Antes mesmo de Londrina ser cidade, ela já estava lá, sendo uma “porta de entrada” para os pioneiros e a ligação entre o Heimtal e o que hoje é o município de Tamarana. A avenida Duque de Caxias, no centro, sempre foi essencial e um eixo do desenvolvimento que guarda suas raízes até hoje no trecho classificado como histórico, que vai da rua Benjamin Constant até a avenida Juscelino Kubitschek.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto resgata história da avenida Duque de Caxias
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Nos prédios, as fachadas antigas remontam à memória e origem do que se tornou a segunda maior cidade do Paraná. Para valorizar esse passado no presente e no futuro, uma equipe da UEL (Universidade Estadual de Londrina) fez o registro histórico de 120 lotes e edificações, resultando num inventário e roteiro histórico-cultural. Os materiais foram oficialmente entregues à prefeitura nesta quarta-feira (15).

O trabalho foi desencadeado a partir de um projeto de extensão da instituição e durou cerca de cinco anos. “Em 2015 fizemos o cadastramento de cada edificação do trecho histórico, de cada lote que faz frente para a Duque, totalizando mais de 200. Trabalhamos com esse projeto de pesquisa fazendo o cadastro dos projetos originais. No final de 2019 fomos contemplados com uma bolsa de financiamento no Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura). Em 2020 e 2021 fizemos a finalização”, relatou a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UEL, Eloisa Ramos Ribeiro.

Todo o processo contou com cinco arquitetas e professoras e 14 estagiários. O financiamento, no valor de R$ 40 mil, ainda permitiu a impressão de três mil cópias do roteiro, que deverão ser distribuídas em estabelecimentos culturais, museus e bibliotecas. Além disso, com o inventário arquitetônico o poder público poderá incluir a avenida na listagem de interesse histórico. A medida não tem status de tombamento, porém, é um mecanismo de preservação da história com regramento para possíveis mudanças na estrutura dos imóveis.

“O centro já foi na Duque de Caxias. Para chegar em Londrina tinha a estrada dos Pioneiros que desembocava na antiga Paraná, hoje avenida Celso Garcia Cid. A Duque de Caxias já era um eixo consolidado porque ligava os distritos rurais. Na esquina da Celso Garcia com a Duque, por exemplo, foi onde construíram as primeiras atividades comerciais. Esse comércio que foi se formando como conhecemos, a ocupação inicial foi naquele local”, destacou a docente, que foi a coordenadora-geral do projeto.

CORAÇÃO DA CIDADE

Quem vem acompanhando de perto a história e transformações da Duque de Caxias é o empresário Carlos Euzébio, que há 31 anos mantém seu comércio de ferramentas na avenida. O estabelecimento começou com 100 metros quadrados e atualmente passa dos 1.400. “Na época o ramo de ferramentas e máquinas se concentrava aqui. Optamos em vir para a Duque, abrindo a primeira loja, e estamos até hoje”, contou o comerciante, que tem outro estabelecimento na avenida Saul Elkind, na zona norte, e mais uma loja de assistência técnica na própria Duque.

Carlos Euzébio:  “Para nós é uma honra estar na Duque"
Carlos Euzébio: “Para nós é uma honra estar na Duque" | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Londrinense de coração e nascença, Euzébio diz que já convivia com a avenida quando era criança. Hoje ele tem 64 anos. “Para nós é uma honra estar na Duque. Não queremos abandoná-la, mas incrementá-la. É o coração de Londrina e que foi crescendo e desenvolvendo com o passar dos anos.”

RAMAL PARA FERROVIA

O roteiro histórico-cultural destaca que “a posição da Duque no plano urbano coincide com a proposta do ramal dois da Estrada de Ferro Central do Paraná, fato que despertou interesses distintos”, porém, o trecho acabou nunca saindo do papel. O documento ainda explica que a quadra um e lote um, projetada pela CTNP (Companhia de Terras Norte do Paraná), fica na esquina da avenida com a rua Benjamin Constant. “O desenho deste quarteirão foi replicado nas 61 quadras quase idênticas que moldaram a forma urbana inicial de Londrina”, cita o roteiro.

A UEL firmou uma parceria com o Sesc Cadeirão para capacitar uma equipe que irá promover no ano que vem visitas guiadas usando o roteiro como apoio. “Contar essa história e proteger esse patrimônio cultural da cidade são muito importantes”, resumiu Eloisa Ramos Ribeiro.

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NÚCLEO BUSCA MELHORIAS

Ao mesmo tempo que resgatam a história da avenida Duque de Caxias, a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e comerciantes buscam melhorias para a via. O Núcleo Nossa Duque, que integra o programa Empreender, da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), surgiu há cerca de um ano com esse propósito. “É a avenida que leva até a prefeitura cidade. Então, tinha que ser pujante e bonita”, frisa Carlos Euzébio, gestor do núcleo.

Entre as demandas levantadas, e entregues por meio de um ofício à prefeitura, estão a retirada da possibilidade de duplicação da avenida da atual Lei do Sistema Viário; a liberação da faixa exclusiva de ônibus e de estacionamento para veículos na faixa da esquerda entre 9h e 17h; e a elaboração de um programa de revitalização, assim como foi feito na rua Sergipe.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto resgata história da avenida Duque de Caxias
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

“A Duque de Caxias foi muito esquecida pelos nossos governantes. Está envelhecida e a Duque é uma rua de tradição, por isso, esperamos melhorias. O município já admitiu que não vai ter duplicação e precisa tirar da lei para dar segurança para a iniciativa privada voltar a investir. Em alguns horários temos apenas uma via rolante e no meio”, reforçou o comerciante.

A arquiteta e professora Eloisa Ramos Ribeiro, que também faz parte do núcleo, afirmou que tem orientado os empresários para incorporar o valor de patrimônio histórico da avenida. “Poder ser a alavanca de uma nova era de ocupação da via, resgatar fachadas históricas. A percepção que temos depende muito das fachadas das edificações. É possível agregar um valor muito grande na medida que se resgata isso e torna a história conhecida. As pessoas precisam olhar e saber porque aquilo está ali”, elencou.

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