A Polícia Civil vem conduzindo o inquérito do ataque a uma igreja evangélica em Campo Mourão (Centro-Oeste), executado no sábado (8), contra a Igreja Evangélica Luterana Livre Central. A assessoria de imprensa da Polícia Civil informa que tem ouvido testemunhas da ação que incendiou a entrada da igreja. A equipe também está levantando câmeras de segurança das imediações que possam ter filmagens do autor do ataque. Uma das testemunhas declarou aos policiais que viu um homem que pilotava uma motocicleta CB 300 preta na madrugada de sábado. Ele parou em frente ao templo, retirou uma garrafa plástica de combustível de dentro de uma mochila e, após acender o pavio, fugiu do local.

O pastor Flávio José de Almeida, da Igreja Evangélica Luterana Livre, afirma que o episódio deixou todos preocupados com a situação. “Estamos muito assustados. Graças a Deus não foi muito grave, mas é muito preocupante. A esposa do Pastor José Oséas (Pereira da Silva), que reside em uma edificação anexa à igreja, chegou a questionar os bombeiros se já houve algum caso semelhante em Campo Mourão e eles relataram que nunca tinham visto uma situação como essa”, destaca.

“Não há pista de quem seja a pessoa que fez isso ou o porquê de ter tomado tal atitude. Isso é um ponto de interrogação enorme. O papel da igreja é levar paz e conforto aos fiéis. Com certeza deve ter alguém que não simpatiza com a igreja ou com o pastor, mas chegar a esse ponto é seríssimo”, declara Almeida.

Segundo ele, há a possibilidade do ataque ser motivado por intolerância religiosa. “Se for isso, só por Deus mesmo. Cremos em Deus que esse rapaz se arrependa. Acho difícil que ele se entregue voluntariamente, mas espero que Deus toque o coração dele e ele se arrependa. Esperamos que o caso seja solucionado para que não se repita mais nas igrejas, não só em Campo Mourão”, destaca.

As chamas atingiram a porta, o tapete para limpar os pés e um aparador, usado para colocar o vaso de flor e uma bíblia. Uma testemunha viu toda a ação e chamou os bombeiros imediatamente e isso possibilitou que as chamas fossem contidas, antes que se alastrassem pelo restante do prédio.

Houve um aumento de 56% denúncias de intolerância religiosa no Brasil registradas no primeiro semestre se comparados os números de 2018, quando foram registradas 211 ocorrências), para 2019 -quando os números saltaram para 354 denúncias- pelo disque 100 (Disque Direitos Humanos), ligado ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Atualmente as religiões de matriz africana são as mais atacadas, com 61 denúncias. Em segundo lugar vem a religião espírita, com 18 casos, seguido pela igreja católica, com 12 ataques contra ela, empatada com as Testemunhas de Jeová. A igreja evangélica denunciou 11 ataques contra ela, seguida por três denúncias de outras igrejas cristãs. Os budistas denunciaram dois ataques contra eles e ateus e protestantes registraram 1 ataque cada. Outros denunciantes de 233 ataques registrados no disque 100 não informaram a qual religião pertenciam.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 assegura o princípio da liberdade religiosa. Por meio dela as pessoas podem defender a sua crença e proferir publicamente as suas convicções religiosas ou não religiosas. O Brasil tem normas jurídicas que visam punir a intolerância religiosa. A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997, considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões.

O inciso VI do artigo 5º da Constituição Federal de 1988 diz que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

A Constituição Federal assegura que o Brasil é um país laico, ou seja, não deve existir nenhuma religião oficial, devendo, porém, o Estado prestar proteção e garantia ao livre exercício de todas as religiões, criando uma divisão entre Estado e as religiões, proscrevendo a intolerância e o fanatismo.

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