Na rede pública, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe (influenza) foi adiantada e está, desde o início da semana, imunizando exclusivamente profissionais de saúde e pessoas acima de 60 anos. Enquanto isso, na rede privada, onde a vacina pode ser distribuída a perfis não contemplados nessa primeira fase da campanha, as clínicas em Londrina tiveram os primeiros estoques finalizados em poucos dias e os estabelecimentos que ainda possuem as doses estão aplicando estratégias para lidar com a alta demanda. O objetivo é eliminar o diagnóstico da gripe diante da pandemia do novo coronavírus.

Imagem ilustrativa da imagem Coronavírus acelera corrida por vacina na rede privada em Londrina
| Foto: Marcos Zanutto/15-05-2017

“A nossa demanda pela vacina contra a gripe gira em média de 150 doses ao dia em um ano normal, sem pandemia, sem infecção. Esse ano, nós fizemos em torno de 800 a 1000 doses ao dia. Nenhum sistema está preparado para esse aumento da demanda”, aponta Zenaide Leão, gerente de negócios da Unimed Londrina. Para evitar aglomeração, foi criado um sistema de distribuição de senhas e os clientes aguardavam do lado de fora, embaixo de uma tenda improvisada.

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A clínica de vacinas da rede recebeu quatro mil doses da tetravalente e elas acabaram em quatro dias. “Foi uma procura bem atípica, normalmente as campanhas de gripe demoram para decolar”, comenta. A situação não abrange apenas a questão do aumento da demanda, mas também a falta de estoque por parte das fornecedoras. Na porta, um cartaz avisa aos clientes que “em virtude da epidemia do coronavírus, as distribuidoras não conseguiram fazer a entrega da vacina da gripe.”

A expectativa é que mais doses cheguem em meados de abril, mas Leão já adianta que não virão a quantidade pedida. “Eu receberia 23 mil doses, mas vou receber um pouco mais da metade disso”, afirma.

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| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A situação se repete em outros estabelecimentos, na Clínica de Vacinas do Hospitalar as doses também acabaram. “Foi bem tumultuado esses últimos dias. Tivemos um aumento de 150% na procura e não deu nem para o começo”, comenta Wagner Araújo, gerente comercial do estabelecimento. “A gente até solicitou a compra, foi feito o pedido e a confirmação, porém, na hora do recebimento, a distribuidora não entregou”, explica.

Por conta disso, não se sabe ainda quando vai receber novas doses. “Não tem previsão, porque os nossos fornecedores não estão conseguindo entregar, nenhum deles tem agora”, afirma. Além da vacina da gripe, o gerente aponta que, naturalmente, as doses de vacinas para pneumonia também têm procura maior. Por conta da pandemia do novo coronavírus, as clínicas também estão se preparando para aumento da procura também por essa vacina.

Algumas clínicas que ainda possuem as doses estão organizando sistema para evitar aglomeração. É comum encontrar os clientes do lado de fora esperando serem chamados mesmo utilizando o sistema de agendamento. As doses nas clínicas particulares custam em média R$ 90.

PÚBLICA
Na rede pública do Paraná, alguns municípios já finalizaram as primeiras doses recebidas pelo MS (Ministério de Saúde). “É preciso esclarecer a população que, nesse momento, a vacinação não foi suspensa, foi interrompida”, afirma Vera Rita da Maia, chefe da divisão de vigilância do programa de imunização da Sesa (Secretaria do Estado de Saúde).

Ela explica que as vacinas serão fornecidas pelo MS em 14 remessas e que o Paraná já recebeu as duas primeiras, totalizando 50% das vacinas para a população dessa primeira fase, contemplando os idosos e profissionais de saúde, que somam ao todo 3,9 milhões de pessoas. “No início da campanha, o Paraná recebeu o quantitativo de 522 mil e distribuiu novamente 284 mil vacinas”, afirma. No total, foram 806 mil doses encaminhadas para as Regionais de Saúde e espera-se que a terceira remessa venha ainda essa semana com aproximadamente 300 mil novas doses.

Maia reforça que essa primeira fase da campanha é restrita aos idosos e profissionais de saúde e que devem ser seguidas as orientações das secretarias municipais de Saúde, pois cada uma definiu suas estratégias para evitar aglomeração. Ela explica também que terá imunização contra a influenza para todos e que o objetivo é vacinar prioritariamente esse primeiro grupo diante da pandemia do novo coronavírus, pois isso otimiza o diagnóstico da doença.

AGENDAMENTO

Na manhã desta quarta-feira (25) João Alves de Oliveira Junior, 26, aguardava o encaixe para imunizar a filha de cinco anos contra gripe em uma clínica de vacinas particular em Londrina. “Saiu o calendário básico de que ela teria direito só em maio e como está essa pandemia, a vacina contra a gripe poderia diferenciar bem, caso ocorresse alguma coisa, então nós decidimos imunizá-la”, afirma.

O advogado saiu em busca pela vacina e se deparou com a falta em um estabelecimento. “Encontrei em uma, mas pediram para aguardar e eles iriam ver se encaixavam ela. Estão pedindo para voltar em horários espaçados e aguardar em outro lugar que não seja na clínica, para evitar aglomeração.”

Para ele, a imunização é ainda mais importante diante do risco de contágio por Covid-19. “Vejo como importante para poder diferenciar bem uma gripe comum do coronavírus e também evitar de pegar uma gripe, não ter que ficar indo na rede básica de saúde, porque está bem tumultuado devido à pandemia”, esclarece.

ANTECIPAÇÃO

Claudinei Cesário da Silva, 43, buscou a clínica particular para imunizar a família toda: ele, esposa e dois filhos adolescentes. “Todo ano a gente toma a vacina, mas por conta da situação atual da doença, resolvemos antecipar, porque com gripe a gente fica com imunidade baixa e mais vulnerável, é mais por precaução”, afirma.

Ele ligou nas clínicas e descobriu que que as doses estavam em falta. Quando ligou para o estabelecimento que ainda continha as vacinas, se deparou com um atendimento diferente. “Ainda tinha, mas teríamos que agendar o horário. Eles estão atendendo do lado de fora e pedindo para ficar no carro ou afastado em algum lugar para evitar aglomeração. Está bem organizado até”, opina.

O operador de máquinas e a esposa não estão em quarentena e acreditam que essa é uma forma de se precaver. Acostumados a buscar a imunização anualmente, Silva compara o momento atual a situações anteriores. “Nunca vi faltar, sempre teve, tirando quando veio a H1N1, que também foi uma correria”, recorda. “Mas é a primeira vez que eu tive que ficar procurando e marcar horário”, acrescenta.

Sabendo que a vacina é contra a influenza e que o Covid-19 ainda não possui imunização, o operador de máquinas avisa que todo cuidado é pouco. Ele e a família tem adotado rotinas para evitar o contágio da doença. “Estamos desinfetando tudo, o sapato fica do lado de fora da casa, passamos pano com água sanitária, lavamos bem as mãos, passamos álcool em gel nos objetos, tomamos todo cuidado em casa.”