Amigo médico conta que na vacinação viu pessoas ricas, que não conhecem o SUS, alegremente surpresas com nosso sistema público de saúde, ao menos na vacinação. Tudo tão rápido - ele ouviu alguém dizer - e tão eficiente, nem parece Brasil!

Pois é Brasil, país campeão de vacinação até que, quando mais precisou, é quando menos tem. A picada quase nada dói, dói é saber que tínhamos tudo para dar bom exemplo ao mundo e entretanto estamos servindo ao mundo como mau exemplo.

Na segunda dose, além da rapidez e eficiência, confirmei o bom humor do pessoal, aquele bom humor de quem trabalha rindo por gostar e para não desgostar de trabalhar. Além disso, estão desmitificando o heroísmo, para passarmos a valorizar mais os heróis trabalhadores, dos empresários aos recicladores de lixo.

A agulha me lembrou de agradecer. A algum governo ou laboratório? Até também, mas muito mais agradecer à vida, que nos deu a doença e a vacina.

Descendo a manga da camisa, lembrei também de agradecer sim aos cientistas e pessoal dos laboratórios, a produzir vacinas tão rapidamente, silenciosos heróis.

Voltando pra casa, agradeci também ao pessoal dos hospitais, gente daquele heroísmo dos enfermeiros de guerra ou dos bombeiros de terremoto, só que mais ainda, pois há ano estão assim entregando suas vidas a um trabalho que se tornou missão. É um dever agradecer a quem nos garante que, “se acontecer com a gente”, ainda temos chance de escapar com vida.

Quando Bill Gates em 2015 previu uma pandemia, apanhou geral. Agora, a pandemia ensina como precisamos mais prevenção e mais cooperação desde os países até as pessoas. A covid está nos ensinando a prevenir para o futuro, sejamos gratos.

Então é preciso agradecer também às ciências, por não termos nascido naqueles tempos em que as pestes matavam milhões e nada se sabia sobre elas.

Aí passo no correio e não tem caixa para encomenda mas, avisam, ali no chaveiro tem. E tem outras coisas também à venda no chaveiro, que faz meu embrulho com habilidade profissional. E carrega celulares, e vende miudezas, escaneia, imprime, presta tele-serviços!

Essa atitude do chaveiro está abrindo portas e telas para muita gente. Junto com a aceleração tecnológica na pan, colhemos uma transformação no setor de serviços, que produz 40% do PIB. Então há que agradecer também por tantas boas mudanças em tantas empresas, tornando as alternativas até mais produtivas que antes.

Nas famílias também se aceleraram mudanças, até porque, como diz amigo psiquiatra, trancadinho a gente se entende ou se mata. Esperanças vãs foram despidas, sonhos fúteis descartados, preconceitos provaram-se inúteis, rancores se dissolveram no mingau solidário. Então há que agradecer igualmente por tanta mudança em tanta gente, tantos rearranjos em tantas famílias, ou, conforme uma amiga, tantos se refazendo como nunca fariam antes.

Sebastião Ferreira: agradecer por tudo e a todos
Sebastião Ferreira: agradecer por tudo e a todos | Foto: Divulgação

Então, como dizia meu finado sogro Sebastião Ferreira, agradecer por tudo e por todos. Agradecer até porque agradecer, mais do que ser grato ou apenas agradar, é um modo de ser.

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