Equipes trabalham para identificar os pontos em que há mortandade; trabalho de análise deve durar pelo menos seis meses
Equipes trabalham para identificar os pontos em que há mortandade; trabalho de análise deve durar pelo menos seis meses | Foto: IAP/Divulgação



O IAP (Instituto Ambiental do Paraná) está coletando amostras de peixes, da água e de segmentos do solo da Bacia Hidrográfica do rio Piquiri para investigar a morte de 50 toneladas de peixes das espécies piapara, piau e mandi, que teria ocorrido no dia 12 de fevereiro. Até que se tenha informações suficientes, a pesca de qualquer modalidade em toda a extensão do rio - 660 quilômetros - está proibida por meio da portaria 025, publicada na última sexta-feira (22) pelo órgão. A fiscalização ficará por conta de funcionários dos escritórios do IAP e a Polícia Ambiental. O rio Piquiri nasce na Serra de São João, entre Turvo e Guarapuava (Centro), e desagua no Rio Paraná, entre Terra Roxa e Altônia (Oeste). Para pesquisador, o que aconteceu no rio é uma tragédia anunciada.

Equipes estão trabalhando nesta semana, em diferentes locais para identificar os pontos em que há mortandade. A suspeita inicial é de que o problema teve início nas imediações da confluência do rio Cantu com o Piquiri, próximo ao município de Ubiratã (Centro-Oeste). O chefe do IAP em Toledo (Oeste), Taciano Maranhão, afirmou que a maior concentração de peixes mortos se deu em um raio de aproximadamente 300 quilômetros do rio, nas proximidades do município.

"Precisamos saber se essa contaminação é permanente ou não. Os primeiros resultados devem sair nesta semana, mas para uma análise definitiva precisamos ter uma frequência de captura, já que a água se renova com a correnteza e os peixes nadam de 50 a 100 quilômetros rio abaixo ou acima. Temos que ter a certeza de que não estamos coletando peixes em trânsito", explicou. Esse trabalho deve ser realizado em um período mínimo de seis meses.

Maranhão classificou o evento como alto grau, não apenas pela quantidade de peixes mortos, mas pelo fato de a maior parte estar em período de reprodução. "Isso pode comprometer a prole não é só o Rio Piquiri, mas também no Rio Paraná", comentou. No documento oficial, o IAP traz a preocupação quanto ao risco de contaminação e à saúde das pessoas que pescam e consomem esses peixes, à preservação de espécies nativas e aponta a necessidade de ter conhecimento técnico sobre a causa da morte para futuras deliberações pelas autoridades competentes.

AGROTÓXICOS
Maranhão é doutor em engenharia de pesca e avalia preliminarmente que o evento foi ocasionado pela prática de ceva (espécie de ração) para concentrar peixes em determinado ponto. "Acredito que muitos desses grãos possam ter concentração de agrotóxicos", apontou. A professora doutora Rosilene Luciana Delariva, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), afirma que estudos já indicam contaminação difusa por agrotóxicos em toda a bacia hidrográfica do Piquiri.

"A bacia do Piquiri é considerada bastante produtiva do ponto de vista do agronegócio, de produção de grãos, o que significa que o uso de agrotóxico, de adubação na bacia já vem ocorrendo há muitos anos. Me parece que esse evento pode ser um caso de contaminação aguda, ou seja, que aconteceu em uma única vez. Mas existem inúmeras possibilidades", pontuou.

O professor do departamento de Biodiversidade, Almir Cunico, do setor Palotina da UFPR (Universidade Federal do Paraná), explicou que a contaminação por ceva é possível. "Quando se coloca um excesso de comida, ela se dissolve e aumenta a proliferação de micro-organismos na água, podendo ocasionar uma redução da concentração de oxigênio na água e assim, provocar a morte dos peixes."

MULTA
O rio Piquiri nasce na Serra de São João, entre Turvo e Guarapuava, e segue até desaguar no Rio Paraná, entre Terra Roxa e Altônia. A proibição da pesca envolve todo o Rio Piquiri e seus afluentes diretos e indiretos, desde a nascente até sua foz. Quem não respeitar a regra estará sujeito às penalidades previstas na Lei de Crimes Ambientais (n° 9.605) e no Decreto n° 6.514, com multa que pode variar de R$ 700 a R$ 100 mil e apreensão do material de pesca.

No dia 20 de março, representantes das prefeituras, associações de pescadores amadores e profissionais e pesquisadores estarão reunidos no Ministério Público de Campo Mourão, junto dos comitês de bacia hidrográfica dos rios Ivaí e Piquiri, para deliberação de propostas a fim de se evitar mais impactos negativos.

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-'É uma tragédia anunciada', afirma pesquisador