O mundo dos estúpidos, um conceito instigante
Em coletividades, ideias absurdas ganham força, criando um fenômeno semelhante ao comportamento de torcida organizada
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 09 de dezembro de 2024
Em coletividades, ideias absurdas ganham força, criando um fenômeno semelhante ao comportamento de torcida organizada
Abraham Shapiro
A Teoria da Estupidez, concebida pelo teólogo e mártir alemão Dietrich Bonhoeffer, é um conceito instigante e, ao mesmo tempo, desconcertante. Ela nos convida a refletir sobre um problema frequentemente negligenciado, mas incrivelmente poderoso: a estupidez humana, não apenas como uma falha intelectual, mas como uma questão moral e social de vastas consequências.
Segundo Bonhoeffer, o maior perigo não está nos indivíduos mal-intencionados, que agem com objetivos claros, mas nos estúpidos. Estes, sustentados por certezas infundadas e impermeáveis à razão, tornam-se uma força destrutiva que desafia qualquer tentativa de diálogo ou aprendizado. É essa combinação singular de ingenuidade e arrogância que os torna tão resistentes à mudança.
Mais alarmante ainda é o fato de que a estupidez não só floresce em grupo, mas se intensifica. Bonhoeffer observou que, em coletividades, ideias absurdas ganham força e legitimidade, criando um fenômeno semelhante ao comportamento de uma torcida organizada ou “efeito manada”.
Em outras palavras: a confiança dos estúpidos é amplificada pelo coletivo. Assim, a estupidez, longe de ser um traço individual isolado, torna-se uma ameaça social de grande escala.
Entretanto, há um lado quase cômico nisso. A previsibilidade da estupidez permite que, ao menos, possamos identificá-la e nos preparar para lidar com ela. É o que nos permite pensar que talvez seja essa capacidade de observar o absurdo ao nosso redor que nos permite, entre perplexidades e boas risadas, resistir à tentação de sermos também arrastados por ela.

