“O gato gosta de enxergar o que ele está tomando", explica a veterinária Zandreli Elis Catelli
“O gato gosta de enxergar o que ele está tomando", explica a veterinária Zandreli Elis Catelli | Foto: iStock

“Cadê a água que estava aqui? O gato bebeu”. Nem todos. Em comparação aos cães, os felinos não têm o hábito de beber tanta água, por isso, é preciso estimulá-los. As fontes de água podem servir como apoio, mas existem outras alternativas. Especialista apresenta estratégias para incentivar os bichanos a se hidratarem mais.

“A gente precisa entender que o felino se originou no deserto. O centro da sede dele está adaptado para morar no deserto, por isso ele não tem tanto o hábito de beber água. Por isso, é sempre importante criar alguma coisa para estimulá-lo”, afirma a médica veterinária pós-graduada em medicina felina, Zandreli Elis Catelli.

Por isso, a dica é mimetizar o habitat natural dele. O gato é originalmente um caçador, se esconde para comer e depois caminha para beber água cristalina. “Um dos principais erros é comprar um potinho e colocar do lado da ração. Pela natureza dele, ele caça, se esconde para comer e anda muito para buscar água, por isso recomendo o tutor a deixar o pote mais distante”, afirma.

Outra questão é a visão do felino. Segundo a especialista, eles enxergam melhor a distância, por isso, é comum que alguns gatos coloquem a pata no pote antes de consumir o conteúdo, pela dificuldade de identificar o nível da água. “Então, coloque um pote limpo com água sempre pela boca. Se estiver muito baixa, ele não vai visualizar e vai deixar de beber”, explica.

A médica veterinária recomenda testar os tamanhos de potes (com bocas pequenas e grandes) e não indica os potes de plástico pela questão de acúmulo de sujeira. A questão da higiene é fundamental para manter a saúde do pet, com troca diária da água, limpeza periódica do bebedouro e, no caso das fontes, a troca regular do filtro.

Por conta de alguma patologia, alguns animais têm necessidade de ingestão hídrica maior. Nesses casos, a orientação é preencher o pote com água mais de uma vez ao dia. A orientação também serve para animais que compartilham o bebedouro.

Aqui também vale a ressalva de que alguns animais tem necessidade de uma ingestão hídrica maior por conta de alguma patologia. Sendo assim, pode ser que esse pote precise ser preenchido mais que uma vez ao dia. Quando tem mais de um animal que gosta do mesmo pote também.

FONTES

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| Foto: Arquivo pessoal

Como os gatos possuem dificuldade no consumo da água, as fontes podem servir de estímulo para aumentar a ingestão hídrica dos felinos. Isso porque o barulho e o movimento da água ativam a curiosidade do felino até pela semelhança com o que é encontrado na natureza.

“O gato gosta de enxergar o que ele está tomando. No seu habitat, ele via o rio cristalino, cheio de pontos brilhantes, a fonte faz isso. Então, tem gatos que se atraem por isso, mas não são todos”, afirma. Catelli indica as fontes para aqueles gatos que já possuem o hábito de beber na torneira, pois o dispositivo mantém a água em movimento sem desperdício.

MERCADO

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| Foto: Arquivo pessoal

No mercado, há fontes dos mais vários modelos e bolsos. De plástico, de barro, de cerâmica, de alumínio, em níveis de água diferentes, com torneira, com corredeira de bambu, design inteligente, tecnológicos. Os valores vão de R$ 50 e podem ultrapassar os R$ 600. Como sugestão, a médica veterinária indica comprar um modelo que também seja decorativo para a casa, pois caso o gato não venha a utilizar a fonte, o comprador não vai perder o investimento.

FAÇA O SEU

Porém, é possível fazer um modelo simples em casa utilizando um pote fundo e uma bomba de aquário. Deixe a bomba submersa na água deixando a saída de água virada para cima. Também é possível emendar uma mangueira na saída de fluxo da bomba para que ela alcance o nível da água e criar o efeito da fonte.

Catelli orienta que seja feito o teste com o modelo caseiro para se certificar de que o gato vai realmente utilizar a fonte antes de investir um dispositivo mais caro. Ela também indica redobrar a atenção com a higiene nesse formato.

CUIDADOS

Em caso de queda de energia, o gato não vai usar a fonte, por já estar acostumado com o barulho causado por ela. Nesse ponto, é importante que o tutor esteja atento se o bichano deixou de beber água por esse motivo.

