“Não é só carregar bandeja. É desde abordar de forma correta o cliente, saber abrir uma garrafa na mesa, o pós-atendimento", ensina  o fundador do projeto, Claudir Pedro Sanches
“Não é só carregar bandeja. É desde abordar de forma correta o cliente, saber abrir uma garrafa na mesa, o pós-atendimento", ensina o fundador do projeto, Claudir Pedro Sanches | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

A dinâmica aplicada lembra a de um restaurante. Mesas, cadeiras, representação de clientes escolhendo seus pratos, garrafas, garçons com as bandejas andando pelo espaço. Tudo isso dentro de uma sala que costuma ser utilizada para aula, mas, que no projeto “Formando garçons acima da média”, serve para dar qualificação e impulso para a vida no mercado de trabalho.

A iniciativa começou em setembro deste ano e tem como objetivo ensinar jovens a partir dos 16 anos a profissão de garçom, com todas as técnicas necessárias. “Não é só carregar bandeja. É desde abordar de forma correta o cliente, saber abrir uma garrafa na mesa, o pós-atendimento. É tudo que se vive na prática”, destaca o fundador do projeto, Claudir Pedro Sanches, que tem 30 anos de experiência nesta profissão.

A ideia do projeto social surgiu há cerca de dois anos, porém, só agora ele conseguiu colocá-lo em prática. “Procurei alguns professores da UEL (Universidade Estadual de Londrina) para que me dessem algumas dicas e chamei meu amigo, que também atua nesta área, para colaborar. Ele topou na hora”, relembra. O passo seguinte foi levar a concepção para algumas escolas, para cederem o lugar e incentivar os próprios alunos das instituições.

O Colégio Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa, no conjunto Vivi Xavier, zona norte, foi o primeiro. Poucas semanas depois foi a vez do Colégio Estadual Professora Beahir Edna Mendonça, no jardim Paraíso, também na região norte. Ao todo são 27 jovens somando as duas unidades. “Fui de sala em sala convidando, independentemente de classe social. Usamos um espaço que a unidade escolar oferece justamente para estarmos mais perto deles e facilitar”, explica.

DEDICAÇÃO

As aulas ocorrem sempre às quintas-feiras, entre duas e três de duração, sendo no Paraíso no período vespertino e no Vivi Xavier a noite. O dia foi escolhido por ser a folga de “Pedrão”, como é conhecido, e de seu parceiro de projeto, Paulo José dos Santos. Tudo é sem custo. “O que cobramos e queremos receber é dedicação e comprometimento deles”, citam. “Nos disponibilizamos a fazer o bem, não importa se é no dia do nosso descanso”, acrescentam.

Ao todo são seis aulas de curso e o objetivo é que ao final sejam entregues aos participantes uma calça preta e um sapato na mesma cor, já que a vestimenta é considerada o uniforme do garçom. “Às vezes eles poderão encontrar a oportunidade, mas, por conta da roupa perderão a vaga e desistam. As calças e sapatos vão ser comprados com ajuda de algumas pessoas que se dispuseram, inclusive, clientes de onde trabalho. Porém, continuamos precisando de ajuda”, ressalta Sanches.

DOAÇÕES

Os materiais utilizados na formação também são oriundos de doações, como as garrafas de vidro e latas para serem colocadas nas bandejas. Segundo Paulo Santos, a intenção é deixá-los preparados para quando chegar a maioridade. “Como os estabelecimentos vendem bebidas alcoólicas, elas só podem trabalhar a partir dos 18 anos. Estamos ensinando e já os orientando para providenciar carteira de trabalho, confeccionar currículo.”

Aqueles que se enquadrarem na faixa etária já poderão ser direcionados para o mercado de trabalho pelos “professores”. “Eles estão preparados para trabalhar em qualquer lugar, seja restaurante, casa noturna. Isso daqui é a realização de um sonho. É a chance de mudar a mentalidade de muitos jovens e dar uma ocupação a eles”, valoriza o fundador do projeto, que junto com Santos estudou no Colégio Beahir Edna Mendonça. Atualmente, repassam seus conhecimentos até para filhos de colegas de classe.

"Foi uma porta que se abriu; espero ser uma ótima garçonete”, conta Nicolly Mayara da Silva
"Foi uma porta que se abriu; espero ser uma ótima garçonete”, conta Nicolly Mayara da Silva | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

‘GRATIDÃO SEM EXPLICAÇÃO’

Aos 17 anos, Nicolly Mayara da Silva viu no convite para o curso uma oportunidade para, em breve, conseguir o primeiro emprego. “Foi uma ‘porta que se abriu’. Espero ser uma ótima garçonete”, projeta a aluna do Colégio Estadual Professora Beahir Edna Mendonça, localizado no jardim Paraíso, zona norte. “Me chamou atenção por ser um curso gratuito. Quando vemos em algum lugar sempre é cobrado, entretanto, quem mora na periferia não tem condições de bancar. Tem nos ajudado”, afirma Felipe Moreira Mussere, 17.

Para ambos, o trabalho era mais fácil à primeira vista. Vivenciando a realidade da profissão de garçom mudaram de opinião. “Na prática é mais complicado. Existem várias regras, o trato com o cliente, um vocabulário mais formal”, elenca Silva. “Tem a questão de manusear a bandeja, saber manter o equilíbrio. É um trabalho que atua com pessoas, então, tem que ser calmo, mesmo com o cliente tendo um temperamento explosivo, por exemplo. Espero ter sucesso nessa área”, diz Mussere.

De acordo com Pedro Sanches, o segredo em ser um bom garçom está em tratar todos com dignidade e ter muita disposição. “O cliente vai onde é bem tratado. O garçom é a ‘vitrine’ da casa”, ressalta. “A pessoa que trabalha com isso tem que, principalmente, gostar do que faz. Participar deste projeto é uma gratidão sem explicação. Quem faz o bem recebe o bem”, completa Paulo Silva.

A dupla agora irá levar o “Formando garçons acima da média” para outras duas escolas, onde já foi combinado com a direção, sendo uma no conjunto Semíramis e Luiz de Sá, ambos na zona norte de Londrina.

SERVIÇO - Quem quiser colaborar com o projeto pode entrar em contato pelo telefone (43) 98408-2226