São 161 mil deslocamentos todos os dias com ônibus; segundo Ippul, não há influência dos aplicativos
São 161 mil deslocamentos todos os dias com ônibus; segundo Ippul, não há influência dos aplicativos | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha/21-10-2019

Iniciada em fevereiro deste ano, a pesquisa de origem e destino, parte fundamental do Plano de Mobilidade Urbana de Londrina, foi finalizada e os dados apresentados. Foram entrevistadas ao longo dos últimos meses 20.379 pessoas, sendo 13.779 em domicílios, em mais de 5 mil residências visitadas, seis mil cidadãos nas entradas e saídas da cidade, além de 600 ciclistas.

Nesta quinta-feira (24), um resumo do levantamento foi divulgado aos vereadores na Câmara Municipal por representantes do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) e Logit, contratada para fazer o plano. No sábado (26), a partir das 9h, os números serão apresentados de maneira mais ampla para toda a população. A audiência pública será realizada na sede do Sincoval (Sindicato do Comércio Varejista de Londrina), na rua Governador Parigot de Souza, próximo ao prédio do legislativo.

O resultado da pesquisa do plano, que está em sua segunda fase, mostra que as viagens em transporte individual representam 57% do total diário, as de transporte coletivo 19% e as não motorizadas 24%. Ou seja, de cada dez viagens em Londrina, somente duas são com ônibus. São 823 mil viagens ao dia, em que 196 mil são a pé (23%) ou bicicletas (1%). O restante, 627 mil (76%), são com veículos motorizados.

As classes sociais com maior renda são as que mais utilizam os carros e que fazem mais viagens, enquanto as de menor poder aquisitivo dependem dos ônibus e fazem percursos com menos frequência. A maior parte dos deslocamentos, 69%, são por motivo de trabalho e educação, em que o primeiro motivo representa 41% deste montante.

Segundo a diretora de Trânsito e Sistema Viário do Ippul, Denise Ziober, a taxa de pessoas que utilizam o transporte público coletivo é muito baixa. Londrina neste quesito está atrás de cidades do mesmo porte, como Joinville (SC) e São José dos Campos (SP). “Fizemos pesquisa com 1,5 mil usuários de ônibus para saber a opinião deles sobre a qualidade do sistema. Temos que avaliar e analisar estes dados para entender melhor suas demandas e alinhavar soluções”, destacou.

Com as viagens por aplicativos ou táxi somando apenas 2% do total de locomoções diárias, a especialista descartou que este tipo de transporte esteja influenciando de forma negativa no coletivo. “Não se confirma a hipótese de que os transportes por aplicativos são os grandes vilões dos ônibus”, frisou, reforçando a importância de existir o transporte coletivo. “Não podemos abrir mão. O transporte coletivo é garantir do direito de ir e vir da população, principalmente a que vive em regiões mais pobres.”

PROPOSTAS

A empresa encarregada pelo Plano de Mobilidade Urbana fará, entre janeiro e março de 2020, propostas para melhorias no centro da cidade e no transporte público coletivo. “Se o usuário não está buscando o ônibus, não posso simplesmente aumentar a frequência e colocar mais carros nas linhas, porque isto tem custo e nossa preocupação é não aumentar a tarifa. Se tiver que aumentar, perdemos usuários”, ponderou o gerente da Logit, Tiago Afonso Meira.

Na visão do responsável pelo plano, a realidade demonstrada pode ser uma oportunidade para otimizar o que se tem atualmente. “Como a cidade é de fácil acesso para se deslocar de automóvel, apesar de seus gargalos, quando a pessoa consegue um carro, opta por ele porque o trajeto é mais rápido. Conforme vai saindo gente do transporte tem que tirar ônibus da linha, reduzir frequência para ter custo adequado e acaba diminuindo para outras pessoas, o tempo de viagem fica mais longo e não atrai os usuários”, elencou.

INFRAESTRUTURA

A pesquisa de origem e destino ainda mostrou vários pontos de fluxo caótico pelo município, como em rotatórias, o que, de acordo com os envolvidos, leva à necessidade de se pensar outras intervenções, como substituição por semáforos. Em novembro está prevista uma audiência para apresentar prognósticos e propostas referentes à mobilidade urbana para os próximos 20 anos. A intenção é enviar o projeto de lei do plano para a Câmara de Vereadores ainda este ano.

Denise Ziober afirmou que o município poderá buscar recursos que serão gerados com o leilão do pré-sal para obras de infraestrutura se o plano de mobilidade for aprovado até 31 de dezembro. Entretanto, isto depende da aprovação do Plano Diretor. “Precisa avalizar a lei geral para conseguir aprovar o Plano de Mobilidade Urbana, já que ele altera uma das leis complementares, que a do sistema viário”, explicou. “Muitas rotatórias precisam ser retiradas, o plano cicloviário reajustado e a partir da necessidade da população. A lei não pode ser uma camisa de força e obrigar a executar determinada infraestrutura”, defendeu.

O Plano de Mobilidade Urbana foi contratado com recursos repassados pelo legislativo à prefeitura. Em 2017, lei de autoria da Mesa Executiva, à época, autorizou liberação de R$ 3,6 milhões do Fundo Especial da Câmara para custeio das despesas decorrentes da elaboração do documento.

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