ONDE DEIXAR?

Apesar da praticidade, não é indicado deixar no mesmo espaço a comida, a bebida e a caixa de areia do gato. Da mesma forma, é importante ter mais potes de água espalhados pela casa. Em casa que há cachorros, a médica veterinária indica colocar o bebedouro em superfícies em que o cão não alcance.

RAÇÃO

Além dos potes de água e fontes, Catelli indica que tutores busquem uma alimentação adequada para os felinos para melhorar a ingestão hídrica. “A alimentação natural de gato é rato e o rato tem 70% de água. O homem criou a ração seca e privou a ingestão hídrica automática vinda do alimento”, ensina.

Por isso, é indicado oferecer a ração úmida em detrimento da ração seca. A especialista explica que é mito que os sachês não são saudáveis para o animal. Caso o tutor ainda prefira ofertar a ração seca, ensina a inserir água no alimento.

“Na ração seca ou úmida, pode colocar mais água para ele automaticamente ingerir esse líquido. Se a gente faz isso até o quarto mês de vida, há mais chance de ele comer vários tipos de alimentos. Se criar hábito só com ração seca, eles viciam. Para esses gatos, o ideal é introduzir alimento úmido e sempre com líquido até a quantidade que ele suporte para ele não rejeitar o alimento.” A especialista ressalta que nunca é tarde para começar a inserir a ração úmida, ainda que o gato recuse o alimento na primeira vez, é importante insistir para que ele tenha beba a quantidade necessária ao dia.

De acordo com a veterinária, em média, um gato que consome ração seca precisa ingerir a quantidade de água que seja de 70 vezes o seu peso aproximadamente. Portanto, um gato que pese três quilos deve consumir 210 mililitros de água ao dia. Se o gato for alimentado por um sachê por dia, ele precisa de 50 vezes o peso de água, chegando, a 150 mililitros diários.


Nem todo felino foge de água

Há dez meses, chegou a Céu na nova moradia. A gata de dois anos se adaptou bem ao novo ambiente, um apartamento com dois adultos. Meses depois, mais um novo morador, o Luke, de cinco meses. Menino espevitado, rapidamente foi adotado pela mais velha.

O processo de adaptação foi gradual não só ao novo lar como no consumo de água. “Quando a Céu chegou, ela não bebia muita água e eu fiz várias trocas de potes diferentes para ver se ela se adaptava. Comecei com o bebedouro de plástico, passei para o vidro e aí fui atrás da fonte”, conta Mariana Dutra Torres, 29, empresária e tutora dos felinos.

Céu teve medo das águas. O movimento barulhento da fonte a deixou arredia, mas foi o mesmo som que aguçou seu instinto de caça e, aos pouquinhos, quis saber como funcionava o novo dispositivo do lar. “Acho que ela começou a ter curiosidade maior pela água, coloquei umas pedrinhas de gelo para ela brincar e ela começou a beber. O Luke já chegou gostando da fonte, tudo que se mexe ele fica interessado”, brinca.

A busca pela fonte perfeita se deu por meio de pesquisa e visitas a petshops. Os valores não eram tão atrativos, mas encontrou uma que se encaixava ao perfil ideal. “Tem de diversos valores, umas mais sofisticadas e outras mais simples. Acho que o que varia é o design, tamanho, umas com vários níveis e outras só com um riachinho. O que muda no valor é o design, porque a funcionalidade é a mesma”, opina.

A cada 30 dias é feita uma limpeza mais profunda na fonte, com troca de filtro. Durante a semana, Torres vai inserindo mais água filtrada e troca todo o conteúdo do recipiente a cada 15 dias. A fonte fica ligada 24 horas por dia, mas a tutora utiliza outros meios para incentivar ainda mais os gatos a beberem água, como a disponibilização de um pote mais alto, que é um querido dos bichanos. “Eles adoram, mais do que a fonte, mas o que fez eles a começarem a tomar mais líquido foi a fonte, por ser mais dinâmica e fazer as ondinhas, agora eles bebem bastante nos outros recipientes”, menciona.

A casa tem três bebedouros distribuídos em cômodos diferentes e a tutora também intensifica o consumo hídrico intercalando entre ração seca e úmida diariamente. Para ela, a fonte fez um papel importante de aumentar o interesse dos felinos pela água. “Valeu a pena, porque foi ela que estimulou eles a interagirem mais com água, antes eles não tomavam tanto e hoje eles consomem mais com ou sem a fonte”, afirma.