Antes de existirem dashboards, planilhas coloridas e consultores com terno slim e vocabulário em inglês, havia uma senhora encantadora chamada Filosofia. Não usava Excel, mas ensinava algo bem mais útil: pensar. Ela nos treinou a perguntar “por quê?”, “para quê?”, “isso faz sentido?” — perguntas que, hoje, deixariam muitos líderes em pânico.

A Filosofia é mãe das ciências. Mas como acontece em tantas famílias, os filhos cresceram, ficaram metódicos, produtivos… e largaram a mãe num asilo de abstrações. Assim, surgiram os gestores “modernos”: técnicos com PowerPoint e discursos banais de liderança, mas sem uma gota sequer de reflexão. Um perigo ambulante com crachá.

Sem filosofia, decisão vira reflexo condicionado. “O relatório disse que sim, então sim.” É o gestor que confunde resultado com propósito, número com pessoa, meta com sentido. Depois se espanta ao ver a equipe desmotivada, o cliente que não volta há muito tempo e o turnover tão alto que parece revolução.

Filosofar no mundo corporativo não é citar Sócrates no café da manhã. É ter coragem de parar e perguntar: “Isso serve pra quê?”, “É justo com quem faz?”, “Gera valor real ou só estatística?” É admitir que nem tudo que dá lucro vale a pena e nem toda ordem é sábia. Um bom gestor filosofa antes de aprovar, senão aprova bobagem com cara de eficiência.

Se Aristóteles liderasse um time hoje, perguntaria: “Qual é o bem maior desse projeto?”. E ao ouvir “Foi ordem do RH”, daria um sorriso paciente e encaminharia o cidadão para reciclagem ética com urgência e sem anestesia.

Gestores pensantes ainda são minoria. Mas os que existem, fazem toda a diferença. E não precisam de gráfico para isso. Basta usarem a mente — e, se possível, também a alma.

mockup