De nada adianta matar o mensageiro, isso não muda a realidade
A verdade nunca teve lugar à mesa dos vaidosos; eles reagem com indignação, rejeitam a mensagem e punem seu portador
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 28 de abril de 2025
A verdade nunca teve lugar à mesa dos vaidosos; eles reagem com indignação, rejeitam a mensagem e punem seu portador
Abraham Shapiro
Nunca tive inclinação para bajulações ou para proferir discursos agradáveis. Como consultor de empresas e mentor de líderes, a minha responsabilidade é clara: identificar falhas, fraquezas e pontuá-las com objetividade a fim de que exista movimento e desenvolvimento.
Não amenizo verdades, nem distribuo tapinhas nas costas em troca de simpatia. Nunca precisei disso. Apenas cumpro o meu papel dizendo o que deve ser dito.
Naturalmente, isso causa desconforto. A verdade nunca teve lugar à mesa dos vaidosos. Eles reagem com indignação, rejeitam a mensagem e, claro, punem seu portador.
Já fui afastado, ignorado, silenciado — o tipo de retaliação que, no começo da carreira, me parecia injusta e, confesso, doía. Mas a maturidade, essa professora paciente e firme, me mostrou que certas histórias seguem roteiros previsíveis. O orgulhoso recusa o espelho, insiste no erro, perde o rumo e depois pergunta por que e como tudo deu tão errado – ironia trágica, quase literária.
Hoje, reconheço este padrão à distância. Onde há rejeição à crítica e à advertência, a queda é apenas questão de tempo. E aquele que ousa apontar o desvio, por mais cuidadoso que seja, acaba rotulado como ameaça. Então vale a questão: matar o mensageiro muda a realidade que gerou aquelas falhas e suas consequências?
O tempo — imparcial, implacável e deliciosamente coerente — se encarrega de responder. O arrependimento chega, sim, e ele salva o pecador da morte. Mas não corrige os efeitos.
Quanto a mim, eu me mantenho fiel às leis da gestão e da liderança, não por teimosia, mas por pura convicção.
E para a hora da minha morte, sugiro desde já um epitáfio: “Aqui jaz aquele que preferiu a rejeição por dizer o que precisava ser dito, a ser aceito às custas do silêncio ou da omissão.”

