O auxílio de cachorros no trabalho policial não é nenhuma novidade, mas há dois cães que se destacam há anos pela eficácia nas apreensões de drogas e armas de fogo da 2ª Companhia do BPRv (Batalhão de Polícia Rodoviária) do Paraná, que atua em Londrina e em toda região norte. Hórus e Árius, pai e filho, participaram, no ano passado, de operações policiais que recolheram mais de 250 kg em substâncias ilícitas e cerca de 123 mil maços de cigarros contrabandeados, resultando na prisão de 46 pessoas e duas apreensões de menores.

Hórus em uma apreensão de droga na PRE
Hórus em uma apreensão de droga na PRE | Foto: Divulgação - Polícia Rodoviária Estadual

Os cães são da raça pastor belga malinois e, quando não estão nas operações, ficam em um canil da corporação em Jacarezinho (Norte Pioneiro), sendo cuidados e treinados diariamente. Os animais são tão bons no serviço de faro que auxiliam na abordagem de 30 a 40 ônibus por noite no posto da PRE em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) e conseguem verificar um bagageiro em cerca de 30 segundos com o apoio de apenas três policiais. Sem eles, a estimativa é de que seriam necessários mais de 30 oficiais para fazer a mesma checagem em um período de tempo maior.

“Os cães são dotados de uma capacidade olfativa quase mil vezes maior que os seres humanos e, após o treino para detecção de entorpecentes e armas de fogo, eles conseguem desenvolver um trabalho muito mais minucioso e com uma exatidão muito maior que o ser humano”, afirma o soldado Graciano José dos Santos Júnior, condutor dos cães farejadores e cinófilo da 2ª Cia.

Uma outra vantagem do uso de cães nessa atividade é que são abertas apenas as malas identificadas pelos animais com a presença de substâncias suspeitas, justamente por causa dessa precisão, assim evitando o contato e manuseio de objetos pessoais dos passageiros.

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TREINAMENTO COMEÇA CEDO

Para alcançar essa eficácia, o treinamento começa com eles ainda filhotes, logo após o desmame e quando se completa o ciclo vacinal. No início, é feito um trabalho de ambientação e socialização aos locais e companheiros de trabalho, além das viaturas policiais em que os cães passarão parte do tempo em deslocamento durante as operações. Depois, é iniciado o treino de faro.

“O treinamento começa cedo, fazendo ele conhecer todo o local em que vai trabalhar, para que não se torne um cão assustado e se sinta à vontade nas operações, de forma que não se crie um estresse ao animal”, relata o soldado.

“Para eles, o serviço de faro é uma brincadeira, porque faço uma associação do odor das substâncias com uma bolinha de brinquedo e os cães vão atrás desse odor para receber a recompensa. Em muitas ocasiões, o cachorro que trabalha com a PM é muito mais feliz que o cão doméstico, porque ele brinca todo dia.”, complementa.

'MAIS TEMPO COM ELES'

É criado um vínculo entre oficiais e cães farejadores como se fosse de um pet normal e é necessário ser apaixonado por animais para trabalhar no canil da PM, já que eles requerem cuidado diário e constante. “A gente passa mais tempo com eles do que com nossa família, então se cria um vínculo amoroso muito grande. O cão fica ansioso para estar conosco e nós com eles também. Quem trabalha no canil, geralmente já tem uma paixão muito grande pelos animais, porque acaba abdicando de muitas coisas”, comenta Santos.

“Até em dias de folga tenho de ir ao canil para dar banho nos cães, treiná-los, passear com eles e verificar se tá tudo bem. Eles não ficam abandonados nenhum dia. Em operações, quando não podemos levar todos, um policial fica no canil cuidando deles”, acrescenta.

Hórus e seu condutor, o soldado Graciano na Ilha do Mel, na Operação Verão: uma relação de mais de sete anos entre os dois na PMPR.
Hórus e seu condutor, o soldado Graciano na Ilha do Mel, na Operação Verão: uma relação de mais de sete anos entre os dois na PMPR. | Foto: Divulgação - Polícia Rodoviária Estadual

APOSENTADORIA

Apesar de ser entendido como uma brincadeira, o trabalho de faro demanda um gasto muito grande de energia dos animais. Por isso, as normas da PMPR preveem um tempo máximo de serviço de oito anos para os cães farejadores. Após esse período, há todo um regimento a ser seguido para determinar a que lugar o cão aposentado irá.

Primeiro, o Estado teria que abrir um pregão para venda do cachorro. “Eles não são objetos a serem vendidos, mas como é um animal da administração pública, há um valor para o Estado e ele não pode dispor desse valor que o contribuinte pagou sem mais nem menos. Como o pregão acaba saindo mais caro que o valor da venda, vai para a segunda alternativa que é a doação”, esclarece o soldado Graciano.

Na doação, há uma sequência prioritária a ser seguida. O policial condutor do cão é quem tem a primeira opção para adotá-lo. Depois a ordem é: outro oficial do canil onde o animal viveu, alguém da PMPR, alguma outra instituição pública, algum servidor público e, por fim, é aberto para a população em geral. Antes da decisão final, é feita uma checagem se a pessoa que pretender adotar tem a possibilidade de manter as condições de vida que o cão teve na PM, que recebe rações e vacinas de qualidade providas pelo Estado.

'JÁ PREPAREI UM LUGAR NA MINHA CASA'

Árius tem dois anos e sete meses de serviço, enquanto seu pai Hórus está no sétimo ano e se encaminha para a aposentadoria. Black, um pastor alemão de um ano e nove meses, já está em treinamento com 2ª Companhia para auxiliar os policiais nas apreensões e o elenco não ficar desfalcado. “Como sou o primeiro na ordem da doação, eu digo que vou brigar com Deus e o mundo para ficar com os cachorros que treinei”, brinca o soldado. “É normal criar essa afeição, o Hórus mesmo está comigo desde os dois meses de vida, quando ainda estávamos no 2º BPM (Batalhão de Polícia Militar), e já preparei um lugar em minha casa para quando ele se aposentar”, conta.

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