A Polícia Federal, em conjunto com a Receita Federal do Brasil, deflagrou na manhã desta terça-feira (9) a operação “Modo Avião”, cujo objetivo é desmantelar uma organização criminosa instalada em Londrina, voltada à prática do crime de lavagem de dinheiro e importação irregular de produtos eletrônicos.

Foram cumpridos 56 mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva nos estados do Paraná, São Paulo e Ceará. Uma pessoa, investigada como um dos coordenadores do esquema, foi presa em uma residência de luxo na região da Gleba Palhano, zona sul de Londrina. O outro suspeito está foragido.

dois caminhões

Lojas de produtos eletrônicos, especializadas em aparelhos celulares, foram alvo da operação que envolveu 240 policiais federais e 60 servidores da Receita Federal Em Londrina, 13 lojas do Camélodromo, na região central, e uma grande loja na zona leste da cidade, tiveram todos os produtos apreendidos no início desta manhã, em um volume de mercadorias que mobilizou dois caminhões da Polícia Federal.

O delegado de Polícia Federal, Vinícius Faria Zangirolani, responsável pela operação, explicou que os dois mandados de prisão são contra os suspeitos de coordenar todo esquema, desde o fornecimento dos celulares que eram importados ilegalmente do Paraguai, até a lavagem de dinheiro, cooptando contadores que abriam empresas de fachadas na cidade de São Paulo.

“Essas empresas eram utilizadas para movimentar os valores dos crimes de importação ilegal e de lavagem. A movimentação de todos os envolvidos foi de R$ 1 bilhão e 800 milhões, entre 2019 e 2021. Até o momento, já temos em torno de 15 pessoas identificadas no esquema”, afirma.

20 ESCOLAS PÚBLICAS

Nesta terça, foram bloqueados mais de R$ 428 milhões em várias contas bancárias de pessoas e de empresas utilizadas no esquema de lavagem de dinheiro.

“Todo esse valor em impostos sonegados equivale à construção de 20 escolas públicas ou então, a construção de 16 viadutos como o da avenida Leste-Oeste com a Rio Branco. São valores que poderiam estar sendo utilizados pela sociedade”, comparou o delegado da Receita Federal em Londrina, Cezar Cardoso.

BASE DA ORGANIZAÇÃO

As investigações começaram há cerca de um ano e meio, com informações repassadas à Polícia Federal pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), através de alguns relatórios financeiros com indícios de lavagem de dinheiro.

Segundo Zangirolani, o núcleo da organização em Londrina era o fornecedor, responsável por pegar os aparelhos celulares no Paraguai e trazer para o Brasil. “Aqui funcionava uma espécie de base para eles. Daqui eles revendiam para os lojistas de Londrina e de outras cidades e estados como São Paulo e o Ceará, onde haviam núcleos de receptadores”, diz.

Imagem ilustrativa da imagem Grupo de Londrina comandava esquema bilionário em vários estados
| Foto: Divulgação/PF Londrina

VIDA LUXUOSA

Ainda de acordo com o delegado, os envolvidos tinham uma vida bastante luxuosa. Foram apreendidos carros de luxo, como Camaro e Jaguar. “Verificamos que a grande maioria dos investigados nunca teve emprego lícito, um vínculo empregatício que justificasse a vida que eles levam”, comenta.

Os investigados responderão pelos crimes de descaminho, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa, cujas penas máximas somadas atingem 22 anos de reclusão.

Imagem ilustrativa da imagem Grupo de Londrina comandava esquema bilionário em vários estados
| Foto: Divulgação/PF Londrina

LEIA TAMBÉM:

+ Suspeito de liderar quadrilha é preso pela PF em condomínio de Cambé

CAMELÓDROMO DE LONDRINA

Ao todo, 13 lojas do Camelódromo de Londrina e outras duas em uma galeria na rua Sergipe, na região central, foram alvo dos policiais nas primeiras horas desta terça-feira. Os acessos ao local foram bloqueados por volta das 5h e só foram liberados perto das 9h. Segundo o delegado Zangirolani, essas lojas recebiam os produtos importados ilegalmente e também lavavam dinheiro. O Camelódromo é formado por 360 lojas.

“A preferência pelos eletrônicos importados ilegalmente estava justamente na possibilidade deles venderem a um preço abaixo do mercado e mesmo assim, terem uma margem de lucro mais alta porque não recolhiam todos os impostos”, explica.

Imagem ilustrativa da imagem Grupo de Londrina comandava esquema bilionário em vários estados
| Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

A maioria dos produtos é aparelho smartphone de última geração. “Estimamos que somente nessas lojas aqui de Londrina foram apreendidos cerca de R$ 3 milhões em mercadorias. A legislação prevê que a Receita pode fazer o leilão desses produtos ou destiná-los a órgãos públicos ou a entidades assistenciais”, afirma o delegado da Receita Federal.

Ele ressalta que os demais trabalhadores e lojistas do Camelódromo não precisam ficar preocupados. “Atingimos os donos de todas essas mercadorias. As lojas que foram fiscalizadas hoje, estão dentro do esquema criminoso, foram lacradas e as demais podem continuar com suas atividades”.

Imagem ilustrativa da imagem Grupo de Londrina comandava esquema bilionário em vários estados
| Foto: Divulgação/PF Londrina

Com o policiamento no entorno do Camelódromo, vários lojistas abriram as portas um pouco depois das 9h. O dono de uma lanchonete nas proximidades contou à reportagem que ao chegar no trabalho por volta das 6h, se assustou com a movimentação de viaturas e policiais. “A princípio, pensei que fosse um incêndio. Os policiais me liberaram para passar, mas pediram para esperar a operação terminar para eu abrir as portas. Nunca vi nada parecido”, comentou.

Até as 10h, o Camelódromo permaneceu com as portas fechadas. Somente funcionários e lojistas eram liberados pelo segurança, para acessar o prédio. Do lado de fora, muitos clientes aguardavam a abertura do local. A partir da apreensão de documentos e computadores de uso pessoal dos suspeitos, a Polícia Federal fará uma análise detalhada e responsabilizará outros envolvidos que possam ter participação no esquema criminoso.

****

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1