Após apresentar queda nos números de casos de Covid-19, Londrina voltou a ter um crescimento considerável nas positivações da doença. Segundo o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, a pasta observou uma tendência de aumento de casos nas quatro últimas semanas. Levantamento feito pela reportagem mostra que o município chegou a ficar um período com menos de mil confirmações semanais. Entre os dias 2 e 8 de agosto, por exemplo, foram apenas 530 casos em sete dias.

Tendência de aumento das positivações foi verificada nas últimas quatro semanas
Tendência de aumento das positivações foi verificada nas últimas quatro semanas | Foto: Isaac Fontana - FramePhoto - Folhapress

Duas semanas depois este panorama mudou, passando, novamente, dos mil casos num intervalo de sete dias. Na última semana, de 30 de agosto a 5 de setembro, foram 1.645 positivações. “Iniciamos o mês de agosto de forma bastante tranquila em relação ao número de casos e índice de transmissibilidade. Talvez isso foi interpretado pelas pessoas de maneira equivocada, de que a pandemia poderia ter acabado naquele momento. É evidente que isso não aconteceu”, advertiu Machado.

REFLEXO NOS HOSPITAIS

O reflexo da aceleração da contaminação pelo vírus pode ser visto nos hospitais. No HZN (Hospital da Zona Norte), a quantidade de leitos Covid chegou a ser ampliada para 80 no início deste ano, mas foi reduzida pela metade com o baixo atendimento. Na quarta-feira (8), a ocupação estava perto de sua totalidade. “Passamos um momento de calmaria recentemente, com redução de menos da metade da ocupação. A demanda vem aumentando de uma semana para outra. Por enquanto está sob controle, com leitos todos ocupados, mas ‘giro’ rápido”, relatou Reilly Lopes, diretor da instituição. Ele não descartou a necessidade de nova ampliação de leitos.

A curva de infectados em ascendência acontece num momento em que a vacinação tem avançado para as faixas etárias mais jovens. Para muitas pessoas, estes indicadores podem parecer contraditórios, mas para especialistas não. Profissionais ligados à saúde apontam alguns fatores que podem atrapalhar no combate ao vírus e numa fase crucial: a falta de imunização completa da maior parte da população, aumento da circulação das pessoas com relaxamento dos cuidados e a variante Delta, que não é mais grave, no entanto, é mais transmissível. “Era muito comum, dentro de casa, uma pessoa pegar a doença e outra não. Com essa variante percebemos que se uma pessoa de casa pega, todos pegam também”, disse Lopes.

DOIS MIL MORTOS

Nesta semana, Londrina chegou as duas mil mortes pelo coronavírus. A cidade somou mil óbitos em decorrência da Covid em um ano e um mês de pandemia, entretanto, precisou de somente cinco meses para contabilizar mais mil vidas perdidas. “O primeiro ano da pandemia, principalmente os primeiros meses, foi o período em que tivemos o melhor processo de afastamento social. Isso fez com que a doença evoluísse de forma mais lenta. Vimos, a partir do final do ano passado, um forte relaxamento no processo de isolamento social. Hoje a cidade funciona e todo mundo se comporta como se não tivéssemos mais pandemia”, analisou o médico sanitarista Gilberto Martin.

Na visão da infectologista Claudia Carrilho, a velocidade na estatística de óbitos envolvendo a doença também foi reflexo da segunda onda da pandemia. “Seguimos a mesma curva que outros estados e agora observamos também uma redução no número de mortes. Na ocasião, quando tivemos um grande número de pacientes hospitalizados e de óbitos, havia um número menor de pessoas vacinadas. O ritmo de vacinação cresceu há uns dois meses e na segunda onda isso foi importante: muitos casos e óbitos e poucos vacinados”, pontuou.

Imagem ilustrativa da imagem Casos de Covid-19 voltam a crescer em Londrina
| Foto: Folha Arte

COMPORTAMENTO SOCIAL

Professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica), Gilberto Martin mostrou preocupação com a possibilidade de piora dos índices pandêmicos, mesmo com a vacinação. “Só não tem uma situação absolutamente caótica porque a vacinação tem avançado. Mesmo com a vacina, mesmo quem já teve a doença, as regras de profilaxia continuam prevalecendo: uso de máscara que cubra a boca e o nariz, álcool nas mãos o tempo inteiro, manter distância entre as pessoas e evitar aglomerar desnecessariamente. É muito cedo para fazer festas, encontros. A vacina está fazendo o papel dela, mas sozinha ela não resolve o nosso problema”, alertou.

