Sugestão de um londrinense aos londrinos: montar o mais colorido dos museus com as roupas da Rainha Elisabeth, para serem apreciadas por diferentes pontos de vista:

Psicologicamente, já o fato de adotar aquele estilo insólito denotava marcante personalidade. E o vestido ser quase sempre de uma só cor indicava a reafirmação vigorosa e renovada dessa personalidade, que Churchill percebeu quando ainda menina: “É uma figura e tanto, tem um ar de reflexão e autoridade espantosa numa criança pequena” (na biografia dele "Caminhando com o Destino").

Politicamente, aquele figurino, de corte convencional mas de vivíssima cor, que parecia infinitamente variável e sempre surpreendente, transmitia um leque de sugestões: renovação na tradição, necessária nobreza com variedade democrática, serena coragem e viva confiança.

A roupa da rainha era sempre acompanhada de bolsa de couro, quadrada e sempre negra, a simbolizar ao mesmo tempo que era uma mulher como qualquer outra mas também não era apenas uma mulher. Serviçais viam que ali ela levava pente, caneta, coisas usuais, além de balas que podia compartilhar, nisso mostrando que, no fundo, tinha também sua criança.

No peito, classicamente o broche era de brilhante. Na cabeça, o chapéu ou era da mesma cor do vestido ou era prata ou cinza, sem choque de cores, nisso simbolizando harmonia.

Diplomaticamente, a bolsa servia para a rainha afastar ou ser afastada de indesejáveis, pela segurança, para isso bastando ela passar a bolsa do ombro esquerdo para o direito, e, se pousasse a bolsa no chão, acudissem a rainha.

(Conscientemente, há quem diga que o colorido de seus vestidos também tinha função para a segurança, indicando sempre onde ela estaria mesmo se cercada de gente, mas isso mais parece refinada fake, como diria Churchil, na insídia de quebrar com prosaico detalhe a solidez do mito. Voltemos ao mundo real.)

Republicanamente, era visível e é facilmente pesquisável que as roupas da rainha tinham um altíssimo custo. Antes da pandemia, foram 67 anos comparecendo a 300 eventos em média, ou seja, 300 vestidos por ano, porque a rainha, se repetia bolsa, roupa não repetia nem chapéu. E, mantendo a mesma estilista durante décadas, para trabalhar confeccionando suas roupas a rainha – ou a Inglaterra – tinha 10 funcionários.

Mesmo podendo se repetir, também as bolsas tinham alto custo, e foram ao longo dos anos umas também 300 da marca Launer, cada uma com preço de milhares de libras.

Os sapatos também podiam se repetir, com seus saltos pouco altos e grossos, para segurança no andar, a rainha jamais podia tropeçar.

Guarda-chuva estava sempre por perto, transparente para não ocultar a rainha e com as guarnições combinando com a roupa do dia, os detalhes fazem os impérios.

O penteado era basicamente o mesmo, encacheado e adequado para receber chapéu ou coroa.

E marquetologicamente, com essa combinação de significações a rainha comunicava e estimulava competência.

Deve ser por isso que tanta gente ficou tantas horas na fila para passar por seu caixão e depois aplaudiram tanto nas ruas. Ela merece um museu.