“Agricultura orgânica é o termo que se emprega para designar o sistema de produção agrícola ecológico e sustentável, baseado na preservação e respeito à terra, ao ambiente e ao homem; em condições trabalhistas, econômicas e sociais justas. A agricultura orgânica surgiu de trabalhos do pesquisador Sir Albert Howard, entre as décadas de 20 a 40 na Índia. Sua base mestra é a manutenção da fertilidade do solo e da sanidade geral das plantas e animais pela adubação orgânica, diversificação e rotação de culturas.”

Os primeiros produtos orgânicos apareceram nos mercados europeus somente na década de 1970, se fortaleceram na década seguinte e cresceram na década de 1990. Atualmente estão presentes em todos os mercados dos países ricos, mas também são encontrados em determinadas feiras e mercados de países em desenvolvimento.

Sua maior presença nos mercados de países desenvolvidos, em comparação com países pobres deve-se, entre outras causas, à desvantagem dos orgânicos quanto ao preço. Dada a pequena escala de produção e o uso intensivo de mão de obra, eles tendem a ser mais caros. Para os abonados cidadãos de nações ricas, a diferença de preço, para mais, não importa muito. Mas certamente afeta as escolhas dos cidadãos de baixa renda. No entanto, entre os cidadãos da classe média, aumenta a proporção dos que consideram que a desvantagem do preço é recompensada, com vantagens, em termos de segurança alimentar e pelos benefícios que a agricultura orgânica proporciona ao meio ambiente.

Assim, uma maior demanda futura pelos alimentos orgânicos pode ser prevista, não apenas pelo aumento da consciência ambiental da população, mas, também pela expectativa de aumento da renda per capita dos cidadãos globais que, com mais dinheiro no bolso, passariam a investir um pouco mais em sua alimentação.

No Brasil, a produção orgânica se fortaleceu a partir dos anos 1980, com o estabelecimento das primeiras cooperativas dedicadas ao setor. As atividades da agricultura orgânica, no entanto, só foram aprovadas em 2003 e regulamentadas em 2007. Já somam 15.000 as propriedades agrícolas certificadas para produção orgânica. São 2.000 somente no Paraná, Estado com o maior número de produtores orgânicos certificados. A produção de alimentos orgânicos ainda é pequena, representando menos de 1% da produção nacional de alimentos, mas em 2019 gerou R$ 4.0 bilhões em vendas.

A cada ano percebe-se aumento no número de consumidores de produtos orgânicos. Porém, se toda a população repentinamente aderisse ao uso desses alimentos, haveria um colapso no abastecimento; ao passo que, sendo uma minoria, o suprimento é administrável. É desejável que o crescimento de produtos orgânicos seja progressivo, pois se muitos produtores aderissem ao mesmo tempo a este processo produtivo, haveria sobreoferta e os preços despencariam. Esta possibilidade existe, pois muitos pequenos produtores, inviabilizados na produção de grãos pela pequena escala de produção, poderiam enxergar na agricultura orgânica a possibilidade de sobreviver em área pequena.

Tem sido importante para a produção e valorização dos alimentos orgânicos, a decisão do governo brasileiro de estimular os gestores municipais do interior do país a adquirirem para a merenda escolar, alimentos produzidos por pequenos produtores locais, muitos deles orgânicos.

O enriquecimento da população e o aumento da consciência ambiental serão alavancas para o maior consumo dos alimentos orgânicos.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja