A realidade em que a pessoa está inserida influencia nas escolhas adotadas ao longo da vida, principalmente nas fases consideradas determinantes para formação do perfil. Buscando oferecer autoconhecimento, mostrar alternativas e empoderar crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, foi criada em Londrina a Associação Senda. A entidade funciona há alguns meses, porém, foi instituída oficialmente durante cerimônia na Câmara Municipal no final de setembro.

Mariellem Fernandes, Mariana Fernandes e Gabrielle Santoni
Mariellem Fernandes, Mariana Fernandes e Gabrielle Santoni | Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

O projeto social presta atendimento terapêutico para acolhidos em centros de convivência da cidade. Ao todo são 30 meninos e meninas, sendo 18 oriundos da Epesmel (Escola Profissional e Social do Menor de Londrina), na zona leste, e 12 do Instituto União para a Vitória, região sul. “Senda significa caminho. É justamente o que queremos levar”, resume a presidente da associação, a psicóloga Mariana da Silva Fernandes.

A iniciativa começou a ser elaborada no final do ano passado, quando uma amiga psicopedagoga de Mariana trouxe a demanda da necessidade de atendimento terapêutico para menores de idade carentes a partir da conjuntura que
observou na Epesmel, onde estava trabalhando. Numa conversa com a direção da instituição, casos considerados prioritários foram listados e repassados aos psicólogos voluntários. Posteriormente, a proposta foi levada para o União da Vitória.

“Tenho uma clínica no centro de Londrina e subloco algumas salas para profissionais da área da psicologia. Fui chamando estas pessoas para participarem, foram entrando outros amigos. Os atendimentos, de forma efetiva, começaram há cerca de três meses. Por terem direito ao passe escolar, atendemos os pacientes da Epesmel na própria clínica. Já no instituto vamos até lá”, conta. Os encontros são semanais.

PERSPECTIVAS

De acordo com Gabrielle Chahini Santoni, psicóloga e tesoureira da associação, o acompanhamento perdura o tempo que for preciso. Para ela, alguns desafios no trabalho são a noção das famílias de como funciona a psicoterapia e sua importância e até situações em que os pais não conseguem trazer os filhos. “Se a pessoa se estruturar, ela consegue apontar para si mesma caminhos diferentes do que tem hoje”, destaca.

icon-aspas “Se a pessoa se estruturar, ela consegue apontar para si mesma caminhos diferentes"
Gabrielle Chahini Santoni -

As profissionais voluntárias afirmam que uma realidade comum encontrada em muitos casos atendidos é a falta de perspectiva das crianças e jovens por um futuro melhor. “Acham que só tem aquilo e não podem mais, que não vai ser diferente. Perguntei a um paciente o que ele queria para a vida dele e não soube responder. Disse que ninguém tinha feito este questionamento a ele antes. Outros nunca foram ao cinema. É como se estivessem em um mundo paralelo”, constatam.

ROMPENDO CICLOS

Outro fator realçado é a primordialidade em romper estes ciclos, demonstrando aos pacientes, com idades que variam de 5 a 17 anos, que eles devem e podem mais do que têm. “A psicoterapia ajuda a entender os sentimentos e isso dá noção para saber, por exemplo, o que é uma violência, seja física, psicológica ou verbal. É para abrir os olhos, um processo de autoconhecimento. A terapia quer generalizar a mudança comportamental. Se o ambiente em que estão não favorece isso, queremos ajudar a lidar com este ambiente”, elenca Santoni.

O trabalho ocorre por meio de forma lúdica e muita conversa, dando espaço para que os atendidos possam ser escutados. No instituto União para a Vitória, alguns pais de pacientes também são acompanhados.

Voluntária e responsável por toda a parte administrativa da associação, Mariellem da Silva Fernandes cita que mesmo com o projeto ainda em seu início, é perceptível o avanço das crianças e adolescentes em seus comportamentos, mesmo nas simples atitudes. “Eles chegaram na clínica apreensivos, receosos. Hoje já estão à vontade, brincam, conversam entre si, compartilham com os colegas que estão gostando. Isto nos deixa muito feliz”, valoriza.

MAIS VOLUNTÁRIOS

Com 12 voluntários atualmente, a Associação Senda está procurando mais profissionais da área da psicologia para integrar o projeto. A meta é atender, neste começo de iniciativa, 40 crianças e adolescentes. Entretanto, o atual número de profissionais não consegue absorver toda esta demanda, que é ainda maior se for considerada toda Londrina, frisa Mariana da Silva Fernandes, presidente da organização.

“Temos diversos centros de convivência que prestam serviço para crianças e adolescentes em vulnerabilidade no município. O Caps (Centro de Atenção Psicossocial) não atende toda esta demanda e não é um atendimento tão amplo como estamos ofertando com a psicoterapia. Dentro dos centros de convivência existe o acolhimento, mas, não o tratamento e ele é fundamental em uma realidade de violência e drogas”, exemplifica.

icon-aspas "Nosso desejo é se tornar referência"
Mariana da Silva Fernandes -

Os requisitos para se tornar voluntário é ter registro regularmente ativo junto ao CRP (Conselho Regional de Psicologia), tempo para os atendimentos e reuniões semanais para avaliação dos casos, além de muito comprometimento em se doar pelo próximo. “Lidamos com o sofrimento das pessoas. Não pode largar o atendimento durante o percurso. É uma grande responsabilidade”, orienta Gabrielle Chahini Santoni, tesoureira na associação.

Entre os planos dos integrantes da Senda está estender a iniciativa para ofertar outros serviços, como nas áreas de fonoaudiologia e psicopedagogia. “Queremos ter uma sede própria, já que a clínica não comporta tantos atendimentos. Nosso desejo é se tornar referência neste trabalho, para quem não tem dinheiro para pagar ter acesso”, projeta Fernandes.

Para isso, a associação está se adequando a todas as regras burocráticas exigidas por lei. Outra ideia é firmar parcerias com instituições de ensino superior para que alunos possam fazer seus estágios. “Conforme formos evoluindo, queremos arrecadar roupas, sapatos e alimentos para os pacientes e suas famílias. É olhar o ser humano de todas as formas. Muitos não têm desenvolvimento porque estão com fome por não ter o que comer”, reflete a presidente da associação.

SERVIÇO -Mais informações para ser voluntário no projeto Senda podem ser obtidas por meio dos telefones (43) 3337-7793, (43) 99611-4156, (43) 99667-6671 ou e-mail [email protected] .

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