo passar imagem de fragilidade feminina, veste roupas que parecem mistura de feminino e masculino, ou roupas assim neutras, numa nova modalidade de moda. Procura uma identidade tão plural que a gente enfim não consegue lembrar de qualquer roupa dela, enquanto Trump é palhaçosamente inesquecível.

Aqui, o presidente Luís Inácio trocou as gravatas vermelhas por verde-amarelas, num contorcionismo político que evidencia como a roupa importa no poder e consegue falar sem palavras.

Já entre os governadores e candidatos a prefeito brasileiros a camisa ou camiseta fora das calças, moda lançada há alguns anos por Ciro Gomes, como que virou uniforme informal de simplicidade e identidade popular – enquanto ainda, entre as mulheres candidatas, roupas tipicamente de mulher são evitadas como por Kamala Harris, pois, embora feministas, também evitam ser vistas com roupas tipicamente femininas para assim não sugerir feminina fraqueza.

Com os cabelos do/as candidato/as, então, ocorrem tantos arranjos quanto na política. Grisalhices bem exploradas, desleixos expressivos, simpáticos desalinhos, mechas oportunas, calvícies disfarçadas e carequices assumidas. (Mas ainda não surgiu alguém capaz de explorar mais que Jânio Quadros o desalinho dos cabelos.)

E dá dó das gravatas! No afã de ainda se engravatar mas querendo parecer jovem ou descolado, há os que afrouxam tanto o nó que parece desrespeito a todos que usam gravata, além de a si mesmos. Por isso há tanto quem acha lindo gravata assim como quem acha que assim nem é gravata.

Não é fácil se vestir no ou para o poder na terceira década do século 21.