População reclama do 'abandono' do Bosque Central de Londrina
Sujeira e mau cheiro causados pelos pombos são as principais reclamações de pessoas que moram ou trabalham perto do espaço de lazer
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 20 de junho de 2025
Sujeira e mau cheiro causados pelos pombos são as principais reclamações de pessoas que moram ou trabalham perto do espaço de lazer
Jéssica Sabbadini

Caminhar pelo Bosque Central Marechal Cândido Rondon, no centro de Londrina, pode parecer um desafio, já que o mau cheiro e a sujeira trazidos pelos pombos causam transtornos para quem precisa passar por ali todos os dias. Bancos, mesas e corrimãos das escadas estão tomados pelas fezes dos animais, problema que perdura há muitos anos.
A reportagem da Folha caminhou pelo Bosque Central durante a manhã desta sexta-feira (20) e conferiu de perto a situação do espaço público. A limpeza no local é feita diariamente, de acordo com a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), de segunda-feira a domingo. Com apoio de um caminhão-pipa, os agentes lavam o chão e o mobiliário urbano com água pressurizada. Apesar disso, o problema sempre retorna no dia seguinte.

'Fica escorregadio'
Hipertenso e diabético, o militar aposentado Aladino do Nascimento, 68, passa pela região quase todos os dias, já que costuma caminhar no centro para controlar os problemas de saúde e fazer uma atividade física. “Quando chove, fica muito escorregadio”, relata, complementando que a situação traz riscos para as pessoas de mais idade, ainda mais pelo bosque ser um dos principais caminhos de acesso à Catedral de Londrina.
Ele também aponta que o local poderia servir de cenário para as pessoas que que se casam em um cartório ao lado do bosque, na esquina da Rua Piauí com a Avenida São Paulo, ou na Catedral, e querem fazer um registro. Mas do jeito que está, segundo ele, é impossível, já que o mau odor toma conta e afasta os visitantes. A reportagem ficou por cerca de trinta minutos no local, sendo que a sensação é de que o odor só piora conforme os minutos passam.
Ele ressalta que muitas propostas já foram colocadas em discussão para resolver o problemas, mas que nenhuma delas seguiu adiante. “Seria viável apresentar um projeto para retirar definitivamente os pombos daqui. Tem que haver uma solução”, cobra, complementando que o cenário agrava ainda mais a sensação de abandono do centro de Londrina.

Falta de vontade
O protesista Valter Fernandes, 78, concorda com a necessidade de encontrar uma solução para o problema, mas reforça que os animais também são seres vivos e precisam ser respeitados. É necessário, segundo ele, existir uma discussão envolvendo toda a sociedade, incluindo a população e as universidades.
“O serviço que eles fazem hoje não é bom. É impossível frequentar a praça da maneira que está. O que nós podemos fazer é reunir a sociedade para encontrar uma solução, caso contrário vai ser muito difícil”, lamenta.
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Abate, repelente, canhão de ar
O abate dos pombos já foi colocado em pauta, assim como outras medidas que, a princípio, também não foram para frente. Repelentes, canhão de ar, poda de árvores também foram testados nos últimos anos.
Para Fernandes, a morte nunca deve ser vista como solução para nada. “Com tantos especialistas no mundo que conseguem fazer uma bomba atômica, como não conseguem pensar em uma maneira de resolver o problema?”, questiona.
Para ele, o cenário se resume em uma falta de vontade política aliada à falta de posicionamento por parte das entidades voltadas à proteção dos animais.
'Cortar volta'
Ao conversar com a reportagem, a advogada Thamires Costa, 27, disse que pensou em ‘cortar volta’ do Bosque Central para evitar o mau cheiro, o que ela fazia com frequência quando era mais jovem e ia com os amigos até um shopping da região central.
Ela garante que, na época, a situação era ainda pior. Para ela, o problema é complexo por envolver animais, mas sugere que fosse feito um espaço reservado para os pombos dentro do próprio bosque para as aves.

Região histórica
O comerciante Antônio Tomori, 65, frequenta a academia ao ar livre do Bosque Central pelo menos umas três vezes na semana para se alongar, e permanece entre 15 e 20 minutos. “O cheiro e a meleca são muito desagradáveis”, lamenta, ressaltando ainda que a inalação do odor pode causar doenças na população.
“O centro é o cartão-postal da cidade, é uma região histórica”, ressalta. Ele também reforça que a limpeza só é uma tentativa de encobrir a situação, já que o problema retorna sempre na manhã seguinte.
Acil busca soluções junto a pesquisadores
O vice-presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Gerson Guariente, destacou que a superpopulação de pombos deve ser tratada com urgência, pois é uma questão de “saúde pública”. “Já está indo além do mau cheiro e do aspecto visual. Estamos na iminência de um problema de saúde muito grave. Temos procurado meios de conversar com técnicos e pesquisadores que consigam nos dar algum caminho para solucionar essa questão”, disse.
Segundo ele, a Prefeitura tem tardado em resolver o problema, mas as reclamações constantes de comerciantes da região fizeram a Acil buscar soluções de maneira autônoma com pesquisadores especialistas no assunto.
“Temos uma dificuldade muito grande de fazer qualquer movimentação dentro da área próxima ao bosque. Essa população de pombos, que está descontrolada dentro da área central, está provocando problemas generalizados. Temos reclamações de diversos lojistas, que não conseguem manter limpas as suas áreas”, afirmou, salientando que a questão precisa ser resolvida “de uma vez por todas”.

Soluções ‘bem pensadas’
Guariente ressaltou que as medidas tomadas pela Acil têm como objetivo elencar uma série de possibilidades para levar à Prefeitura soluções “bem pensadas e concretas”, diferentemente das demais já testadas no local, que surtiram efeito.
“Alguns anos atrás, houve uma tentativa de se resolver a questão via Prefeitura. Acabou que não deram continuidade e houve uma série de tentativas para atenuar, com iluminação, gel, som, mas nada funcionou. Então, estamos levando pesquisadores que tenham conhecimento técnico sobre o assunto para que seja referendado, porque tem que passar por aprovações e autorizações ambientais”, pontuou.
O vice-presidente disse que a sujeira dos pombos impede que o centro tenha uma “vida normal”, o que afeta diretamente o comércio municipal. “Queremos fazer eventos dentro do bosque, mas não conseguimos. Os eventos que fazemos nas praças estão limitados. Então, temos muita dificuldade de ter uma vida normal nessa região.”
A reportagem questionou a Prefeitura de Londrina sobre a situação e aguarda um posicionamento. (Colaborou Bruno Souza)
(Atualizada)

