Um empresário de 45 anos foi preso em flagrante na segunda-feira (9) após denúncia de uma passageira de um ônibus interestadual que vinha de São Paulo a Londrina. Segundo a delegada plantonista da 10ª Subdivisão Policial de Londrina, Lívia Pini, essas casos são comuns e é importante que eles sejam denunciados para evitar situações de reincidência.

Delegada Lívia Pini
Delegada Lívia Pini | Foto: Roberto Custódio

"Muitas vezes eles não são notificados, seja porque ela é pressionada pelos demais passageiros por ficarem retidos no ônibus ou, às vezes, é desencorajada porque não fez a denúncia no momento em que o ato aconteceu. Nada disso procede, porque é algo muito sério e precisa ser levado à Justiça”, reforça.

De acordo com a lei 13.718/18, importunação sexual é crime e impede o arbitramento de fiança em sede policial. A pena pode variar entre um e cinco anos de prisão.

A delegada- adjunta da Delegacia da Mulher, Magna Marina Ferreira Hofstaettere, conta que foram registrados 32 casos de importunação sexual em Londrina em 2019. “Em janeiro deste ano registramos dois casos e em fevereiro foram mais cinco casos. As denúncias desse tipo vêm crescendo mês a mês”, destaca. Segundo ela, os motivos do aumento estão sendo investigados.

Delegada Magna  Hofstaettere
Delegada Magna Hofstaettere | Foto: Roberto Custódio

RELATO

No caso de segunda-feira, a estudante universitária relatou à polícia que o homem estava sentado no banco ao lado e teria colocado a mão nas suas partes íntimas, entre suas pernas. A jovem logo revidou e chamou o motorista. Um passageiro que estava no banco ao lado foi ouvido e teria testemunhado a cena. A Polícia Militar foi acionada e assim que o ônibus chegou à rodoviária de Londrina os passageiros foram retidos.

“O indivíduo foi identificado e levado à Central de Flagrantes da 10ªSDP, onde foi determinada a prisão por importunação sexual. Ele não tem antecedentes em Londrina, mas não se sabe se tem antecedentes no estado de São Paulo”, afirmou a delegada. O acusado alega inocência. "Ele falou que estava dormindo e que acordou quando a universitária estava tirando sua mão naquelas circunstâncias", disse Pini.

Segundo ela, a a vítima não conhecia o indivíduo. “O trajeto deles não foi igual e não existe indício ou justificativa para que ela estivesse inventando essa história. Nos crimes de natureza sexual a palavra da vítima tem um grande peso.”

O caso ocorreu em uma linha da Viação Garcia. A Polícia Civil irá solicitar à empresa de ônibus eventuais gravações do sistema de videomonitoramento. Em nota, a empresa afirma que "repudia qualquer tipo de assédio e violência contra qualquer passageiro, em especial às mulheres, e oferece ambientes cada vez mais seguros aos seus clientes, como por exemplo o Espaço Mulher. Informamos que a empresa ofereceu todo o suporte necessário à cliente".

PROTESTO

Antes da entrevista coletiva realizada na segunda-feira à tarde, na sede da Delegacia da Mulher, as policiais civis e estagiárias que atuam na unidade, no Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes) e na DCCO (Divisão de Combate à Corrupção) realizaram um protesto contra o feminicídio. Elas portavam faixas e cartazes com dizeres: “Violência contra a mulher: O silêncio é o maior aliado do agressor. Denuncie” e “Todos por elas.”

Policiais civis e estagiárias realizaram um protesto contra o feminicídio
Policiais civis e estagiárias realizaram um protesto contra o feminicídio | Foto: Roberto Custódio

NO TRANSPORTE COLETIVO

O chefe da segurança privada de todos os terminais de transporte coletivo de Londrina, Dejalma Antônio dos Santos, afirma que os casos de importunação sexual têm aumentado muito. “No ano passado era um caso a cada três meses. Este ano já mudou. Tivemos três casos em menos de um mês. Isso é devido também à própria divulgação pela mídia”, destaca. O último caso foi em fevereiro, quando um homem foi preso por importunar uma adolescente de 16 anos dentro do ônibus. Ele denunciou aos seguranças do terminal, que acionaram a PM. O homem de 24 anos foi preso em flagrante.

Dejalma Antônio dos Santos, chefe de segurança dos terminais de transporte
Dejalma Antônio dos Santos, chefe de segurança dos terminais de transporte | Foto: Roberto Custódio

'AS PESSOAS DESQUALIFICAM'

Uma estudante de 22 anos relatou à reportagem que é comum um homem se sentar ao seu lado no ônibus e se aproximar sem necessidade. “No ônibus cheio eles passam a mão na bunda da gente disfarçadamente. Já aconteceu comigo e com várias amigas minhas. Não cheguei a denunciar, porque as pessoas fazem pouco caso. Se a gente fizer escândalo muita gente vai reclamar que vai atrasar o ônibus e tem gente que não vai acreditar em mim”, justifica.

Uma assistente social de 25 anos relatou casos de homens perseguidores, que fingem que estão perguntando algo para tentar uma aproximação e descobrir seus dados, como local de trabalho. Ela também não denunciou. “As pessoas desqualificam muito a palavra da vítima se não apresentamos provas. Existe uma ameaça velada, de que pode acontecer algo com a gente.”

Terminal de transporte coletivo de Londrina
Terminal de transporte coletivo de Londrina | Foto: Roberto Custódio

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