Historicamente, a população humana tem sido representada por uma pirâmide perfeita, com muitas crianças e jovens na base e poucos idosos/muito idosos no topo. Esta figura vem-se modificando pela redução no número de filhos por casal e pela melhoria da alimentação e dos recursos da medicina, que está permitindo vida mais longa aos idosos. Segundo a ONU, em 2017, a maior concentração de pessoas deu-se na faixa entre 30 a 34 anos e, para 2060, estima que será entre as idades de 55 a 59 anos, sinalizando para um crescente estreitamento da base da pirâmide e o engrossamento da parte média e superior da figura, no futuro.

No auge do boom demográfico (década 1960), o Brasil tinha 80% de crianças, relativamente à população economicamente ativa. Em 2100, terá 25% e o de idosos saltará dos atuais 10% para 63%. Os desenvolvimentos no campo da medicina, disponibilizando remédios mais eficientes para o controle de antigas e novas enfermidades, ajudou muito a moldar esta nova configuração da pirâmide humana. Mas, tão importante quanto os remédios no prolongamento da vida das pessoas, tem sido a maior acessibilidade da população a uma alimentação farta e de qualidade, feito possível graças a inovações tecnológicas do setor agrícola, que permitiram maior eficiência produtiva e preço mais baixo aos alimentos.

O temor pela falta de comida sempre foi um tema recorrente na história da humanidade. O primeiro alerta foi dado pelo economista inglês Thomas R. Malthus, em 1798 no livro “Ensaio sobre o princípio da população”. Nele, o autor antecipa uma possível catástrofe mundial, com milhões de mortos por fome e inanição por falta de comida, visto que segundo suas estimativas a população humana cresceria numa progressão geométrica (1,2,4,8,16...) ante um crescimento aritmético (1,2,3,4,5...) da produção de alimentos. Mais recentemente (1968), o biólogo americano Paul Ehrlich previu fome em massa até o final do século XX pelo mesmo descompasso entre crescimento da população versus produção de alimentos. Ambos falharam porque não previram a força das novas tecnologias na reversão dessas previsões. No entanto, a fome, que anda de braços dados com a miséria e a baixa escolaridade, continuará interferindo na configuração da pirâmide etária.

Segundo a ONU, no período 1950/55, a média de filhos por casal de brasileiros era de 6,1 ante uma estimativa de apenas 1,7 para o período 2015/20. No entanto, se considerarmos a realidade de países africanos (Níger e Somália, por exemplo) para este mesmo período, a mudança foi pequena: 7,25 filhos por casal para ambos os países no período 1950/55, para 7,15 (Níger) e 6,12 (Somália) no período 2015/20. O crescimento da população é maior justamente onde há piores condições de sobrevivência, evidenciando que pobreza e ignorância caminham juntas. Com o recente desenvolvimento da China e da Índia, resgatando milhões de concidadãos da extrema pobreza, atualmente os países africanos concentram mais da metade dos extremamente pobres do mundo. São eles os que ainda sustentam a base da pirâmide do crescimento populacional.

No passado, doenças como a Peste Bubônica e a Gripe Espanhola, ou conflitos bélicos, como a I e II Guerras Mundiais, se encarregaram de manter a população reduzida e, portanto, com menor demanda por comida, a qual podia ser suprida pelos sobreviventes dessas catástrofes. Atualmente, no entanto, com a paz reinando entre a maioria das nações, as doenças sendo controladas por modernos medicamentos e a população ficando mais longeva e exigente, cresce a demanda por quantidade e qualidade de alimentos.

E a pandemia do Corona Vírus (Covid-19) ?! Embora já tenha vitimado alguns milhares de pessoas, nada comparado ao número de mortos dos conflitos bélicos e doenças do passado, embora a Covid-19 tenha atingido um território maior do que as catástrofes anteriores. A moderna sociedade está mais alerta e preparada para enfrentar a endemia e certamente a controlará, sem maiores ameaças para a humanidade. Os danos econômicos causados pela sua passagem poderão resultar mais catastróficos do que a doença.

Embora com ritmo menor, a população mundial continuará crescendo e demandando mais alimentos, abrindo oportunidades para que o potencial do agro brasileiro se manifeste, fortalecendo a economia do país e garantindo alimento em quantidade e qualidade para uma população estimada de 11,18 bilhões em 2100, ante 7,55 em 2017; 80% desse crescimento resultará da expansão demográfica de países africanos (ONU).

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja