A Igreja Católica no Brasil deu início nesta Quarta-Feira de Cinzas (22) – quando também começa a Quaresma – à CF (Campanha da Fraternidade) de 2023, que neste ano tem como tema “Fraternidade e Fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”, versículo extraído do livro de Mateus na Bíblia. Na Arquidiocese de Londrina, uma missa durante a manhã na Catedral Metropolitana para centenas de fiéis marcou o lançamento oficial da CF.

A campanha é promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) há 39 anos. Será a terceira vez que a temática envolve o combate à fome e à insegurança alimentar. “A campanha nos convida para a missão e para nos sensibilizarmos, como sociedade e Igreja, para enfrentarmos o flagelo da fome, por meio de compromissos que transformem a realidade. Temos problemas estruturais que fazem com que esse problema continue”, destacou dom Geremias Steinmetz, arcebispo da Arquidiocese de Londrina, em entrevista coletiva à imprensa.

O chamado é para que as comunidades e paróquias possam colocar em prática ações que vão de encontro às diretrizes da campanha. “Temos muitos trabalhos na Igreja de pessoas que se dedicam exatamente a combater a fome, a levar comida. Mas isso também não impede que nós tenhamos um trabalho para que se possa lutar por outros direitos que ajudam a combater a fome. Por exemplo, temos em Londrina a questão da moradia e do trabalho”, pontuou.

Fiéis lotaram a Catedral para missa de Quarta-Feira de Cinzas e lançamento da CF 2023
Fiéis lotaram a Catedral para missa de Quarta-Feira de Cinzas e lançamento da CF 2023 | Foto: Pedro Marconi

Matéria da FOLHA do último dia 20 mostrou que, de acordo com a secretaria de Assistência Social, Londrina tem quase 60 mil pessoas que se encaixam no perfil de renda zero, ou seja, que sobrevivem somente com o dinheiro de auxílios sociais. “Em Londrina, produzimos em grãos 1,6 quilo por habitante. No Paraná são nove quilos e no Brasil quatro. Se temos pobreza não é porque não temos produção, mas porque temos um sistema que acumula e transforma grãos ou alimentos em mercadoria. O que é para abastecer e acumular na mão de poucos a riqueza”, alertou padre Dirceu Fumagalli, coordenador regional da Comissão Pastoral da Terra.

Estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Alimentar e Nutricional apontou que cerca de 33 milhões de pessoas no Brasil estão em situação de fome.

CHAMADO À RESPONSABILIDADE

Na parte teológica fomentada pela campanha, padre Rafael Solano ressaltou que o lema é baseado em um dos milagres narrados na Bíblia, em que Jesus multiplicou pães e peixes para uma multidão. “A Campanha da Fraternidade abre um chamado para a responsabilidade de não só irmos e agirmos, mas para concretizarmos ações em prol dos irmãos que passam fome. A Igreja como um todo toma consciência única quando olha para os irmãos necessitados e também para o redor, onde encontram os irmãos que estão ajudando”, elencou o vigário geral da arquidiocese e cura da Catedral.

Segundo o coordenador da Ação Evangelizadora da Arquidiocese de Londrina, os objetivos da CF vão de encontro às atitudes de jejum, oração e caridade demandadas no tempo quaresmal. “Têm pessoas que se abstêm de tantas coisas durante a Quaresma inteira, como refrigerante e doces. E esse dinheiro que a pessoa vai deixar de gastar tem que ir para os pobres. Isaías diz isso na Bíblia: qual o jejum que agrada a Deus? Socorrer o pobre e o necessitado”, afirmou padre Alexandre Alves Filho.

ORAÇÃO E PRÁTICA

Para os fiéis, as semanas que antecedem a Páscoa são de reflexão e de colocar as boas ações em prática. “A campanha é um grande chamado para todos os cristãos se preocuparem com o problema da fome. Mais do que isso, é para tentar mudar essa realidade, mesmo que com gestos simples. Temos que rezar por quem não tem o que comer, mas também fazer doações, colaborar com instituições de caridade”, relatou a aposentada Doralice Almeida, que foi à missa na Catedral, na quarta.

No dia dois de abril está programada a Coleta Nacional da Solidariedade. Do valor que for arrecado, 40% vai para o Fundo Nacional de Solidariedade, gerido pela CNBB, e 60% permanece na arquidiocese para atender projetos locais de combate à pobreza.

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