Todo o fim de ano a preocupação é a mesma para diversos grupos quando o assunto é fogo de artifício com ruído. Em Londrina, desde 2018 está proibido soltar rojões com estampido, o que foi estabelecido por meio de decreto municipal, que regulamentou um artigo do Código de Posturas. O descumprimento da regra incide em multa de R$ 500, valor que pode chegar a R$ 2 mil em caso de reincidência.

Uma das coordenadoras do grupo londrinense Amigos dos Autistas, Luciene Mariano sente de perto todo o sofrimento gerado pelo barulho dos fogos. O filho Matheus, 12, tem TEA (Transtorno do Espectro Autista) de grau severo. “Ele é bem sensível com barulhos, principalmente deste tipo. Toda a época de fim de ano é desgastante. Nunca consegui sair para lugar nenhum por conta disso. O Matheus fica todo desregulado no sono, alimentação e comportamento de modo geral”, relatou.

Muitas pessoas com TEA têm hipersensibilidade sensorial a estímulos do ambiente. Um barulho, por exemplo, pode desencadear crises, medo e pânico. “Sofre o Matheus e a família. Temos feitos vários apelos, mas o ser humano é complicado, difícil de fazer entender que estamos pedindo qualidade de vida. Quando ele era menor dava uma dose de remédio para dormir mais cedo e profundo, mas nem sempre funcionava. Hoje, adolescente, não aceita nem colocar abafador de som (por ser autista severo)”, disse.

ANIMAIS

O pedido por mais empatia também vem da causa animal. Os cães possuem uma audição mais aguçada em relação aos humanos, chegando a ouvir de 10 mil a 40 mil hertz, enquanto as pessoas escutam uma média de 16 mil a 20 mil hertz. Por isso, o som dos fogos deixa os animais agitados. “Animais com pré-disposição convulsionam têm taquicardia. Podem se ferir em portões, com grades, vidros, se estão nas ruas ou têm acesso são atropelados, causam acidentes, fogem”, alertou Carolina Gharib, que integra a coordenação da ONG SOS Vida Animal.

Os tutores podem tentar amenizar a falta de conscientização de quem insiste em soltar rojões com ruído deixando o animal dentro de casa. “Proporcionar um abrigo confortável, em que se sintam seguros. Até brincar no momento da queima”, indicou. A ativista avalia que a legislação ajudou a inibir a queima de fogos com estampido. “Moro na região central e não ouço mais. Porém, em regiões afastadas sabemos que têm festas, queima de fogos.”

DIMINUIÇÃO NAS VENDAS

Comerciante há cerca de 20 anos na área de fogos de artifício, Valdir Camilo Matos afirmou que as vendas caíram aproximadamente 80% desde que a proibição foi determinada. “O fogo com cores não atrai tanto quanto o outro. Até quem compra o fogo colorido não pega mais, porque tem medo. Quem quer adquirir com barulho, aviso da lei. Acaba comprando quem é de outra cidade ou vai para sítio, chácara.”

Com uma loja na zona norte, pensa em mudar de ramo a partir do ano que vem. “Vendíamos muito para igrejas, prefeitura. Agora é mais fim de ano apenas. Este ano vai ser o último (com o comércio). Estou praticamente pagando para trabalhar”, lamentou.

Este ano foram emitidas 28 notificações preventivas para as empresas que comercializam e podem vir a utilizar esses materiais em festas de fim ano

DENÚNCIAS

De acordo com a Sema (Secretaria Municipal do Ambiente), haverá plantão especial de fiscalização para coibir o uso de fogos de artifício durante o Ano Novo, a partir das 23 horas do dia 31. Denúncias podem ser feitas por um número de WhatsApp exclusivo ou diretamente na GM (Guarda Municipal). As autoridades pedem a maior a quantidade de informações e, se possível, fotos e vídeos.

“No Natal tivemos a percepção, comparado com o ano anterior, que teve redução grande. Na medida do possível vamos estar apoiando a Sema ou encaminhando a viatura da guarda para verificação”, destacou o secretário de Defesa Social em exercício, inspetor Angelo Matos. No Ano Novo de 2019 foram mais de 400 denúncias, mas apenas 40 notificações se transformaram em multas

Neste Natal, a Sema recebeu 26 denúncias, sendo três vídeos e duas denúncias com endereço. "Importante frisar que se os que denunciaram enviassem os endereços, mesmo que posterior à queima, os locais seriam notificados, antes das comemorações da passagem de ano", ressalta a Sema.

SERVIÇO - Denúncias sobre a queima de fogos com barulho podem ser feitas por meio do WhatsApp (43) 99994-1721 ou pelo 153.