Nosso Dia da Independência devia ser 2 de Setembro, quando foi assinada a Declaração de Independência pela Imperatriz Maria Leopoldina no Rio de Janeiro, enquanto Dom Pedro se encontrava em viagem a São Paulo, onde seria comunicado disso por mensageiro só no dia 7. Comemorar a independência no dia em que ele apenas ergueu a espada é ignorar e desprezar a mulher que não só assinou como urdiu a Independência.

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Em 1922, Dom Pedro era um príncipe a governar grande colônia portuguesa e sempre instado a voltar a Lisboa para o trono de Portugal. Casou com Leopoldina sem se conhecerem, por interesses da Áustria em se fortalecer na Europa e penetrar no Novo Mundo, enquanto ele buscava casar-se com alguém de antiga dinastia como a dos Habsburgo da Áustria.

Inteligente e culta, a princesa escrevia muito e bem, como narrando sua chegada em 1917: “A entrada do porto é sem par, e a primeira impressão do paradisíaco Brasil a todo estrangeiro é impossível de descrever com qualquer caneta ou pincel”.

Educada nos jogos de poder das cortes europeias, logo vê que Pedro, embora comunicativo, não tem preparo bastante para imperador, e se dispõe a supri-lo de informação política e cultural. Logo vê também que a independência seria boa para o Brasil, para a Áustria e para seus próprios filhos, como o primogênito Pedro II que depois propiciaria a grande unidade territorial do Brasil.

Conforme a historiadora Mary del Priore, ela não só tratava com grupos pró-independência como “acolheu marinheiros e soldados para a Marinha brasileira. Vai a cavalo ao arsenal com D. Pedro, encomenda cavalos para cavalaria, tem uma série de cuidados” visando preparar o Brasil para futuro confronto com Portugal. E, quando ele viaja a São Paulo para costurar apoios, ela fica como rainha regente.

Então convoca e preside reunião do Conselho de Estado a 2 de setembro, quando decidem pela independência e ela assina a declaração, em seguida enviando o mensageiro a Dom Pedro. para comunicar já ter feito realmente, com a caneta, o que ele apenas confirmará simbolicamente com a espada e seu “grito do Ipiranga”.

Depois, enquanto os brasileiros lutam para expulsar as tropas portuguesas, ela intermedeia acessos de quem tem justas reivindicações à Corte. Mas chega a passar necessidades, para atender a compromissos de assistência social, enquanto Dom Pedro retém sua mesada, inclusive para custear a amante Domitila em relação notória, e leva a amante para frequentar a área das damas do palácio, de onde elas se retiram em solidariedade a Leopoldina.

Pedro em represália nomeia Domitila primeira-dama, portanto acompanhante oficial da imperatriz, que em cartas se queixa de não mais conseguir dormir e só pensar em morrer. Depois de duas semanas de cama com dores e febre, sofre aborto, enquanto Pedro está na Guerra da Cisplatina.

Leopoldina morre aos 29 anos, depois de ter nove filhos em nove anos, dos quais três precocemente mortos; e o austríaco barão de Marechal anotou que “foi chorada sincera e unanimemente”. Agora, porém, não é mais caso de chorar, mas de reconhecer Leopoldina todo 2 de Setembro, Dia da Independência do Brasil.

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A opinião do colunista não refelete, neceassariamente, a da Folha de Londrina.