Eu estava, como de costume, na feira livre de domingo. Começou a chover fino e sem parar. Entre os compradores que circulavam, apareceu um rapaz que carregava uma grande variedade de guarda-chuvas dependurados por todo o corpo. Eu queria comprar um, porque esquecer o guarda-chuva por onde passo é quase um esporte favorito.

- "Quanto é um desses, meu rapaz?"

- "Vinti riáis"... respondeu o moço com sotaque e traços inconfundíveis.

- "Desculpe perguntar, de onde você vem?"

- "Do Líbano" - respondeu.

Ele me disse que já tinha vendido trinta peças até as nove da manhã; e tinha outras cinquenta em seu carro.

Estava evidente para mim porque só ele estava vendendo bem naquela manhã chuvosa!

O Líbano é o território que foi habitado pelos Fenícios – povo que floresceu há quatro mil anos. Eles foram exímios mercadores por terra e mar. Conta-se terem sido eles que organizaram e difundiram o primeiro alfabeto da humanidade.

Tudo bem! Esta é a herança cultural que está sobre os ombros daquele homem, que se chama Salim, e de todos seus conterrâneos. No entanto, sem força de vontade, disciplina e visão de oportunidade, herança cultural nenhuma pagaria suas contas e as de qualquer indivíduo.

Há pessoas acomodadas no Líbano, no Brasil, na China e em todo lugar, próspero ou não. Sair do conforto pessoal e atravessar as ‘portas da esperança’ é uma façanha que exige muito mais que rezar, desejar ardentemente ou nutrir pensamentos positivos. Aí é que está o tal do pulo do gato.

O lado triste dessa história é saber que quando o Salim for rico, muitos dirão que ele teve sorte.