Pra mim as melhores coisas na internet são os bichos, em tantos videos, e a pesquisa muito mais rápida que no tempo do papel. Há apenas três décadas, para pesquisar em Londrina havia a biblioteca municipal e a da UEL, nelas peguei conjuntivites lidando com velhos jornais. E nesta FOLHA, lá no começo dos 70, um dia faltou capa para o segundo caderno.

LEIA TAMBÉM:

Devaneio pé-vermelho

Há que louvar então Leonardo Henrique dos Santos e Walmor Macarini, meus chefes que aceitaram a ideia de ir pesquisar para fazer um grande texto sobre... baratas. Eu tinha lido A Metamorfose, de Kafka (que aliás vale quase só pela cena inicial do protagonista acordando como barata), e, achei que a partir daí, com alguma pesquisa, podia dar conta da missão, até porque a biblioteca era e é no outro quarteirão pertinho.

No fim da tarde, entreguei o texto feito em poucas horas. Hoje, com a internet, pode-se pesquisar no mundo sem sair de casa e aquilo pode ser feito em menos tempo. Entretanto, tal capacidade universal de informação e comunicação coincide com também, pela primeira vez, a capacidade do ser humano de destruir o planeta.

Nunca deixou de ser usado algum novo tipo de armamento, e a maior parte do arsenal nuclear continua devidamente preservado depois da Guerra Fria, e até mais desenvolvido para a Guerra Sempre – essa que está sempre pipocando aqui e ali, e pode estourar em Hong Kong, Taiwan, ou na Europa mãe da democracia e avó dos ódios raciais e religiosos.

E a cada nova guerra parece, para quem olha sem ideologia ou religião, a mesma guerra com os dois lados errados. Por exemplo, Israel nunca atacou, sempre foi atacado mas, depois de se defender brilhantemente, sempre cometeu o erro de anexar territórios de outros, assim plantando mais ódio e minando o próprio futuro. Assim tudo pode caminhar para o “banho de sangue” em que o conflito se resolve pela quase aniquilação mútua (daí talvez renascendo a tribo ancestral que, conforme os genomas, originou tanto os árabes quanto os judeus...).

Guerras deixam pessoas pacíficas com raiva, não dos guerreantes, com raiva dos seres humanos – não só dos que lá nos dois lados criaram condições para a guerra, mas também dos que aqui se aliam a um lado ou outro com tanto fervor quanto carência de informação.

Mas basta pesquisar um pouco para saber que o Hamas é não só grupo terrorista como também partido político, que fez maioria de deputados na última eleição na Faixa de Gaza, e, sendo impedido de governar pelo partido rival Fatah, tomou o poder onde está até hoje dedicando-se só ao terrorismo.

Também é preciso saber que os israelenses votam em governos que apoiam instalar mais colonos nas áreas ocupadas, assim potencializando a guerra “santa”.

Por isso faz tão bem ver os bichos na internet, cachorro brincando com gato, gato acarinhando cachorro... Os bichos domésticos são muito civilizados, falta civilizar os humanos. E, se as bombas destruírem o que chamamos de civilizações, certo só é que continuarão as formigas e as baratas.

* A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.