Imagem ilustrativa da imagem Sertanópolis em clima de lockdown
| Foto: Micaela Orikasa/Grupo Folha

Sertanópolis - “Parece que a cidade inteira está de luto. Está pior que feriado”. No posto de combustível onde Gisele Toqueiro é gerente, o movimento foi praticamente zero na manhã desta quinta-feira (18), primeiro dia de lockdown em Sertanópolis, (Região Metropolitana de Londrina). “Apareceu um ou outro produtor, pessoal da roça mesmo para buscar óleo diesel”, comentou.

Como forma de combater a pandemia de coronavírus, até a terça-feira (23) está vedada a circulação de pessoas e veículos em vias públicas, sendo permitida a saída de casa apenas para aquisição de medicamentos, atendimento de socorro médico para pessoas ou animais, embarque e desembarque em transporte rodoviário ou aéreo e atendimento de urgências ou necessidades inadiáveis próprias ou de terceiros. A prática de esportes, assim como a venda e consumo de bebidas alcoólicas, também estão proibidas.

O município onde vivem pouco mais de 16 mil habitantes já registrou 15 mortes em decorrência da doença desde o início da pandemia. Pela cidade, não havia movimento de pessoas comparado com o número de veículos e um carro de som da secretaria municipal de Saúde circulava pelas ruas pedindo para que a população fique em casa.

No entorno do Terminal Rodoviário, ponto de encontro dos moradores, o cenário era deserto, assim como na pista de caminhada ao redor do Lago Tabocó. A costureira Silmara Aparecida de Souza foi uma das poucas pessoas que a reportagem encontrou na principal via da cidade, a avenida Dr. Vacyr G. Pereira. Ela aguardava uma van para levá-la até a unidade da empresa em Cambé (RML). “Estou indo trabalhar lá (Cambé) para poder receber um pouco, pois aqui está tudo fechado e se eu não trabalho não tenho salário”, desabafou.

A costureira  Silmara Aparecida de Souza aguardava  uma van para ir trabalhar em Cambé
A costureira Silmara Aparecida de Souza aguardava uma van para ir trabalhar em Cambé | Foto: Micaela Orikasa/Grupo Folha

Souza voltou ao trabalho ontem, após ficar 14 dias isolada em casa com o marido e o filho. “Fiz o exame de Covid-19 e deu positivo. Eu sentia muita febre, dor no corpo e até agora estou sem sentir o sabor da comida”, conta, ao defender o lockdown na cidade. “Eu acho que se for para funcionar mesmo todos os municípios da região tinham que adotar essas medidas mais duras porque tem muita gente que trabalha em outras cidades como em Cambé e Londrina. É um vai e vem de trabalhadores”, destacou.

A diarista Cláudia Miguel disse que só saiu de casa nesta quinta para buscar atendimento na Unidade de Atendimento Covid. “Ontem eu comecei a sentir dor no corpo, na garganta e no ouvido e vim fazer o exame. Estou preocupada porque já estava difícil arrumar trabalho, mas acho que fechar tudo é muito importante neste momento”, disse.

Em uma farmácia - estabelecimento com permissão para funcionar – Ingrid Almeida de Melo esperava por um movimento fraco, mas pela manhã recebeu vários pedidos por telefone e WhatsApp. “As pessoas estão nos procurando e levamos até elas. Eu esperava que a cidade ia ficar deserta mesmo, mas vejo carros e pessoas transitando ainda. É uma tremenda falta de respeito”, afirmou.

ATENDIMENTOS

O coordenador da Unidade de Atendimento Covid Eliezer de Jesus Andrade, espera sentir os resultados do lockdown nos próximos dias. Por enquanto, ele tem observado um aumento nas consultas diárias. “Nas últimas semanas estamos atendendo uma média de 50 pessoas por dia, quase metade a mais do que registrávamos antes”, apontou.

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De acordo com ele, tem sido cada vez maior o número de adultos entre 30 e 40 anos com sintomas respiratórios, além de crianças. “Estamos com um caso de criança de cinco anos, com sintomas leves. Esperamos que a população cumpra com o lockdown e continue com os mesmos cuidados a longo prazo”, ressaltou.

O enfermeiro pede ainda que as pessoas não demorem para procurar atendimento após o surgimento de qualquer sintoma respiratório, como tosse, coriza, perda de olfato e paladar, dor ou irritação na garganta e principalmente falta de ar. “Temos percebido que alguns pacientes, principalmente os idosos, nos procuram cerca de uma semana depois dos sintomas e após já terem se automedicado. Eles acabam menosprezando os sinais porque, infelizmente, o discurso da ‘gripezinha’ pegou muita gente”, completou.

Os atendimentos na Unidade de Atendimento Covid, que fica na rua Goiás, 497, acontecem de segunda a sexta, das 8h às 11h30 e das 13h às 16h30. Fora desse horário, o atendimento é realizado no Hospital São Lucas, que funciona 24h na avenida Dr. Vacyr G. Pereira.

A diretora administrativa do Hospital, Giovana Zanin Martins, explicou que a unidade está apta a receber os pacientes mais graves com a doença, mas que não está realizando internações. “Fazemos um primeiro atendimento e organizamos a transferência deles para Ibiporã ou Londrina”, disse. Somente nesta madrugada de quinta, a instituição transferiu dois pacientes.

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FASE 1 e 2

As medidas mais restritivas estão dentro da chamada fase 1 e foi adotada também pelas cidades de Alvorada do Sul, Prado Ferreira, Lupionópolis, Bela Vista do Paraíso, Primeiro de Maio e Assaí. Além da circulação de pessoas e veículos citadas acima, estão proibidas todas as atividades comerciais, de prestação de serviços, incluindo bancos e indústrias.

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As exceções são os serviços de segurança, transporte coletivo e individual. Supermercados, padarias, açougues, restaurantes e lanchonetes podem fazer serviço de delivery e retirada no local, mas com as portas fechadas e com apenas 30% dos funcionários. Postos de combustíveis também são permitidos.

Os municípios de Miraselva, Florestópolis, Jaguapitã, Centenário do Sul, Porecatu, Jataizinho, Guaraci e Tamarana aderiram à Fase 2, desta quinta até o dia 29 de março. Neste período, mercados, supermercados, padarias e açougues funcionarão das 6h às 20h, de segunda a sábado na modalidade presencial, entrega em domicílio ou retirada, observando-se a ocupação máxima de 30%. Aos domingos o funcionamento também será das 6h às 20h. (Colaborou Pedro Moraes)

Serviço: Denúncias sobre aglomerações de pessoas podem ser feitas pelo telefone (43) 3232-8100.

Leia mais: Contra colapso na saúde, cidades da região de Londrina decidem por restrições

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