A humanidade sempre se preocupou com a possibilidade de haver falta generalizada de alimentos, fato que nunca se concretizou porque a produção agrícola cresceu em paralelo com o crescimento da demanda. A principal alavanca de sustentação do crescimento da produção agrícola foi o desenvolvimento de novas tecnologias, as quais melhoraram a eficiência dos processos produtivos no campo.

Malthus, no século XVIII, baseado na realidade da época, previu que a população humana cresceria mais aceleradamente do que a produção de alimentos e que só não morreria muita gente de fome e desnutrição, porque as guerras e as doenças se encarregariam de manter estável a quantidade de pessoas a alimentar.

Hoje, o planeta é habitado por mais de 8.0 bilhões de pessoas. Seremos cerca de 10 bilhões em 2050, somando os novos nascimentos com o grande contingente de idosos, cuja proporção aumenta a cada ano, como resposta às melhorias na saúde e na alimentação da população. As guerras, que segundo Malthus se encarregariam de manter a população sob controle, hoje são evitadas pelo aumento da racionalidade e da tolerância entre os povos. As doenças, por sua vez, são controladas pelos avanços na medicina.

Estudos da ONU indicam que, a partir de 2050, o crescimento da população humana se estabilizará e, seguidamente, declinará. Famílias numerosas são raras. Atualmente, os casais optam entre não ter filhos ou ter no máximo três, em função da dificuldade em sustentar uma família numerosa. Além disso, os casais modernos buscam, além da possibilidade de ter filhos, condições para usufruir de uma vida social mais intensa do que a protagonizada pelos seus pais e avós, que era quase inexistente.

Segundo a ONU, o planeta ainda amarga o inaceitável contingente de cerca de um bilhão de pessoas malnutridas, das quais mais de 10 mil morrem de fome, ou de problemas vinculados a ela, a cada dia. Isto é irracional, porque o planeta tem condições para alimentar adequadamente todos os seus habitantes. Se muitos passam fome, é porque algo está errado.

Sabe-se que ainda se perde muito alimento no trajeto entre os centros de produção até a mesa dos consumidores e que, mesmo na presença do alimento, muitos passam fome porque carecem do dinheiro para comprá-lo. Desperdícios também ocorrem na mesa dos abastados, onde a comida é servida em quantidade muito além das reais necessidades desses privilegiados consumidores.

O Brasil é um grande produtor de alimentos e pode produzi-los em muito maior quantidade, dada a sua capacidade técnica e a disponibilidade de imensas glebas de terras aptas e disponíveis para produzir mais. O problema está no mercado, cuja lógica não permite que se produzam alimentos em excesso à demanda, porque promoveria aviltamento dos preços e prejuízos ao produtor. Quem produz pretende ter seus custos de produção ressarcidos e o esforço dispensado na tarefa de produzir, recompensado. Simples assim. Produzir alimento em excesso para distribuí-lo gratuitamente a quem não tem dinheiro para comprá-lo não é responsabilidade do agricultor, mas dos legisladores.

Amélio Dall’Agnol, engenheiro agrônomo