Nos últimos dias, a violência contra a mulher ganhou novos holofotes e acendeu uma campanha nas redes sociais com a hashtag #embrigademaridoemulhereusalvoamulher, uma alusão ao ditado “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. A comoção surgiu pelas imagens do DJ Ivis agredindo a ex-mulher Pamella Holanda em casa, diante de pessoas que não fazem nada para impedir a violência.

Imagem ilustrativa da imagem Grupo de homens conversa sobre violência contra mulheres
| Foto: iStock

Enquanto o movimento mobiliza milhares de pessoas nas redes, um grupo de homens vinculado a instituições religiosas realiza um curso com oficinas virtuais sob o lema “Violências Masculinas Dentro e Fora dos Espaços Religiosos”. A ideia é dialogar com outros homens e sensibilizá-los para o tema.

Intitulado Homens EIG, o grupo integra o coletivo EIG (Evangélicas pela Igualdade de Gênero), que conta com diversos núcleos pelo País, inclusive em Londrina. “Fomos convidados pelo EIG porque já atuamos, de certa forma, com essa abordagem com outros homens”, comenta o presbítero Hermes Mender Rangel, da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.

A ideia do grupo, segundo ele, é dar apoio e conversar com o público masculino que está nos espaços religiosos para identificar essas violências, mas também para multiplicar essa causa fora da igreja também. “Quanto mais homens estiverem nessa reflexão, o caminho da não violência pode ser alcançado. A caminhada é longa. Digo que a gente tem que ir conversando com os homens desde quando eles nascem”, ressalta.

Rangel é um dos facilitadores voluntários do “E agora, José?”, grupo formado em 2014 em Santo André (SP) para envolver homens da Central de Penas Alternativas em rodas de conversa sobre violência. O grupo atua em parceria com o Poder Judiciário, o Fórum de Gênero e Masculinidades do Grande ABC e a prefeitura de Santo André.

“Eles chegam muito bravos, mas conforme vamos avançando e eles refletindo, muitos passam a perceber que alguma coisa foi inadequada por parte deles. Esse trabalho é a materialização dos grupos de reflexão preconizados pela Lei Maria da Penha. Já atingimos mais de 300 homens através dos encontros semanais e não houve, até o momento, nenhuma reincidência”, comenta Rangel.

FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

O pastor e membro do Homens EIG, Daniel Antônio dos Santos, da Comunidade Cristã na Zona Leste de São Paulo, explica que a criação do grupo é resultado da urgência que o tema tem diante da realidade violenta no País. “O Brasil é o quinto país em feminicídio e é o primeiro no mundo que mais mata pessoas LGBTQIA+. As mulheres que sofrem violência levam, em média, sete anos para fazer a denúncia por uma série de motivos, entre eles, o fato de ter que entrar em uma delegacia que é um ambiente majoritariamente masculino”, diz.

Nesse contexto, Santos destaca que muitas mulheres acabam procurando uma liderança religiosa antes de irem à delegacia. “Uma das razões de muitas mulheres não denunciarem é por acreditar que a palavra delas vai ser desmentida. Elas então vão à igreja justamente para buscar auxílio. No entanto, no meio evangélico, no qual eu convivo, muitas lideranças têm uma narrativa de fé e pedem que as mulheres não desistam, que orem pelos maridos, pelo casamento. Na minha opinião, o papel da igreja é proteger a vítima, estimular a denúncia e prestar apoio e solidariedade”, ressalta.

Outro ponto citado pelo pastor são as interpretações bíblicas de homens que estão nos espaços religiosos. Como exemplo, ele cita que a normalização da submissão. “Esse tipo de interpretação bíblica acaba deixando as mulheres à mercê da violência. Além disso, tem o fato de que algumas igrejas não aceitam a questão do divórcio e assim, reforçam para as mulheres a narrativa de que elas precisam ter fé que os maridos vão mudar”, completa.

SERVIÇO: Mais informações sobre o EIG pelo e-mail [email protected] ou fone (43) 9 8452-5771.

EIG LONDRINA

A coordenadora do EIG (Evangélicas pela Igualdade de Gênero) Londrina, Vanessa Carvalho Mello, também destaca que muitas limitações e dificuldades no enfrentamento da violência contra as mulheres estão vinculadas aos fundamentalismos religiosos. “Em cidades como Londrina, por exemplo, o fundamentalismo religioso é muito forte, mas sabemos que isso também está condicionado à situação política do País”, diz.

O coletivo EIG foi fundado em 2015 a partir de inquietações de teólogas e mulheres de fé, com o objetivo de abordar a religião a partir de uma perspectiva feminista, crítica e plural, dando voz, respaldo e assessoramento às mulheres que são oprimidas no ambiente religioso. Em Londrina, o movimento surgiu em 2019 e conta com 17 integrantes. O EIG Londrina atua em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e da Rede Municipal de Enfrentamento à Violência Doméstica, Familiar e Sexual contra as Mulheres.

ONDE BUSCAR AJUDA E DENUNCIAR

Em Londrina, a Secretaria da Mulher conta com o CAM (Centro de Atendimento à Mulher), que oferece atendimento psicossocial, orientação jurídica para todas as mulheres residentes no município acima de 18 anos, e abrigo para mulheres com iminente risco de morte ou grave ameaça decorrente de violência doméstica. Os serviços são totalmente gratuitos e sigilosos. Mais informações pelo fone: (43) 3378-0132.

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Denúncias de violência contra mulher podem ser feitas pelo 181 (Disque Denúncia); pelo 153 (Patrulha Maria da Penha da Guarda Municipal) ou na Delegacia da Mulher de Londrina, que fica na rua Alm. Barroso, 107. O telefone é (43) 3322-1633.

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