Eu sou Judeu. Digo isto para que você entenda o que desejo comunicar hoje.Por dois sábados seguidos, a leitura da Torah, a Bíblia Judaica, tratou profundamente de sonhos. Estamos visitando a história de José, o filho de Jacob. Esta passagem foi tema de filmes e até de uma recente novela num canal brasileiro de tevê.Em uma das maiores transformações em toda a literatura, José passa de prisioneiro a primeiro-ministro daquela que era a maior potência econômica de sua época, o Egito.

O que havia em José que o marcou como líder daquele grande império da antiguidade? Ele era um completo estranho à cultura egípcia, um hebreu, um homem que durante anos definhava na prisão sob uma falsa acusação de tentativa de estupro. José tinha três dons que muitos possuem isoladamente, mas pouquíssimos de modo combinado. O primeiro. Ele sonhava. Na primeira parte da história não é possível saber se seus dois sonhos da adolescência – o dos feixes de trigo, e o do sol, lua e onze estrelas se curvando para ele – são um pressentimento genuíno de grandeza futura, ou apenas a imaginação hiperativa de uma criança mimada com delírios de grandeza.

O segundo dom de José é que ele podia interpretar os sonhos dos outros. Muitos séculos depois, Sigmund Freud também se dedicou a essa arte – ou ciência – trazendo muita luz à psicanálise. José interpretou os sonhos do mordomo e do padeiro do faraó na prisão e finalmente também o fez ao rei. Suas interpretações não eram mágicas nem milagrosas. Como ele mesmo declara, ‘são uma concessão de Deus’.

No entanto, o terceiro dom é o mais impressionante. Refiro-me à capacidade de realizar e resolver o problema contido como aviso prévio nos sonhos.Ao ler a passagem, você verá que, ao falar sobre a fome de sete anos que virá após um período de fartura, no mesmo fôlego ele prossegue a considerar uma solução brilhante ao problema. Numa tradução direta do hebraico, estas são suas palavras: "E agora, que Faraó procure um homem perspicaz e sábio e o coloque no comando da terra do Egito. Que o Faraó nomeie comissários sobre a terra para tomar um quinto da colheita durante os sete anos de abundância. Eles devem coletar todo alimento desses anos bons que estão chegando e armazenar grãos sob a autoridade do Faraó para serem guardados nas cidades como alimento. Esse alimento deve ser mantido em reserva para ser usado durante os sete anos de fome que virão sobre o Egito, para que o país não seja arruinado pela fome." (Gênesis. 41: 33-36 ).

Anteriormente, a Torah apresentou José como um brilhante administrador na casa de Potifar e depois na prisão. Mas agora, ele está diante de uma questão nacional. A dimensão e a proporção são imensamente comprometedoras a qualquer posicionamento. Mas sua confiança em Deus e sua autoconfiança não o eximem de expressar-se frente ao rei do mundo de sua época. Isso é o que, afinal, fez dele o vice-rei do Egito.

Isso posto, passarei a compartilhar os três princípios fundamentais da liderança de José para que os assimilemos e ponhamos em prática, na medida do interesse e da possibilidade.O primeiro é: sonhe! Nunca tenha medo de deixar a imaginação voar. Se eu pudesse dar um conselho sobre liderança a alguém, eu diria: “Tenha um tempo para sonhar. Aguce a sua imaginação para isso”. É nos sonhos que descobrimos as nossas paixões. E seguir a paixão que ferve na mente é o caminho mais sublime de viver uma vida gratificante. Sonhar quase sempre é considerado como algo impraticável. Mas não é. Sonhar é uma das coisas mais práticas que podemos ter e fazer. Há pessoas que passam meses planejando suas férias, mas nem um dia planejando a vida. Elas se deixam levar pelos ventos do acaso e das circunstâncias – um erro. Nós estamos vivos quando fazemos coisas acontecerem. Para isto, são os sonhos que nos orientam.

O segundo princípio da liderança de José é: líder é aquele que tem a capacidade de interpretar o sonho das pessoas. Ele sabe enxergar a esperança e os medos nele contidos.Você se lembra do famoso discurso de Martin Luther King: “I have a dream”, "Eu tenho um sonho"? Ele falou sobre a esperança dos afro-americanos e deu asas ao sonho de todos os que se sentiam vítimas do preconceito.Não foram os sonhos de José que o tornaram líder; foram os sonhos de Faraó. Os nossos próprios sonhos nos orientam. Mas são os sonhos dos outros, das pessoas à nossa volta, que nos dão oportunidades.

O terceiro princípio que aprendemos de José é: encontre uma maneira de realizar ou de resolver os sonhos. Veja o problema. Depois encontre uma maneira de resolvê-lo. Um dos trechos mais curiosos da Torah conta do sogro de Moisés, cujo nome era Jetro. Após observar o modelo de gestão de seu genro, Jetro percebe que resultava em estresse e tensão. Então, ele propõe que Moisés escolha pessoas boas e delegue seu fardo a elas. "O que você está fazendo não é bom", diz Jetro a Moisés. Ele declara o problema e em seguida propõe a solução: delegue. Bons líderes são solucionadores de problemas. É fácil a qualquer um ver o que está errado. Mas só um verdadeiro líder é capaz de enxergar um modo de corrigi-lo.A genialidade de José não estava em prever fartura e fome, mas em conceber um sistema de armazenamento que garantisse o suprimento de alimentos nos anos magros e famintos.Sonhos. Compreender e interpretá-los. Encontrar caminhos para transformá-los em realidade. Eis os três dons da liderança. Eis os dons da liderança de José, o hebreu!