Ao passar por uma máquina, os resíduos de tecidos são desfibrados e se tornam matéria-prima para a confecção de inúmeros produtos para o mercado pet, a indústria moveleira, a construção civil, entre outros. E com a venda do material, as cooperativas de reciclagem poderão gerar uma renda extra mensal.

Essa é uma das propostas do BRT (Banco de Resíduos Têxteis), um sistema de logística reversa de resíduos têxteis industriais e pós-consumo. A inciativa é inédita no País e fruto de um projeto de pesquisa desenvolvido há 12 anos por dois professores do Departamento de Design, do Centro de Educação, Comunicação e Artes, da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Em junho deste ano, a FOLHA divulgou o projeto BRT, mas a inauguração oficial aconteceu no dia 19 de outubro, na Cooper Região (Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis e resíduos sólidos da Região Metropolitana de Londrina), localizada no Jardim Kaze, na região central. O evento reuniu professores do Departamento de Design, representantes da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), cooperados e estudantes de design de moda.

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| Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

A professora Suzana Barreto Martins explica que a máquina desfibriladora, comprada com recursos da Fiep via Sivepar (Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Vestuário do Paraná), foi cedida à Cooper Região em regime de comodato, por dois anos. Com capacidade para processar até 20 toneladas/mês, a estimativa dos pesquisadores é de que a renda mensal dos cooperados, que hoje é de aproximadamente um salário mínimo, possa ultrapassar dois salários mínimos com a produção em alta.

SEPARAÇÃO DE MATERIAIS

A Cooper Região possui 117 cooperados e duas mulheres foram treinadas para atuar no BRT fazendo a separação de materiais dos vestuários, como botões, zíperes e outros, de forma manual. “Já tem muita gente querendo comprar esses resíduos, em grandes quantidades. Estamos também prospectando negócios com empresas fora de Londrina. A gente tem feito todo um trabalho de prospecção de venda, que é o grande desafio”, diz a pesquisadora.

Por enquanto, a maior parte dos resíduos vem de oito empresas que apoiam o BRT e integram o Sivepar. Há também pontos de coleta em pontos estratégicos da cidade, onde qualquer pessoa pode fazer o descarte de tecidos, desde que estejam limpos.

O professor Cláudio Pereira de Sampaio comenta que o aumento de renda proveniente do BRT vai depender da quantidade de processamento da máquina e do material comercializado. O preço médio de venda deste tipo de material, segundo ele, é de R$ 5.

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| Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

“Digamos que a cooperativa venda 5 toneladas/mês. Esse valor já dá para manter o banco funcionando com as duas cooperadas e gerando renda até para outros. Seria mais ou menos R$ 25 mil de renda extra, o que paga a despesa de funcionamento de energia e manutenção da máquina e o salário das cooperadas”, afirma Sampaio. Se a produção chegar a 20 toneladas/mês, esse valor pode atingir R$ 100 mil.

Para uma das cooperadas, Rosana Borges, 45, o BRT traz grandes expectativas. “Com o meu trabalho aqui na cooperativa há 13 anos, sustento minha casa e meus quatro filhos. Fiz alguns treinamentos e vou trabalhar agora no Banco. Se a gente tiver essa renda extra, vai ajudar muito com as contas, mas além de agregar no salário, esse trabalho também diminui o impacto ambiental”, diz.

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| Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

SUSTENTABILIDADE

O sistema BRT surgiu com o projeto “Logística Reversa de Resíduos Têxteis Industriais e Pós Consumo: design aplicado a sistemas e serviços sustentáveis e modelos de negócios”, do Grupo de Pesquisa DeSIn (Design, Sustentabilidade e Inovação), da UEL. De acordo com Martins, o objetivo do Banco é dar a destinação correta para quase nove mil toneladas de resíduos de tecidos que são descartados anualmente no aterro sanitário de Londrina.

“Os aterros já representam um custo enorme para o município e quem paga por isso somos todos nós. Quando os resíduos de tecidos vão para os aterros, eles diminuem a vida útil desses locais porque entopem os dutos de chorume. O setor de vestuário, que compreende a moda em geral, ocupa hoje o segundo lugar em impacto ambiental no planeta”, destaca.

A pesquisadora lembra que foram mais de dez anos de pesquisa nessa área, tentando minimizar os impactos ambientais do setor de vestuário e têxtil. “E hoje, a satisfação desse trabalho é ter conseguido contemplar as três dimensões da sustentabilidade: a ambiental, com a redução dos impactos ambientais; a econômica porque é um modelo de negócio e de economia circular; e a social com a geração de renda e trabalho na cooperativa de reciclagem”, afirma.

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| Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

Para o professor Sampaio, o grande sonho é que o BRT seja replicado, tanto por pequenas ou grandes cooperativas. “Os estudos nos mostram que qualquer cidade acima de 50 mil habitantes poderia ter um banco desse, com um trabalho de coleta mínima que gera um faturamento”, comenta. Além disso, ele ressalta a importância do fomento tanto estadual quanto federal em relação à pesquisa, com bolsas de estudo de iniciação científica. “O BRT é um dos projetos do grupo de pesquisa DESIn (Design, Sustentabilidade e Inovação) e já tivemos o envolvimento de mais de 60 bolsistas”, pontua.

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| Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

PONTOS DE COLETA

Os pontos de coleta instalados na cidade estão no Shopping Catuaí, Shopping Aurora, UEL (Restaurante Universitário e corredores dos departamentos do Ceca e Cesa) e loja GMTex, no Shopping Boulevard. O BRT é uma parceria do grupo DeSIn com a cooperativa de materiais recicláveis Cooper Região e o Ninter (Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos). A iniciativa tem apoio do Sivepar e da Fiep.

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