Nos grupos de mensagens, nos almoços em família, nos encontros com amigos ou nos ambientes de trabalho, a política ocupou um espaço de discussão como em nenhum processo eleitoral anterior no Brasil.

No noticiário, a violência originada pela divergência de pensamentos, especialmente na escolha entre os candidatos Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), revela o quanto a polaridade política chegou a um nível extremo. Além disso, nos grupos de mensagens, as notícias falsas e os discursos de ódio circulam livremente.

Diante de todo esse cenário que envolve os brasileiros a quatro dias das eleições de 2022, é notório o clima de ansiedade, medo e estresse. Um mês antes do início das campanhas eleitorais, uma pesquisa do Datafolha mostrou que 49% dos entrevistados deixaram de conversar sobre política com amigos e familiares para evitar discussões.

O levantamento foi realizado em julho, com 2.556 pessoas em 183 cidades brasileiras. Ainda de acordo com a pesquisa, 54% disseram “ter vivido alguma situação de constrangimento, ameaça física ou verbal em razão de suas posições políticas nos últimos meses”.

A tensão eleitoral é tão real que vem sendo observada desde 2007 pela APA (American Psychological Association), através da pesquisa “Stress in America”. Um ano antes das eleições presidenciais de 2020, mais da metade dos adultos americanos (56%) identificaram a eleição presidencial de 2020 como um estressor significativo.

'PREFIRO NÃO ME ENVOLVER'

O estudante de Direito em Londrina, Gabriel Mendes, destaca que “são tantas informações e discussões inflamadas que até quem não está muito envolvido com política acaba ficando ansioso. Já presenciei discussões na família a respeito dessas eleições, mas prefiro não me envolver. Não é por meio da discussão ou da violência é que a pessoa vai mudar o voto”, diz.

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O doutor em Psicologia Clínica e da Saúde, Paulo Cesar Porto Martins, comenta que existe uma identificação emocional exagerada em relação às eleições, que chega a um nível de crença irracional. “É uma identificação, uma devoção a determinados candidatos que é irracional, ou seja, não se aceita argumentos de racionalidade. Um debate é sadio quando o outro aceita levar em consideração, argumentos de racionalidade”, afirma.

CONFLITO E CONFRONTO

Seguindo este raciocínio, Martins cita a possibilidade de conflito, “que é quando se tem um ponto de vista divergente, mas se permite escutar o argumento do outro e até crescer e aprender com ele. Portanto, o conflito é desejável e necessário. Já o confronto é uma tentativa de anular o outro, não importa a qualidade do argumento ou racionalidade”, explica.

Martins é docente do curso de Psicologia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e destaca que a população em geral já vive um desgaste emocional. “Começou com a pandemia do coronavírus gerando muito medo e uma crise social e econômica mundial. Em seguida, um cenário de guerra que traz insegurança política e também econômica, e agora uma polarização política. Tudo isso gera um clima geral de pânico, intolerância e medo”, diz.

Para o londrinense Wellington Firmino Correia, nesta eleição “as pessoas não estão sabendo levar na boa e estão partindo para a ignorância, sem diferenciar o certo do errado. O clima é muito ruim e enquanto as pessoas estão brigando, usando da violência para defender um ponto de vista, os políticos não estão nem aí”, afirma.

¨'MUNDO VAI CONTINUAR PÓS-ELEIÇÃO'

Se não bastasse toda tensão a poucos dias das eleições, a ansiedade e preocupação com os resultados das urnas também afetam emocionalmente os brasileiros. O psicólogo diz que, independentemente dos resultados, haverá um processo de luto. “Porque quando se tem um vínculo emocional, que eu considero exagerado, quem ‘perder’ essa disputa passará por esse luto. É como se o ‘salvador’ deixasse de existir, assim como a esperança. Será preciso descontruir essa ideia”, declara.

Ainda de acordo com Martins, a pergunta que todos devem fazer neste momento é se vale a pena destruir laços por uma ideologia política. “O mundo vai continuar pós-eleição. Cuide de sua família, de suas amizades, das relações em geral. O que precisamos agora é de mais razão e menos emoção. Mais tolerância, mais cuidado e menos fanatismo”, finaliza.

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