Londrina tem apenas 32% de toda a população vacinada com as duas doses ou a dose única. O secretário de Saúde frisou que enquanto esse percentual não alcançar, no mínimo, 80%, os cenários da pandemia vão variar e a postura das pessoas será determinante. “Vamos transitar em cenários intermitentes, hora um pouco melhor, hora um pouco mais ‘apertado’. O fator preponderante nisso vai ser o comportamento social, como as pessoas vão reagir ao momento epidemiológico. Ao passo que a maior parte da população continuar se cuidando, buscando tomar a vacina e respeitando as orientações sanitárias, melhor será o cenário”, elencou o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado.

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POPULAÇÃO IDOSA

A população idosa – primeira a ser vacinada junto com os trabalhadores da saúde - continua sendo a principal vítima fatal da Covid-19. Nas últimas sete semanas, 68 pessoas abaixo dos 60 anos morreram pelo coronavírus em Londrina, ao passo que 106 a partir de 61 anos faleceram. Especialistas são unânimes em dizer que isso não coloca em xeque a eficácia das vacinas, mas tem a ver com a própria condição de saúde desses indivíduos em razão da idade.

Especialistas defendem a vacinação e apontam que óbitos de pessoas acima dos 60 anos estão relacionados às condições da idade
Especialistas defendem a vacinação e apontam que óbitos de pessoas acima dos 60 anos estão relacionados às condições da idade | Foto: Isaac Fontana - FramePhoto - Folhapress

“Todo nosso empenho é para salvar vidas. A pandemia, desde que iniciou, mostrou que seria altamente contagiosa e com índice de mortalidade. Na maioria das vezes a população idosa já é mais vulnerável, com várias doenças de base importante, em que qualquer internação prolongada acaba colocando, infelizmente, numa situação muito mais arriscada do que outras pessoas. Isso pode ser concluído com ineficiência da vacina e é ao contrário. Desde que começamos a vacinar idosos, observamos tendência grande de diminuição de mortes nessas faixas etárias vacinadas”, explicou Felippe Machado, secretário de Saúde.

Médica coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HU (Hospital Universitário) de Londrina, Claudia Carrilho lembra que a maioria dos idosos foi vacinada com a Coronavac, em que os estudos mostram uma eficácia em torno de 50% e com maior efetividade contra casos graves e internações. “Alguns estudos sugerem uma terceira dose quando se passaram seis meses do esquema completo. O que se sabe é que provavelmente a vacinação foi um importante diferencial por não termos um grande número de hospitalizações e óbitos nesta nova onda em decorrência da variante Delta. Não há dúvidas do impacto das vacinas no sistema de saúde.”

VÍTIMAS JOVENS

Apesar da população idosa ainda representar muitos registros, conforme foi sendo vacinada, casos e mortes foram “migrando” para outras faixas etárias. Antes, dificilmente um jovem aparecia nos boletins de óbitos divulgados pela prefeitura. Nesta semana, uma jovem de 22 anos faleceu. “Tomar vacina não significa que ficamos livres da doença. Significa que diminui bastante o risco de contrair o vírus, mas não fica isento, também não isenta quem já teve a doença de ter novamente. Ela protege e mesmo que a pessoa venha a ser contaminada, a probabilidade é alta de não evoluir para casos graves e, principalmente, óbitos”, afirmou o médico Gilberto Martin.

TERCEIRA DOSE

O Ministério da Saúde definiu a aplicação da terceira dose em idosos a partir de 15 de setembro, preferencialmente com doses da Pfizer. Em algumas cidades do Brasil a dose de reforço já começou a ser aplicada. “Sabemos que quanto mais vírus circulantes, seja por falta de cuidados, seja por não aderência à vacinação, facilita o surgimento de novas variantes e não sabemos como pode ser o comportamento de novas variantes. Então, neste momento, a estratégia é vacinar todos elegíveis com a vacina que tiver disponível e manter os cuidados, a fim de evitar casos graves. A vacina ainda é nossa maior proteção, independente de qual for”, defendeu Carrilho.

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