“E Amâncio sentia necessidade de dar começo àquela existência que encontrara nas páginas de mil romances. Todo ele reclamava amores perigosos, segredos de alcova e loucuras de paixão”. Amâncio é o personagem principal do Casa de Pensão, romance naturalista escrito por Aluísio Azevedo, publicado em 1884. A obra foi debatida no podcast Clube de Leitura Vestibular UEL 2021/2022, da FOLHA.

Esta é a 9ª edição do podcast, que discute com especialistas as dez obras listadas para o Vestibular 2021, da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Nesta edição, Cláudia Bergamini, professora de teoria literária e literatura comparada da Universidade Federal do Acre, foi convidada para comentar a obra. Bergamini também foi professora de literatura brasileira em colégios de Londrina e possui livros publicados na área de literatura, dois deles, sobre obras de vestibulares da UEL.

Imagem ilustrativa da imagem Clube de Leitura da FOLHA debate Casa de Pensão, de Aluísio Azevedo
| Foto: Gustavo Carneiro

“Amâncio é o nosso personagem principal nesse livro narrado em terceira pessoa, um narrador observador, que está presente, conhece tudo que está acontecendo com os personagens. O Amâncio é um menino do Maranhão que vai morar na cidade grande e o pai morre, a exemplo do que acontece na vida de Aluísio”, comenta a professora. O autor também nasceu no Maranhão, vai para o Rio de Janeiro e volta à cidade natal após a morte do pai.

CASO REAL

Além dessa relação entre autor e personagem, outro fato chama atenção no romance. A obra tem como base um fato real que ocorreu no ano de 1876, no Rio de Janeiro, conhecido por Questão Capistrano. O caso foi muito discutido à época, com acompanhamento dos jornais e se tratava de dois amigos que se conheceram na faculdade.

A família de Antônio Alexandre Pereira tinha uma pensão na cidade e como o amigo, João Capistrano da Cunha, vinha do Paraná, a família acolheu o rapaz. Essa história termina em tragédia, após envolvimento do amigo com a irmã em um enredo que envolve cobiça, crueldade, vingança, covardia e violência. O pano de fundo para a ficção do romance naturalista de Aluísio Azevedo.

NATURALISMO

Casa de Pensão faz parte de uma trilogia naturalista do autor ao somar-se ao O Cortiço e O Mulato. “O naturalismo está preocupado em analisar biologicamente o homem, em analisar os vícios humanos, aquilo que é feio, a escatologia, aquilo que nos transforma em humanos viciosos, as patologias sociais vão aparecer em obras no caráter realista naturalista”, explica Bergamini.

Característica presente no livro exigido no Vestibular da UEL. “Nós vamos ter personagens que representam muito essa depravação do ser humano, essa decadência, angústia em enriquecer, então, são vícios que estão presentes no romance classificado como romance naturalista”, afirma.

CONTEXTO

A obra foi escrita no século XIX, período muito ligado à ciência e descobertas. “Eu costumo dizer que se nós pegarmos todas as grandes coisas que temos hoje, nós vamos entender que a maioria delas surgiu no século XIX. Telefone, energia elétrica, antibióticos, a ideia de rádio e ideia de avião, o século XIX é bastante interessante, com questionamentos de teorias. O tripé da sociologia, Durkhein, Weber e Marx, está ali no século XIX”, explica.

No podcast, a professora aponta de que forma esse momento está retratado na obra de Azevedo. “É o século da ciência e ciência precisa de comprovação. Os romances de tese são aqueles que partem de algo real que poderia ser comprovado na sociedade. O autor faz isso com O Cortiço a partir da pesquisa no cortiço carioca e com esse livro não é diferente. Ele parte dessa observação de um fato que é real”, afirma.

Folha de Londrina · Episódio #9 | Clube de Leitura Obras do Vestibular UEL 2021/22 "Casa de Pensão" de A. de Azevedo

CLUBE

O Clube de Leituras Vestibular UEL 2021/2022 é um projeto gratuito da FOLHA. Toda as análises das obras podem ser acessadas nas principais plataformas de áudio, como Spotify e SoundCloud. A proposta é que os leitores e ouvintes acompanhem as leituras conforme as publicações das edições.

Além do podcast, o Clube conta com um grupo de discussão no Telegram. A cada edição, um livro é sorteado entre os participantes. O acesso ao clube é gratuito, basta acessar pelo link: t.me/joinchat/QrI2OhxM3PXu7UOPknmceA

Obras debatidas no Clube de Leitura:

Agualusa, Jose Eduardo. O vendedor de passados. São Paulo: Tusquets, 2018.

Andrade, Mário de. Contos novos. Nova Fronteira, 2015.

Azevedo, Aluísio. Casa de pensão. São Paulo: Martin Claret, 2013.

Barreto, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Martin Claret, 2011.

Branco, Camilo Castelo. Amor de perdição. São Paulo: Melhoramentos, 2013.

Collin, Luci. A palavra algo. São Paulo: Iluminuras, 2016.

Guarnieri, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

Jesus, Carolina Maria de. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2019.

Matos, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

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| Foto: Folha Arte

Obras que serão debatidas no Clube de Leitura

Scliar, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. Porto Alegre: LPM editores, 2017.

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| Foto: Gustavo Carneiro

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