O Brasil é gigante na produção mundial de alimentos: ocupa a 4º posição como produtor – depois de China, EUA e Índia e é 2º como exportador – depois dos EUA. Também é o país com o maior potencial para incrementar a produção agrícola, consideradas as imensas áreas aptas e ainda disponíveis para ampliar a área cultivada sem precisar realizar desmatamentos ou ações negativas ao meio ambiente. Entretanto, a demanda por maior produção poderia não se concretizar em razão de um menor crescimento, ou mesmo, decréscimo da população mundial.

Desde que o economista e clérigo britânico Thomas Robert Malthus publicou, em 1798, o livro “Um ensaio sobre o princípio de população”, a humanidade tem manifestado preocupações sobre a futura disponibilidade de alimentos. Nunca, todavia, preocupou-se seriamente com a possibilidade de não saber o que fazer com o excesso de produção. No livro, Malthus expressou a teoria de que a população humana tendia a crescer mais rapidamente do que a capacidade de o homem produzir os alimentos necessários para alimentá-la. Esta teoria não se concretizou por causa dos avanços tecnológicos que Malthus não previu.

Ainda há muita fome e mortes por inanição no planeta, mas não por falta de alimento, mas pela má distribuição do mesmo, pelo desperdício e pela injusta distribuição da riqueza, que deixa muita gente sem dinheiro para adquirir o alimento. Por outro lado, não se tem conhecimento de problemas gerados por causa do excesso de produção, a não ser de café na década de 1950, quando o Governo Vargas ordenou a destruição de milhares de toneladas do produto para não o exportar a um mercado internacional saturado, o que deprimiria ainda mais os preços já aviltados pela sobreoferta.

O Brasil figura como 1º produtor e exportador de açúcar, café e suco de laranja; 2º produtor e 1º exportador de grãos de soja, carne bovina e de frango; 3º produtor e 2º exportador de milho; 4º produtor e 2º exportador de algodão, de farelo e de óleo de soja e 4º produtor e 4º exportador de carne suína. Dado o seu potencial de incrementar a produção – na eventualidade de haver mais demanda – o Brasil posiciona-se como um dos principais garantidores da segurança alimentar do planeta.

Mas, num momento em que o crescimento da população está quase parando (1%, segundo a FAO) e sinalizando para um futuro de crescimento populacional negativo, seria racional continuar ampliando a área cultivada, estimular o crescimento da produtividade e, consequentemente, aumentar o volume produzido? Segundo estimativas da FAO, o crescimento da população mundial dentro de 30 anos será sete vezes menor do que foi em 2019: 1,4% ante 0,2 em 2050, sendo que a população brasileira terá queda ainda mais expressiva: 1,6% em 2019 para 0,2% negativos, em 2050.

A família brasileira já tem menos filhos do que a francesa e a norte-americana, informou recentemente o jornal Folha de SP. Segundo o mesmo, estamos inexoravelmente a caminho de nos convertermos numa nação de velhos. O rápido avanço na educação e na urbanização explica parcialmente essa reviravolta. Mais educação está fortemente correlacionado com menos partos.

É muito distinta a realidade atual do Brasil daquela existente nas décadas de 1950 e 1960, quando era comum haver famílias com dez ou mais filhos. Eu mesmo faço parte dessa época e sou 3º de uma família de 14. Justifica-se a preocupação do atual governo com a previdência social, antevendo a existência de muitos idosos usufruindo do benefício do INSS, mas tendo poucos jovens contribuindo para que esse benefício continue sendo ofertado

O consumo de alimentos, por sua vez, se mantém crescente por causa da sobrevida dos idosos. Contudo, estes mesmos idosos que equilibram o balanço de oferta e demanda de alimentos, são a razão pela qual a reforma da previdência não é apenas necessária, mas indispensável.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

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