Familiares e amigos se despedem do médico José Eduardo de Siqueira
Cardiologista que morreu aos 82 anos no domingo (9) se destacou pela atuação acadêmica e pelo compromisso com a humanização da medicina
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Cardiologista que morreu aos 82 anos no domingo (9) se destacou pela atuação acadêmica e pelo compromisso com a humanização da medicina
Caroline Knup - Especial para a FOLHA

Foi sepultado no final da tarde de segunda-feira (10), no Cemitério Parque das Oliveiras, o corpo do médico cardiologista e bioeticista José Eduardo de Siqueira, que morreu no domingo (9), aos 82 anos. Autor de diversos livros e pesquisador de renome internacional, se destacou pela atuação acadêmica e pelo compromisso com a humanização da medicina.
Em 2014, Siqueira foi, inclusive, homenageado pela CML (Câmara Municipal de Londrina) com o título de Cidadão Honorário do município.
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Natural de São Paulo, José Eduardo de Siqueira nasceu em 10 de julho de 1942. Formou-se em medicina pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) em 1967.
O médico se especializou em literatura em 1975 e em cardiologia no ano seguinte. Adiante, obteve seu doutorado em Medicina e Ciências da Saúde pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) em 1974 e concluiu o mestrado em Bioética pela Universidade do Chile em 1998.
Humanização da medicina
Ao longo de sua carreira, Siqueira lecionou na UEL de 1970 a 2009, onde foi professor de Clínica Médica e Bioética. Também coordenou o curso de medicina e lecionou no mestrado em Bioética da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica) - Campus Londrina.
Seu legado na formação de profissionais da saúde é lembrado por colegas e ex-alunos com carinho e admiração.
Para a médica e professora Evelin Massae Ogatta Muraguchi, que teve a honra de substituí-lo na coordenação do curso de medicina da PUCPR, Siqueira era "o professor médico perfeito".
Maraguchi relembra as aulas de cardiologia que teve com o professor em 1982 e conta que "o doutor Siqueira nos recebia às sete horas da manhã ao lado do leito dos pacientes para discutir casos com respeito e empatia. Ensinava a escutar o coração dos pacientes com uma paciência infinita".
Mais tarde, ela foi convidada pelo professor para integrar a coordenação da PUCPR, consolidando sua trajetória na instituição. "Ele sempre dizia que o médico deve ter uma mão forte, da ciência, e uma mão delicada, do amor, para acolher o sofrimento", recorda.
Valores, crenças e dores
A médica ginecologista Silvia Helena dos Santos Gajardoni Farges, que foi aluna e colega de docência de Siqueira, destaca a erudição e a abordagem humanizada na relação médico-paciente de Siqueira.
"Ele nos ensinava que a medicina é uma alma tocando outra alma. Estimulava os alunos a enxergarem os pacientes como seres humanos, respeitando seus valores, crenças e dores", afirma.
Para Farges, sua maior contribuição à medicina foi a difusão da bioética no Brasil e a reflexão sobre os impactos dos avanços científicos na sociedade.
Contribuições acadêmicas
Siqueira atuou como editor de revistas científicas e foi presidente da AML (Associação Médica de Londrina) entre 1990 e 1992, além de presidir a Sociedade Brasileira de Bioética de 2005 a 2007.
Também participou do Conselho Nacional de Saúde, foi membro fundador do Instituto Palliare de Londrina e pioneiro do Conselho Municipal de Saúde de Londrina. Ele integrava, ainda, a Academia Paranaense de Medicina e a Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.
Seu trabalho foi reconhecido com inúmeros prêmios e títulos, entre eles o "Prêmio Léo Pessini - 2020" da Sociedade Brasileira de Bioética - Regional Paraná, e o título de "Pioneiro dos Cuidados Paliativos no Paraná - 2024" pela Câmara Técnica de Cuidados Paliativos do Conselho Regional de Medicina do Paraná.
AML
A presidente da AML (Associação Médica de Londrina), Rosana Ceribelli Nechar, também prestou as condolências aos familiares e amigos de Siqueira.
"Seu legado perdurará e será eternamente celebrado na comunidade médica e além. Reconhecido nacional e internacionalmente por suas notáveis contribuições nas áreas de cardiologia e bioética, dr. Siqueira dedicou sua vida à formação de gerações de profissionais de saúde, com uma trajetória repleta de realizações. Sua liderança na bioética cultivou em seus alunos uma herança de formação técnica, ética e humanística que é verdadeiramente imensurável. Sua dedicação à educação médica assegurou que suas lições e princípios perdurem através das práticas de seus alunos e colegas", ressaltou Nechar.

